Raízen mira novas captações em dívida verde ante confiança do mercado, diz CFO

Foto: Paulo Fridman/Bloomberg

Por Caleb Mutua e Dayanne Sous

A Raízen pretende se tornar uma emissora regular de títulos ligados à sustentabilidade depois da captação de US$ 1,5 bilhão para ajudar a financiar sua produção de biocombustível a partir do bagaço de cana-de-açúcar.

“Nosso objetivo é ser uma das referências no Brasil em títulos verdes e operações de mercado de capitais”, disse o diretor financeiro (CFO) Carlos Moura em entrevista nesta quarta-feira, 28, à Bloomberg News.

A maior fornecedora mundial de etanol de cana captou no mercado de grau de investimento dos EUA com uma transação em duas partes. A demanda dos investidores pela oferta atingiu US$ 8,8 bilhões, permitindo à empresa restringir as negociações de preço na parte mais longa da oferta, relata Moura.

“Para nós é um sinal claro de confiança do mercado e precisamos honrar essa confiança em nossas possibilidades”, disse ele.

O bond de 30 anos levantou US$ 500 milhões a 265 pontos-base acima dos Treasuries, após discussões iniciais de um spread de mais de 300 pontos-base, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto, que pediu para não ser identificada porque a informação não é pública. A empresa também emitiu um título de US$ 1 bilhão com prazo de 10 anos.

O interesse global em torno do tema da transição energética e uma situação econômica brasileira favorável influenciaram o momento da colocação, disse ele. Emitir agora também ajudará a empresa a evitar qualquer volatilidade em torno das eleições presidenciais nos EUA, em novembro. “Este é o momento mais adequado para estabelecer este primeiro grupo de títulos verdes”, acrescentou.

O mercado de emissões de grau de investimento nos EUA teve seu início de ano mais movimentado já registrado, e empresas e governos latino-americanos se juntaram à corrida para emitir títulos ligados à sustentabilidade.

Os tomadores da região já levantaram cerca de US$ 7,2 bilhões com captações ESG em dólar e euros neste ano, até 28 de fevereiro, mais do que o triplo do volume no mesmo período do ano passado, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Os recursos da venda serão usados para construir novas usinas de etanol de segunda geração, além de melhorar o rendimento agrícola e aumentar a eficiência das operações atuais, disse Moura.

A empresa, uma parceria entre a Shell e a Cosan, opera atualmente duas usinas do combustível produzido a partir do bagaço de cana-de-açúcar e planeja construir mais sete até 2027.

A Raízen ainda antecipou recebíveis de US$ 617 milhões provenientes de contratos de longo prazo com seus compradores. Esses contratos valem um total de mais de € 4 bilhões de euros (US$ 4,3 bilhões), disse Moura.

A empresa pode considerar explorar os mercados de dívida europeus para seus futuros títulos verdes como parte da expansão de seu programa para os mercados de capitais. “Naturalmente, a Europa é um destino óbvio para a nossa abordagem de mercado”, afirma.

Fonte: Bloomberg