Por Victor Arduin*
O Brasil se destacou na produção de petróleo nos últimos anos, alcançando a autossuficiência, ou seja, a capacidade de produzir quantidade suficiente para atender à demanda do seu mercado interno. Ainda, o excedente da sua produção tem contribuído para impulsionar a balança comercial brasileira, sendo que cerca de 25% do superavit registrado em 2023 vieram da comercialização de petróleo e derivados.
Contudo, é importante ressaltar que as refinarias brasileiras não foram projetadas para processar o tipo de petróleo extraído em território nacional, exigindo importações para alcançar o rendimento ideal na produção de produtos derivados do petróleo. Ademais, uma parte significa do diesel consumido no país é importado também, mantendo relativa dependência do país aos preços internacionais.
Logo, o dólar é um componente fundamental no custo energético brasileiro. Quando há uma desvalorização da moeda nacional, o custo de aquisição do petróleo importado e de produtos refinados do exterior aumenta. Nesse contexto, nosso foco hoje será discutir os impactos da desvalorização do real e como isso impactará o preço dos combustíveis no país.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) e da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), desde 2013, houve um aumento de 165% das exportações e queda de 59% das importações de petróleo.
Essa tendência tem beneficiado a economia brasileira, em que o aumento na produção de petróleo tem resultado em um impulso na balança comercial. Em 2023, por exemplo, o país registrou um superávit de US$ 99 bilhões, com US$ 25 bilhões provenientes da comercialização de petróleo e derivados.
Contudo, o Brasil ainda é dependente de importações e os preços internacionais influenciam os custos energéticos nacionais. Enquanto algumas commodities energéticas não tiveram um aumento expressivo na comparação anual, como o petróleo, que está cerca de 3% mais caro, outras, como diesel e gasolina, tiveram uma queda superior a 11%. No entanto, o dólar cresceu mais de 17% no mesmo período, sendo o principal fator para o aumento dos custos de importação do país observados nas últimas semanas.
Cada vez mais pressionada pelo cenário doméstico e internacional, a Petrobras precisou realizar o primeiro aumento no preço da gasolina desde 16 de agosto de 2023 (reajuste de R$ 0,20 por litro), que passou a ser, em média, de R$ 3,01 para distribuidoras.
Conforme previsão da Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos (EIA, na sigla em inglês), o barril de petróleo deverá subir de uma média de US$ 82,00 para uma média de US$ 89,00 por barril na segunda metade do ano. O possível aumento no preço do barril de petróleo deverá contribuir para a melhora no saldo da balança comercial brasileira para 2024, um fundamento baixista para o dólar.
Contudo, isso adicionará ainda mais pressão sobre os combustíveis que continuam defasados conforme dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) em R$ 0,23 (-7%) para gasolina e R$ 0,32 (-8%) para óleo diesel para cada litro de produto.
Além disso, o dólar está sendo fortemente impulsionado pelos riscos fiscais que o país tem apresentado. A dívida pública bruta alcançou 76,8% do PIB em maio e o risco-país (Credit Default Swap de cinco anos) aumentou mais de 16% desde o início do ano.
A Petrobras, que detém quase toda produção de produtos refinados do país, em sua nova estratégia comercial, busca minimizar o repasse dos custos do petróleo e seus derivados. No entanto, novos ajustes podem ser inevitáveis, em um contexto em que os dois principais fatores que pressionam os preços apresentam tendência de alta.
*Analista de energia e macroeconomia da Hedgepoint Global Markets.
Fonte: NovaCana