
Um dos setores mais afetados pelos ataques comerciais de Donald Trump, as usinas de cana-de-açúcar do Nordeste defendem o restabelecimento, de “forma diplomática”, do fluxo de negócios entre EUA e Brasil.
“As coisas têm de sair do plano intimidatório e ir para o plano racional”, afirmou Renato Cunha, presidente da Associação de Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (Novabio), que representa usinas de cana do Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Para ele, uma investigação sobre a tarifa que incide sobre o etanol importado dos EUA é “ilógica” e “descabida”.
As usinas do Nordeste já deverão ser afetadas pela sobretaxa de 50% prometida por Trump, uma vez que usufruem de uma cota — distribuída entre 39 países — isenta de tarifa para exportar açúcar aos EUA.
Agora, com o anúncio do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês) de que a tarifa aplicada pelo Brasil à importação de etanol será incluída na investigação sobre as práticas comerciais brasileiras, as usinas da região podem ser mais uma vez pressionadas, pois o Nordeste costuma ser o destino do etanol americano quando há janela de importação.
Para o dirigente, não faz sentido isentar as importações de etanol porque, quando isso ocorreu, o preço do etanol não caiu no Brasil. “Historicamente, esse álcool que chegava [dos EUA] nunca baixou o preço”, afirmou. De 2017 a 2022, o Brasil mantinha cotas de importação sem tarifa. Em 2022, todas as importações foram isentas, mas em 2023 as tarifas voltaram a ser aplicadas, dessa vez sem cotas, e estão agora em 18%.
Não é a primeira vez que Trump pressiona o Brasil sobre a importação de etanol. Apesar disso, Cunha disse que a prioridade agora é “restabelecer o fluxo” da venda de açúcar, diante da perspectiva mais imediata de tarifa de 50%.
Segundo ele, se as usinas do Nordeste ainda estavam conseguindo exportar açúcar aos EUA com a tarifa de 10% anunciada em fevereiro, a nova taxa de 50% —que ainda não se sabe se será acrescida aos 10% anteriores ou não — inviabiliza esse comércio.
A alternativa seria recorrer a outros importadores no mercado internacional, onde os preços estão nas mínimas em quatro anos e onde “não há comprador certo na época certa”, observou Cunha. Segundo ele, a vantagem da cota não é apenas o preço maior, mas a garantia firme de compra.
Diante da incerteza sobre o destino do açúcar nordestino, Cunha disse que o mercado interno pode ficar “abarrotado” do produto. “Isso seria um desarranjo e pode levar inclusive a uma desindustrialização”, afirmou.
Fonte: Globo Rural