Queda de preços afetou lucro da Copersucar, que caiu 58,6% na safra 2023/24

Navio Cape Town ancorado no Terminal Copersucar embarca açúcar
para o exterior — Foto: Coopersucar/Divulgação

Por Camila Souza Ramos

A Coperuscar encerrou a safra 2023/24 com lucro líquido de R$ 281 milhões, um resultado 58,6% menor do que o da temporada anterior. A normalização dos preços do gás natural nos Estados Unidos, onde a companhia atua na comercialização do produto, a queda das cotações do açúcar no mercado internacional e a fraqueza do mercado de etanol no Brasil afetaram o desempenho da empresa.

A receita líquida caiu 22 9%, para R$ 55,1 bilhões, enquanto o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado recuou 20,8%, para R$ 1,1 bilhão.

No negócio de gás natural nos Estados Unidos, a companhia foi afetada não só pela queda dos preços, que se acomodaram após uma alta no ano anterior devido à guerra na Ucrânia, como também por uma redução de 13,7% no volume comercializado.

A pressão sobre o mercado doméstico de etanol na safra passada, que manteve preços e demanda deprimida em boa parte do ano, atingiu os resultados da Evolua Etanol, joint venture da Copersucar com a distribuidora Vibra. O negócio gerou para a Copersucar, de acordo com o método de equivalência patrimonial, um prejuízo de R$ 60 milhões, enquanto na safra anterior o resultado foi negativo em R$ 22 milhões.

Além disto, as usinas associadas da Copersucar aumentaram significativamente sua produção, enquanto o fluxo de etanol estava mais fraco, o que demandou mais capital de giro para o armazenamento do produto. Esse cenário, combinado a uma alta dos juros no Brasil, elevou os custos financeiros da companhia, que cresceram 12,9% em relação à safra anterior, para R$ 428 milhões.

As usinas associadas da Copersucar moeram na safra passada 23% mais cana do que na safra anterior, somando 110 milhões de toneladas. A Copersucar comercializou 14 milhões de toneladas de açúcar e 17 bilhões de litros de etanol.

Apesar da piora dos resultados operacionais, a dívida líquida da companhia no fim da safra era R$ 136 milhões menor do que sua posição de caixa, considerando estoques, capital de giro e derivativos – foi a terceira temporada que a dívida líquida ficou abaixo do caixa. 61,8%. Sem considerar o caixa, a dívida líquida da Copersucar encerrou o ciclo em R$ 4 bilhões, 24,7% abaixo do resultado de um ano antes.

Preços do açúcar

A Copersucar enxerga a possibilidade de um aumento nos preços internacionais do açúcar “nos próximos meses”, afirmou o CEO da companhia, Tomás Manzano, em coletiva. “A gente vive uma expectativa hoje vai depender muito da condição climática da safra do Brasil nos próximos três meses. O Brasil, da mesma foram que no ano passado, deve ser determinante para o equilíbrio do balanço mundial de oferta e demanda de açúcar”, airmou o executivo.

Ele observou que o mundo não deve contar com incremento “relevante” de produção nas outras regiões produtoras globais, como Tailândia e Índia. “Se a safra brasileira for um pouco menor ou maior, deve ter efeito em relação a preços. Hoje nossa estimativa é que a safra deve ser menor que no ano passado, mas ainda pode mudar dependendo da condição climática. Vivemos muita seca, o canavial sofreu um pouco com a falta de umidade e déficit hídrico. Devemos ver uma safra menor”, disse.

Manzano ressaltou ainda que eventuais problemas logísticos no Brasil que interfiram no fluxo de exportação de açúcar também podem impulsionar os preços na bolsa de Nova York.

“Hoje, nesse nível de preço que estamos, nada pode dar errado. Ele considera todas as condições acontecendo de forma perfeita. Se algo escapar do previsto, podemos ter uma valorização dos preços, porque a demanda está lá e precisa de produção”, afirmou.

Biogás e biometano

Manzano também afirmou que a empresa estuda novas oportunidades com a cana. “Vemos oportunidades no mercado de biogás e biometano e no SAF [bioquerosene de aviação]. Talvez em biogás e biometano tenha até oportunidades em um período de tempo menor do que em SAF”, disse. Porém, ressaltou que a Copersucar não tem “nenhuma nova parceira em vista para anunciar no curto prazo”.

Em março, a companhia acertou a entrada no mercado livre de energia com a compra de uma participação na Comerc. Para levantar capital e ingressar no negócio, a Copersucar vendeu sua fatia de 50% na Opla, que administra o terminal de etanol de Paulínia, para a Ultra. Segundo Manzano, “foi um ajuste de portfólio”. “Não temos previsto nenhum outro grande ajuste de portfólio à frente”, garantiu.

Fonte: Globo Rural