
contra outros países – Foto: Brendan Smialowski
Com as incertezas globais em consequência da política de tarifas adotada pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, e as altas taxas de juros no Brasil, novos investimentos no setor de bioenergia devem aguardar um momento de maior estabilidade e previsibilidade. Essa foi uma das conclusões da apresentação do CEO da SCA Brasil, Martinho Seiiti Ono, a um grupo de executivos e investidores do banco JP Morgan no Brasil, realizada na última terça-feira (08/04).
“As tarifas podem afetar a importação de etanol e gerar uma série de consequências econômicas, destacando a necessidade de estratégias adaptativas para lidar com essas mudanças no cenário global”, explicou Ono em relação aos reflexos observados mundialmente desde o chamado “Liberation Day”, quando as tarifas começaram a ser introduzidas.
Entre outros objetivos, as análises do executivo da SCA Brasil fazem projeções sobre cenários econômicos voláteis e permitem que investidores se preparem para possíveis flutuações no mercado. Para o Brasil, a principal dúvida envolve possíveis alterações na demanda por etanol nos EUA e eventuais reflexos do tarifaço para o mercado brasileiro.
Cotação do petróleo
A queda brusca do preço do petróleo e da gasolina no mercado internacional foi outro ponto de interesse do encontro. Ono destacou que a queda representa uma defasagem que abre a possibilidade de uma redução nos preços praticados pela Petrobras.
“Essa tendência pode impactar negativamente os preços da gasolina e, consequentemente, do etanol. No entanto, do lado da demanda, encerramos a safra de cana com preços favoráveis para o etanol, abaixo de 70% da paridade em estados produtores como São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Minas e Paraná” explicou Ono, lembrando que isso resultou em uma demanda robusta, um ponto positivo.
Para as exportações brasileiras para os EUA, a tarifa imposta pelos americanos causou um aumento de 10% na tributação, que passou de 2,5% para 12,5%. No sentido inverso, Ono lembrou que a tarifa de 18% sobre o etanol importado dos EUA é do Mercosul, não do Brasil.
“O etanol brasileiro exportado para a Califórnia é melhor em termos de sustentabilidade se comparado ao etanol de milho importado dos EUA”, ressaltou. O risco, segundo Ono, está em uma possível redução dessa tarifa sobre o etanol de milho importado, o que poderia facilitar a entrada do etanol americano no Brasil, tornando-o mais competitivo frente ao produto nacional.
Oportunidades
As tensões comerciais iniciadas a partir das mudanças anunciadas por Trump podem abrir novas oportunidades para o Brasil, especialmente em exportações para a Ásia e Europa. Com tarifas impostas aos produtos americanos, o etanol brasileiro, com tarifas menores, pode se tornar mais atrativo nesses mercados.
“Essa situação pode expandir nosso mercado, substituindo o suprimento americano por importações brasileiras, aproveitando acordos de livre comércio existentes e fortalecendo nossa posição global”, afirmou Ono.
Safra 2024-2025 de cana
O executivo da SCA Brasil lembrou que a safra recém encerrada de cana atingiu 620 milhões de toneladas, acima das projeções para a próxima safra, a 2025-2026, que deve ficar entre 590 e 600 milhões de toneladas. Ele citou três fatores que explicam a redução: a quase ausência de cana bisada, em contraste com 20 milhões de toneladas na safra anterior; áreas queimadas sem recuperação adequada, reduzindo a colheita; e a baixa renovação de canaviais devido à estiagem, adiando a colheita para a próxima safra. “Esses elementos indicam uma área de colheita menor na safra 2025-2026 e uma redução no total da moagem”, completou.
A aprovação da mistura de 30% de etanol na gasolina (E30) pode expandir o mercado em até 1,3 bilhão de litros adicionais de etanol por ano, caso o Conselho Nacional do Petróleo (CNP) e a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) acelerem a adoção da nova mistura.
“Também abordamos a monofasia do imposto federal, que entra em vigor em maio, e deve reduzir vendas informais dos chamados “barrigas”, que sonegam impostos, canalizando para um sistema de vendas mais tributado, melhorando a arrecadação fiscal”, destacou Ono. Além disso, se a Petrobras reduzir os preços em relação à paridade internacional, o spread entre açúcar e etanol pode aumentar de 400 para 700 a 800 pontos, refletindo mudanças nos preços da gasolina no Brasil.
O impacto do alto preço do milho na oferta de etanol também foi alvo de questionamento dos investidores. ”A combinação de milho caro e gasolina barata pode apertar as margens do etanol de milho. No entanto, usinas totalmente integradas, com compromissos contratuais fortes em DDG (Dried Distillers Grains, na sigla em inglês) e logística, não devem sofrer tanto. A venda de milho em detrimento do etanol parece improvável”, concluiu.