Pedidos de recuperação judicial no agro devem seguir em alta em 2025

Rodrigo Gallegos, sócio da RGF — Foto: Vivian Koblinsky

Por Nayara Figueiredo

O ano que passou foi de alta nos pedidos de recuperação judicial por empresas do agronegócio, e não há sinais de trégua. A expectativa de especialistas é a de que o número continue crescendo neste ano. Ainda pesam sobre o setor as quedas nos preços das commodities agrícolas e da arroba bovina em 2024 e o aperto na concessão de crédito pelos bancos aos produtores rurais.

Dados do Monitor RGF da Recuperação Judicial no Brasil, desenvolvido pela consultoria RGF&Associados, mostram que 295 empresas do setor agropecuário estavam em recuperação judicial no quarto trimestre do ano passado, aumento de 38,49% em relação ao mesmo período do ano anterior. No comparativo com o terceiro trimestre de 2024, quando eram 264 companhias, também houve alta, de 11,74%.

Na passagem do terceiro para quarto trimestre do ano passado, 35 novas empresas entraram em recuperação judicial, enquanto apenas quatro companhias deixaram essa condição e retomaram a operação normal.

De acordo com o sócio da RGF, especialista em reestruturação, Rodrigo Gallegos, apesar de o setor agropecuário contar com grandes grupos empresariais, ainda existe uma parcela relevante formada por produtores menores ou grupos familiares com um nível menor de profissionalização na gestão.

“Eles estão espalhados pelo interior dos Estados e não têm uma estrutura profissionalizada de controle das empresas. Não têm muito conhecimento sobre as ferramentas financeiras e seguros que podem ser adotados em momentos mais críticos do mercado”, afirma.

Para ele, isso tem contribuído para o aumento dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio. Outro ponto é a necessidade de capital intensivo para cobrir os custos de produção de cada safra agrícola. O retorno sobre os investimentos também precisa esperar o intervalo entre o plantio e a colheita.

Assim, acrescenta, não há muita margem de manobra na hora de lidar com os impactos decorrentes das variações dos preços das commodities ou do risco de extremos climáticos. “Por isso, mesmo com o agro começando a voltar [preços das commodities agrícolas com valorização], ainda esperamos que o número de empresas em recuperação judicial aumente neste ano”, estima Gallegos.

Do ponto de vista setorial, 34% das empresas em recuperação judicial no quarto trimestre tinham o cultivo de soja como atividade principal. A criação de bovinos de corte vinha na sequência, com 20%, enquanto as companhias de cultivo de cana-de-açúcar eram 15%.

Apareceram também empresas de serviços de preparação de solo, cultivo e colheita — 5% delas — e companhias de milho — 4%. A divisão por setores é feita de acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) registrada como atividade econômica principal da empresa agropecuária.

Um dos casos mais emblemáticos de pedido de recuperação judicial em 2024 foi da distribuidora de insumos Agrogalaxy. A empresa sofreu com a queda das commodities, já que os produtores ficaram mais parcimoniosos nas compras. E outras do segmento de varejo de insumos devem engrossar a lista, afirma a consultora em reestruturação da RGF, Roberta Gonzaga. “Vemos o setor de comércio de adubos começando a aparecer com números mais expressivos”, observa.

Mas a expectativa de Gallegos, baseada em contatos com companhias do setor, é de que as companhias produtoras de grãos continuem representando a maior parte dos pedidos de recuperações judiciais em 2025.

Em relação aos Estados com maior incidência de recuperações judiciais no agro no quarto trimestre de 2024, Goiás liderava com 53 empresas, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 50. São Paulo contabilizava 47 companhias e Mato Grosso mais 46. Gallegos estima que a região Centro-Oeste tende a estar em destaque neste ano.

Nesse cenário, a oferta de crédito a produtores rurais por instituições financeiras segue afetada, visto que a onda de recuperações judiciais avança desde 2023. “Ouvimos essa preocupação dos bancos. Os que já estão mais acostumamos a lidar com o agro e sabem das instabilidades mantêm a oferta de recursos, mas os que não têm exposição tão grande ao agro sentiram sim esse medo por causa das recuperações judiciais”, afirma o especialista.

Diante disso, diz Gallegos, muitos produtores migram para os bancos mais tradicionais, e essa redução na concorrência eleva a taxa de juros. Entre as instituições mais tradicionais no financiamento do setor estão Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Fonte: Globo Rural