Remax e Datagro criam empresa para comercializar terras

Foto: Epamig / Divulgação

Por Fernanda Pressinott

O mercado de terras agrícolas no Brasil ainda é marcado por informalidade — seja por transações realizadas em sacas de soja, seja pela ausência de parâmetros padronizados como o preço por metro quadrado, comum nas áreas urbanas. De olho nesse cenário ainda pouco estruturado, mas promissor, a consultoria Datagro e a rede de franquias imobiliárias Remax firmaram uma joint venture para profissionalizar e ampliar a atuação nesse segmento, que movimenta trilhões de reais por ano no país.

A nova empresa, batizada de Remax Agro, pretende oferecer um diagnóstico completo das propriedades rurais à venda, incluindo análises sobre aptidão agrícola, infraestrutura disponível, recursos hídricos e respectivas outorgas, logística, além de aspectos ambientais e jurídicos.

“A nossa expertise permite avaliar a terra de forma abrangente, sob múltiplas dimensões técnicas e regulatórias”, afirma Carolina Troster, sócia da Datagro Financial. Segundo ela, a participação mais ativa no comércio de terras amplia o escopo de atuação da consultoria.

“Atuávamos com a comercialização de fazendas em operações de M&A (fusões e aquisições), mas não tínhamos a força de vendas que passaremos a ter com a joint venture”, acrescenta. Nos últimos cinco anos, a Datagro participou da negociação de 230 mil hectares de terra. A joint venture, que não teve valor do aporte divulgado, terá participação igualitária entre os sócios.

De acordo com Alexandre Trevisan, diretor da divisão agro da Remax, a companhia entra no negócio com sua experiência na estruturação de operações imobiliárias complexas, análise de crédito e liquidez, além da capilaridade proporcionada por suas mais de 600 franquias espalhadas pelo Brasil.

O objetivo da Remax é que, no médio prazo, as transações envolvendo propriedades rurais passem a representar 25% da receita da operação brasileira. Em 2024, esse nicho somou R$ 200 milhões em Valor Geral de Vendas (VGV), ainda residual frente ao total da Remax Brasil, que superou R$ 12,5 bilhões. O VGV representa o valor total estimado que um empreendimento. A expectativa da empresa para 2025 é alcançar R$ 14 bilhões.

A parceria entre Datagro e Remax também prevê a homologação e certificação de corretores para atuação específica no segmento rural. No ano passado, antes mesmo da oficialização da joint venture, 40 profissionais de 13 Estados foram treinados para atuar na intermediação de fazendas.

“Nós criamos a divisão agro dentro da Remax há dois anos, ao percebermos as oportunidades desse mercado. Mas ainda nos faltava a profundidade técnica que a Datagro oferece”, afirma Trevisan, que é engenheiro agrônomo.

Apesar da queda nos preços da soja e do boi nos últimos dois anos, que diminuiu o interesse de compra dos produtores, os executivos veem o momento como uma fase de correção, com potencial de retomada no médio prazo. “O mercado está hoje mais vendedor do que comprador, mas há espaço para reaquecimento”, avalia Trevisan.

Regiões produtoras de cana e café — como São Paulo e Minas Gerais — têm mostrado valorização acima da média, uma vez que os preços dessas commodities subiram recentemente. Outro vetor de crescimento vem dos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas do Agronegócio (Fiagro), cujo patrimônio líquido cresceu 315% nos últimos dois anos, alcançando R$ 42 bilhões, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

“Houve uma crise recente no setor, que levou muitos investidores a saírem do agro, mas após esse susto inicial, vemos espaço para atrair quem busca diversificação de portfólio, proteção contra inflação e valorização no longo prazo”, afirma Carolina Troster.

A Remax Agro também avalia oportunidades em países vizinhos, como Paraguai e Uruguai, onde produtores brasileiros têm expandido suas operações.

Fonte: Globo Rural