Por Felipe Moreira
A combinação entre alta do dólar (na máxima desde o início de 2022) e o avanço do petróleo (na máxima em dois meses) gera novamente uma fonte de pressão para a Petrobras (PETR4), que vê os combustíveis praticados dentro do país se afastarem dos preços praticados internacionalmente.
Segundo relatório da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), em meio ao “combo dólar e petróleo”, a gasolina vendida nas refinarias do Brasil está em média 18% mais barata do que o preço praticado internacionalmente. A defasagem só não está maior uma vez que a Acelen, dona da refinaria de Mataripe (BA), exerce preços um pouco mais próximos da média internacional. Nas refinarias da Petrobras, a defasagem em relação à cotação da gasolina no exterior chega a 21%. Na média dos preços exercidos pela estatal, o valor está 19% inferior ao do mercado internacional.
O Itaú BBA comenta que todos os fatores internacionais de preços seguiram uma tendência de alta (o que chama de tempestade perfeita), resultando em um aumento nas referências de preços internacionais para gasolina e diesel e deixando os preços da gasolina da Petrobras 8% abaixo do limite inferior da faixa de preços vista por eles como em linha com a estratégia da estatal, enquanto os preços do diesel estão posicionados mais próximos das mínimas desta faixa.
Nesse contexto, os analistas do BBA acreditam que a estatal provavelmente aguardará mais tempo para ter uma visão mais clara do mercado internacional antes de fazer um ajuste de preço, a fim de evitar repassar a volatilidade dos preços internacionais para o consumidor doméstico.
“Além disso, considerando a perspectiva da execução da estratégia comercial, a Petrobras parece ter uma espécie de buffer (amortecedor) para usar nas próximas semanas, já que a empresa tem praticado preços aproximadamente no meio da faixa desde o início do ano”, comenta o BBA. O banco ainda ressalta que a empresa pode avaliar os parâmetros de sua estratégia comercial de maneira diferente das estimativas do BBA.
A Genial Investimentos avalia que os preços praticados nas refinarias da Petrobras estão com deságio de -18,2% na gasolina (- R$ 0,53 por litro) e de -8,7% no diesel (R$ 0,32 litro) versus a paridade de preços do mercado internacional, graças à forte alta do dólar.
Ainda por cima, segundo a casa de análise, os preços dos combustíveis nos polos internacionais também tiveram um significativo aumento, fazendo com que o diesel passasse de um ágio de 2,0% para um deságio próximo à 9% em duas semanas e a gasolina aprofundasse o deságio para a casa dos 158%.
A Genial avalia que essas semanas são uma amostra da volatilidade que esse mercado pode apresentar e da importância do papel que a Petrobras assume ao absorver essa volatilidade e atenuar o impacto nos preços nas bombas dos postos brasileiros.
A Petrobras, cabe lembrar, anunciou em maio de 2023 a sua nova política de preços de combustíveis, cravando o fim da política de paridade de importação. Os novos termos para reajustes geraram dúvidas no mercado, mas esses questionamentos foram ganhando mais ou menos peso conforme a estatal alterava os preços e se aproximava (ou não) dos valores internacionais. Como os termos para os reajustes são mais subjetivos com a nova política, qualquer período de defasagem maior dos preços dos combustíveis frente aos valores internacionais gera desconforto para o mercado.
Sinalizações da CEO
O Morgan Stanley fez sua primeira reunião com a nova CEO da Petrobras, Magda Chambriard, nesta semana e também trouxe indicações da executiva sobre como conduzirá a política de preços de combustíveis. Magda ressaltou que os preços de combustíveis seguirão a tendência internacional, assim como o “custo de oportunidade e participação de mercado”, com os preços reajustados caso necessário.
Entre outros temas, a gestão indicou que o seu foco permanecerá nos gastos em upstream (exploração e produção) e no aumento das atividades de exploração para substituir as reservas para o período após o pico do pré-sal em 2030–32. A aceleração do capex (investimento em capital) virá através do avanço da entrega de plataformas.
Enquanto isso, avaliou que as potenciais operações de fusão e aquisição precisam contribuir para a estratégia global da empresa. A política de dividendos vai se sustentar e não há intenção de reformar o estatuto social, com a empresa buscando lucros e isso apoiando o pagamento de dividendos. A sinalização foi também de que o relacionamento com o governo pode ser benéfico para a companhia, pois os diferentes braços da administração federal podem ajudar a empresa a implementar a sua estratégia.
Apesar da visão positiva após a conversa com a nova CEO, o Morgan Stanley manteve recomendação equivalente à neutra (equalweight, exposição em linha com a média do mercado) para os ativos da estatal, mesma recomendação de Itaú BBA e Genial.
Fonte: InfoMoney