
Por Denise Luna
Mais do que o setor de petróleo, o impacto da tarifa de 50% sobre a importação de produtos brasileiros, anunciada na quarta-feira, 9, pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode impactar os produtores de etanol, principalmente os do Nordeste do País, avalia o sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, colunista do Estadão.
“Se a tarifa afetar a exportação de petróleo, a gente direciona facilmente para outro lugar, e nosso principal mercado de petróleo é a China, não os Estados Unidos. Já o etanol vai sofrer mais, principalmente o etanol do Nordeste”, considerando a taxa para o etanol de milho, prevê.
Ressaltando que ainda é cedo para se avaliar a extensão exata das medidas anunciadas, Pires lembra que a carta enviada por Trump ao Brasil — com exceção das referências ao ex-presidente Jair Bolsonaro —, é a mesma enviada a outros países em prol da criação de uma nova ordem econômica mundial. A solução, avalia, é sentar para conversar, como fazem os outros países.
“Todo mundo está sentando para conversar, e o governo brasileiro precisa ter noção de que precisa sentar para negociar. Não a questão do Bolsonaro ser preso ou não. Negociar não é abrir mão da soberania nacional, é tentar uma redução da tarifa, uma acomodação”, explica. “Essa carta do Brasil tem conotação política, coisa que ele não fez com Japão e China”.
Pires disse não acreditar em retaliações por parte do governo brasileiro, “porque o Brasil não tem cacife econômico para isso”, e que desde a campanha de Trump o governo Lula “provoca” o governo Trump, que, por sua vez, é “maluco, imprevisível”, avalia.
“Lula tomou posse e nunca teve uma aproximação com o Trump, Lula disse que ia votar na Kamala (Harris, adversária de Trump na eleição de 2024), não pode fazer isso”, afirma. “Houve um distanciamento muito grande da diplomacia brasileira com a dos Estados Unidos”.
Como fica a Exxon na Margem Equatorial?
A taxação dos Estados Unidos ocorre cerca de um mês depois da volta da norte-americana Exxon aos leilões de áreas de petróleo e gás natural do governo brasileiro, em parceria com a Petrobras. O consórcio arrematou 10 blocos na bacia da Foz do rio Amazonas, na polêmica Margem Equatorial brasileira.
Pires não vê como a taxação possa afetar a empresa norte-americana no curto prazo, assim como a Chevron, que tem ativos no País, já que os investimentos do setor são de longo prazo.
“Não vejo interferência (da tarifa) no consórcio que a Petrobras fez com a Exxon, são investimentos de trinta anos… Vamos ter de esperar, mas, no primeiro momento, não seriam afetadas, a não ser que as coisas aumentem e ocorram retaliações maiores”, afirmou.
Fonte: MSN