Usina Santa Terezinha define prioridades para vida pós-recuperação judicial

Foto: Fernanda Pressinott

Por Camila Souza Ramos

Depois de sair de um processo recuperação judicial que se estendeu por cinco anos, a Usina Santa Terezinha, a maior empresa sucroalcooleira do Paraná, espera ter condições melhores para acessar financiamentos. A companhia planeja investir na renovação de seus maquinários e plantações de cana-de-açúcar, além de melhorar sua estratégia comercial.

A empresa entrou em recuperação judicial em 2019 com uma dívida de R$ 4,6 bilhões. Na negociação com os credores, a Santa Terezinha conseguiu um deságio — ela não revelou o montante — sobre o total de seus passivos e manteve a participação majoritária nas empresas CPA Trading, de comercialização de etanol, e no terminal da Paraná Operações Portuárias (Pasa) no porto de Paranaguá.

Agora, a companhia tem uma dívida de US$ 390 milhões (o equivalente a R$ 2,8 bilhões) e um índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, o Ebitda) de 1,4 vez, segundo Orlando Mansur Pereira, diretor financeiro e comercial da companhia. Ele citou os dados do encerramento da safra 2023/24, que ainda não foram auditados.

Safra de cana excepcional

Colaborou para a recuperação financeira da Usina Santa Terezinha a excepcional safra de cana que todo o segmento teve na última temporada. Graças ao bom desempenho no campo, a empresa moeu 11,5 milhões de toneladas de cana e faturou US$ 550 milhões, afirma Pereira.

Na safra anterior (2022/23), a moagem foi de 9,5 milhões de toneladas. O volume, o menor da história da empresa, refletiu, em grande medida, os problemas climáticos dos anos anteriores, como a seca e as geadas de 2021.

Mas a direção da companhia ainda vê espaço para melhorar a produtividade. O rendimento da cana-de-açúcar nas lavouras na última safra foi de 54 toneladas por hectare, mas Paulo Meneghetti, presidente da empresa, acredita que é possível que a Santa Terezinha volte a processar 70 toneladas por hectare e mais de 16 milhões de toneladas por safra.

Renovação de canaviais

Para isso, a companhia quer reforçar seus investimentos em renovação dos canaviais para reduzir a idade média das plantas e, com isso, elevar a produtividade. Se o plano correr bem, Meneghetti acredita que haverá cana suficiente para reativar as usinas de Moreira Sales e Umuarama, ambas no Paraná, que estão fora de operação há anos.

Nas últimas quatro temporadas, mesmo em recuperação judicial, a companhia investiu R$ 500 milhões por safra para fazer o plantio de renovação de seus canaviais. A meta é renovar 46 mil hectares todo ano — a área total de colheita é de 200 mil hectares.

A companhia também tem agora um laboratório de produção de mudas de cana pré-brotadas, onde o controle sanitário das mudas é maior, o que está evitando doenças nas lavouras, segundo Meneghetti. “As canas de primeiro e segundo cortes têm tido produtividade maior ano a ano”, disse. Em 2024, o laboratório deverá produzir 14 milhões de mudas.

O executivo acredita que, a depender do resultado do plantio deste ano, já será possível reativar a unidade de Moreira Sales em 2025. Já a retomada das operações na usina de Umuarama deverá ficar para 2028 ou 2029.

Crédito mais favorável

Fora da recuperação judicial, a usina espera acessar linhas de financiamento mais favoráveis, que permitam a ela fazer também outros investimentos, como renovação de maquinário e frota. “Precisamos ampliar a frota, aumentar a disponibilidade e diminuir sua idade média”, afirma Pereira.

Segundo ele, também devem melhorar as condições para operações de hedge de câmbio para as exportações de açúcar. Nos últimos anos, a companhia vinha fazendo apenas o hedge das exportações de açúcar em reais e diretamente com tradings, sem operações bancárias de hedge cambial. Hoje, 70% da produção de açúcar da companhia prevista para esta safra está com preço fixado de R$ 2.600 a tonelada, em média.

Como os preços do mercado de etanol ainda estão baixos, a usina deverá aumentar sua produção de açúcar nesta safra, que pode chegar a 76% do total de sacarose que a empresa vai obter da moagem da cana. Segundo Meneghetti, a forte capacidade da Santa Terezinha de virar as usinas para a produção de açúcar vem oferecendo vantagem à companhia, já que os preços da commodity estão em alta há pelo menos três anos. A usina espera repetir na safra 2024/25 a moagem que registrou no ciclo passado — na média do Centro-Sul as usinas projetam diminuição da colheita.

Fonte: Globo Rural