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Por Rafael Walendorff
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou nesta terça-feira (18/2) que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deverá se reunir dentro dos próximos 60 dias para reavaliar a retomada do cronograma de aumento da mistura do biodiesel ao diesel fóssil, de 14% para 15%.
Segundo o ministro, a interrupção do aumento da mistura, programada para entrar em vigor 1º de março, foi necessária para aguardar uma acomodação maior nos preços do biocombustível e do óleo de soja no mercado.
O ministro bateu na mesma tecla que a indústria do biodiesel e disse que o aumento nos preços do óleo de soja não foi ocasionado pela elevação da mistura do biocombustível, mas sim pela quebra da safra em 2024 por conta da seca e pelo efeito do dólar. Segundo ele, a redução da colheita ocorreu simultaneamente aos estímulos ao biodiesel no ano passado e gerou um “descasamento entre o excedente de óleo que se tornaria produção de biodiesel e o óleo na gôndola do supermercado”, impactando nos em elevação do preço do óleo de cozinha.
Questionado por que essa avaliação não prevaleceu dentro do governo, Fávaro disse que, apesar do recuo nas cotações no início do ano, é preciso aguardar uma acomodação maior dos índices.
“Tem que deixar as coisas acontecerem de fato. Se aumentar a mistura no momento que a indústria planeja suas compras de matéria-prima, se já tem que comprar 1% a mais para biodiesel, ela quebra ciclo de retração de preços, porque aquece comprando mais óleo. Se faz necessário ter cautela para deixar as coisas se acomodarem, e aí subir para B15 (teor de 15%) talvez dentro de 60 dias”, disse Fávaro a jornalistas.
“A expectativa é que sim [haja chancela dos 15% na próxima reunião do CNPE]. Com os preços se acomodando, com aumento da safra, temos que ter políticas de estímulo à indústria brasileira. Se não esmagar para ter óleo e fazer biodiesel, vai exportar grão, soja in natura, e aí é desindustrializar”, completou.
Na avaliação de Fávaro, a prioridade deve ser o “ser humano”, ao mencionar o aumento dos preços do combustível e do óleo de cozinha, e disse que essa também é uma preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“O preço do óleo já começou a cair com o início da safra, mas temos que fazer as coisas com prudência, com cautela”, disse. “É um adiamento para dar tempo de ter mais óleo no mercado, para não concorrer com o óleo do supermercado”, completou.
“Revolta” no setor produtivo
A decisão do CNPE gerou revolta no setor produtivo. Fávaro se reuniu com representantes das três principais entidades do setor. Ele também disse que será realizada um encontro entre produtores do biocombustível e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima semana. No encontro, as usinas devem reforçar que a safra de soja crescerá em 2025, com cerca de 18 milhões de toneladas mais que no ano passado, e que o volume de óleo disponível vai aumentar.
“A decisão do governo é importante para a retomada da previsibilidade e a segurança que foram estabelecidas. Essa fala do ministro, de nos próximos 60 dias ter outra reunião, é importante porque o setor se preparou para o B15 e precisamos dessa retomada. Essa é a confiança que o setor tem no crescimento da mistura do biodiesel que foi amplamente discutida na Lei do Combustível do Futuro”, afirmou Donizeti Tokarski, superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), após reunião com o ministro.
A jornalistas, Fávaro repetiu que o governo tem compromisso com a energia renovável e com os biocombustíveis, e que “desestímulo” ao setor ocorreu na gestão passada, quando houve cortes na mistura para 10%.
Fonte: Globo Rural