Cautelosos, produtores reduzem investimentos e tornam cenário mais difícil para reajuste dos insumos em 2024, diz o CEO da Vittia
Por Tatiana Freitas
Com o primeiro trimestre de 2024 caminhando para o final, a Vittia, indústria pioneira na produção de bioinsumos no Brasil, vê o ajuste no agro ainda longe do fim. O CEO e fundador da empresa, Wilson Romanini, diz que os preços dos insumos biológicos devem continuar caindo, espremendo as margens da companhia.
“A luz no final do túnel ainda não apareceu”, afirmou Romanini a analistas e investidores nesta sexta-feira. “A queda de preço vai continuar”.
Com a desvalorização dos grãos, os produtores estão mais cautelosos, menos propensos ao risco e cortando investimentos, comprando o estritamente necessário para o plantio e tratamento das lavouras. Ainda assim, a Vittia conseguiu aumentar o volume de vendas de biológicos em 15% no ano passado, mas os preços mais baixos limitaram o aumento da receita, que ficou em 10%. A margem bruta das vendas de produtos biológicos caiu 6 pontos percentuais em 2023, para 72%, pois houve um aumento de despesas.
Além da conjuntura menos favorável à aceleração do processo para a adoção de biológicos, Romanini também mencionou alguns impactos do maior número de fornecedores nesse mercado. “As tecnologias existentes começaram a entrar num processo de comoditização”, afirmou.
Por isso, a Vittia continua trabalhando de forma intensa em pesquisa e desenvolvimento para conseguir apresentar novas tecnologias, disse o CEO. Segundo ele, a empresa este ano “provavelmente terá uma boa novidade” que resultará em margens maiores, mas não entrou em detalhes.
Peneira no mercado
Especificamente no segmento de inoculantes, Romanini afirmou que os preços parecem ter atingido um patamar mínimo, o que deve desestimular a entrada de novos players. “Certamente veremos menos entrantes como vinha acontecendo”.
O empresário voltou a a euforia vista recentemente no setor. “Tinha muita gente apostando que isso seria a bala de prata, mas não existe bala de prata. Vivemos bons períodos, vamos viver bons períodos, mas a demanda está retraída e temos uma boa oferta no mercado. Então vai ter queda de preço e de margem”, disse. Durante a call de resultados do quarto trimestre, Romanini defendeu que a Vittia está preparada para enfrentar o cenário adverso e mais competitivo, com baixa alavancagem. “Temos indústria e sabemos produzir a um bom preço”. Questionado pelos analistas sobre planos para reduzir as despesas em 2024, o CEO e o CFO, Alexandre Frizzo, afirmaram que a meta de gastos será muito parecida com o reportado em 2023, com pouco espaço para mais cortes.
“Não podemos desestruturar a companhia. Temos uma situação financeira confortável para manter o nosso projeto. Sabemos que o mercado vai voltar, só ainda não temos clareza sobre quando isso vai acontecer”, defendeu Frizzo.
Inadimplência e RJs
A Vittia também diz estar tranquila em relação à saúde financeira de seus clientes. Até o momento, a empresa não teve casos de inadimplência e de pedidos de recuperação judicial em sua carteira. Apesar de o período mais concentrado de recebimentos ainda não ter chegado ao final —no caso da Vittia, ainda há contas vencendo em 30 de abril e de maio—, a empresa não espera muitas surpresas.
“A nossa visão é de que não teremos algo muito intenso. Existe um ajuste (no agro), mas não vemos isso como um problema sistêmico como alguns colocam como hipótese”, disse Frizzo.
Balanço
A Vittia apresentou uma queda de 11% na receita líquida em 2023, para R$ 756 milhões, e de 35% no Ebitda ajustado, que ficou em R$ 176 milhões. A margem Ebitda consolidada e ajustada recuou 7 pontos percentuais, para 18,7%. O lucro líquido foi 34% menor e atingiu R$ 97,3 milhões. A dívida líquida caiu 40% no ano passado, levando a uma redução na alavancagem para 0,68 vez mesmo com a retração no Ebitda.
A Vittia está avaliada em R$ 1 bilhão na B3. Em um ano, suas ações apresentam queda de 3%. Em fevereiro, a empresa anunciou um programa de recompra de ações que representam cerca de 9% dos papéis em circulação. Do limite aprovado, já 6% foram adquiridos.
“Não gostaríamos de fazer recompra. Mas a partir do momento em que enxergamos boas oportunidades para o acionista, faremos com cautela”, disse Frizzo. Fusões e aquisições continuam no radar da companhia, acrescentou.
Fonte: TheAgribiz