
Por Patricia Raposo
O presidente do Sindaçúcar-PE e da NovaBio, Renato Cunha, classificou como grave a decisão do governo norte-americano de impor uma tarifa de 50% sobre o açúcar importado, medida anunciada nesta terça-feira (30) por Donald Trump. A medida atinge diretamente a cota brasileira, com impactos severos na economia do Norte e Nordeste.
Segundo Cunha, a nova alíquota representa uma quebra de previsibilidade num comércio tradicionalmente regido por regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). “Essa cota é amparada por lei brasileira desde 1996 e distribuída pelo Ministério da Agricultura entre os produtores do Norte e Nordeste. Representa mais de R$ 1 bilhão de faturamento para a região”, afirmou. O Brasil exporta cerca de 150 mil toneladas de açúcar dentro da cota, que pode chegar a 220 mil toneladas quando outros países não conseguem cumprir seus compromissos. Atualmente, 39 países participam dessa divisão.
O impacto da tarifa é direto: até 2023, o imposto era zero. Em abril de 2024 subiu para 10%, e agora chega a 50%. Fora da cota, a tarifa pode chegar a 90%, o que praticamente inviabiliza as exportações. “Essa cota tem liquidez e é valorizada no mercado. Com o novo imposto, o modelo de negócios fica comprometido e desestimula os embarques, que tradicionalmente ocorrem pelo Terminal Açucareiro de Recife”, explicou.
Cunha destacou ainda que a produção do Nordeste supera 3,8 milhões de toneladas de açúcar por safra, sendo a cota apenas uma fração simbólica, mas estratégica. “Ela assegura emprego e renda em mais de 250 municípios e gera até 260 mil postos de trabalho. Não é só economia, é estabilidade social.”
A medida dos EUA foi classificada como política e sem justificativas técnicas. “Faltou consideração. Não houve negociação. Pegou todos de surpresa. Até o parlamento americano reconhece que não se tratou de uma questão comercial”, afirmou Cunha, que acompanhou a missão de senadores brasileiros a Washington na tentativa de reverter a decisão.
Os senadores brasileiros, com apoio técnico da NovaBio, se reuniram com oito parlamentares norte-americanos, inclusive republicanos, para defender a suspensão ou flexibilização da medida. Mas o anúncio oficial manteve o tarifaço, que entra em vigor na próxima semana.
Cunha disse que agora o setor vai analisar o cenário e finalizou alertando para os efeitos econômicos e geopolíticos. “Os Estados Unidos não são autossuficientes em açúcar. Precisam importar pelo menos 1,5 milhão de toneladas. Vamos ver como vão recompor seus estoques. E, se foi uma decisão emergencial, esperamos que seja revista o quanto antes.”
Fonte: Movimento Econômico