Por Marcos Fantin e Cibelle Bouças
A falta de chuvas no Centro-Oeste pode atrasar o início do plantio de soja da safra 2024/25 nos Estados da região. Em Mato Grosso, o maior produtor da oleaginosa do país e onde a semeadura já pode ser iniciada a partir do dia 7 de setembro, a previsão é de dias secos e temperaturas elevadas neste mês.
A seca no Brasil Central é a pior desde 2010, e vários municípios não registram chuvas há mais de 100 dias. A estiagem, que atrapalha os trabalhos de campo, é também o gatilho para os focos de incêndio em várias cidades.
Como a previsão é de que as chuvas cheguem mais tarde, o plantio da soja também deve atrasar, segundo Ludmila Camparotto, agrometeorologista da Rural Clima. “Muitos produtores gostam de plantar em setembro, mas nem todas as regiões vão conseguir plantar no fim do mês ou início de outubro”.
Além do atraso esperado das chuvas, neste momento ainda de vazio sanitário nas lavouras, os solos estão secos, a umidade extremamente baixa e as temperaturas vão continuar elevadas, afirma o meteorologista Willians Bini. “Em 2023, muitos produtores tiveram de fazer o replantio por conta das altas temperaturas e pelo atraso do período úmido”, relembra.
Em Mato Grosso, o período de vazio sanitário vai até 6 de setembro, conforme previsto na Portaria nº 1.111 publicada pelo Ministério da Agricultura. O vazio é uma medida fitossanitária para o controle da ferrugem asiática da soja.
De acordo com a Rural Clima, em Patos de Minas (MG), não chove há cerca de 130 dias, em Rio Verde (GO), não há registros de chuva desde abril, e Sorriso (MT) contabiliza 127 dias de seca. “Não se falava em tamanha secura e baixa umidade do ar desde 2010, e os números são alarmantes”, afirma o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos.
Para a agricultura, o mais importante é a regularização das chuvas. Como a previsão da Rural Clima indica chuvas extremamente pontuais e irregulares durante setembro, a recomendação dos especialistas é de que o produtor não plante se houver um pequeno e isolado volume de precipitação.
“Temos um volume inexpressivo de chuva. Em alguns anos até ocorrem chuvas inesperadas nesse período seco, mas em 2024 não aconteceu”, afirmou à reportagem o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer.
Segundo ele, para o plantio, é necessário um volume inicial de chuva suficiente para repor a umidade do solo que garanta a germinação e o desenvolvimento inicial da soja. “Essa é a preocupação dos produtores no momento”.
Com a incerteza sobre as chuvas, Gauer evita prognósticos. Ele diz que “não há uma recomendação específica para os produtores” em relação à quantidade de chuvas, mas afirma que cerca de 80 milímetros acumulados seriam um volume confortável para os primeiros passos na lavoura.
Apesar de previsão de irregularidade nas chuvas preocupar num primeiro momento, Ludmila Camparotto não enxerga grandes problemas ao longo do ciclo da soja.
Ale Delara, sócio da Pine Agronegócios, tem avaliação semelhante. Para ele, um eventual atraso no plantio da soja não deve prejudicar o desenvolvimento das lavouras, “mas o deslocamento da janela para períodos mais à frente pode se refletir no momento da colheita, além de aumentar o risco climático” nas fases e que as plantações precisam de umidade e de temperaturas mais adequadas.
Mesmo com as previsões de chuvas irregulares neste mês, Maurício Buffon, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), diz que os indicativos são de clima mais favorável na safra 2024/25 do que foi na temporada passada. “Não sabemos exatamente como o clima vai se comportar. Há uma expectativa de que o clima será melhor. Mas a produção deve ficar limitada pelos baixos investimentos, devido à escassez de crédito”, afirmou Buffon.
O atraso nas chuvas, apontado em mapas meteorológicos, pode levar à postergação do plantio, diz o analista da Safras & Mercado, Luiz Fernando Roque, sobretudo em Mato Grosso e Paraná. Mas, ele acrescenta, “isso não quer dizer que haverá perda. Se o clima estiver seco nos primeiros 20 dias de setembro, não haverá grandes problemas, só um atraso no plantio. Mas se plantar e não chover na semana, a área que foi plantada pode ter de ser replantada”. Segundo ele, por enquanto, as perspectivas são de clima favorável para as regiões de lavouras entre outubro e janeiro.
A Safras & Mercado estima para a safra 2024/25 em todo o Brasil um aumento na área plantada de 1,9%, para 47,331 milhões de hectares. A produção está estimada em 171,542 milhões de toneladas, alta de 13,2%. Para o Mato Grosso, projeta alta de 0,6% na área plantada, para 12,58 milhões de hectares, e aumento de 12,3% na produção, para 43,56 milhões de toneladas.
Do ponto de vista de mercado, as incertezas em relação ao plantio podem abrir espaço para alguma recuperação das cotações na bolsa de Chicago, diz Daniele Siqueira, analista da AgRural. “Não porque essas eventuais dificuldades de plantio já representem um risco real de safra menor no Brasil, mas porque o mercado está muito vendido e em busca de gatilhos fundamentais que estimulem movimentos de realização de lucros”, afirma. (Colaborou Paulo Santos, de São Paulo)
Fonte: Globo Rural