Queda de 17,1% no preço da cana provoca crise entre fornecedores em AL

Foto: Maria Goreti dos Santos/ Embrapa Agroenergia

A produção de cana-de-açúcar em Alagoas, que mobiliza mais de 5 mil fornecedores e tem impacto direto na economia do Estado, com geração de 60 mil empregos na safra, enfrenta um momento de tensão.

O preço do Açúcar Total Recuperável (ATR) — indicador que determina o pagamento da matéria-prima aos fornecedores — sofreu uma queda expressiva de 17,15% no mês de julho em relação a junho, segundo dados divulgados pelo Consecana-AL/SE.

A informação causou apreensão entre os produtores. O presidente da Asplana (Associação dos Plantadores de Cana de Alagoas), Edgar Filho, afirmou que o setor está “muito preocupado” e espera que a queda registrada em julho tenha sido pontual.

A expectativa é pela recuperação do preço do ATR já em agosto, antes do início da safra, previsto para setembro.

“Se essa tendência de baixa se mantiver, o desânimo pode tomar conta dos fornecedores. Os custos de produção estão subindo e, com os preços caindo, o produtor pode não ter condições de investir no canavial. Em situações semelhantes no passado, vimos muitos desistirem da atividade”, alertou Edgar.

Alagoas é, historicamente, o maior produtor de cana-de-açúcar do Norte-Nordeste do Brasil. Para a próxima safra, a estimativa é de que o Estado colha entre 17 e 17,5 milhões de toneladas. As usinas já preparam o início das operações, o que aumenta a tensão no setor diante da queda do ATR. Em Algumas unidades, a moagem começa na primeira semana de setembro.

Impacto

O valor líquido do ATR, que em junho era de R$ 1,4295 por quilo, recuou para R$ 1,1844. A principal razão para a queda foi a desvalorização dos preços dos derivados da cana que compõem o chamado “mix” de produção, com destaque para o açúcar VHP (Very High Polarization), voltado à exportação.

Este tipo de açúcar, que tem peso significativo na fórmula do ATR em Alagoas, foi negociado a valores bem mais baixos no mercado internacional. A cotação, que há cerca de um ano girava em torno de 28 centavos de dólar por libra-peso, caiu para cerca de 16 centavos em julho deste ano, refletindo uma retração global no setor.

Em termos locais, o preço médio do VHP despencou R$ 160 para R$ 110 110 por saco de 50 kg. O saco do açúcar cristal também sofreu retração, mas mantém preços mais equilibrados sendo comercializado a R$ 150 por saco de 50 quilos.

A queda, segundo análise técnica, também foi influenciada por embarques de açúcar realizado em julho, com o preço da commoditie mais baixo no mercado inernacional . Com a contabilização da receita apenas de julho, houve um impacto direto na média do ATR do mês e no acumulado da safra.

Apesar de uma leve alta no preço do açúcar no mercado americano (de R$ 220,47 para R$ 223,24 por saco), e da estabilidade no etanol anidro e hidratado (R$ 3.254,80/m³), os fatores positivos não foram suficientes para conter a retração do indicador.

A expectativa é que o mercado reaja positivamente, devolvendo parte das perdas sentidas em julho. Mas diante da instabilidade internacional, o momento é de apreensão, em função da alta dependência que o setor de Alagoas tem do mercado internacional. Se os preços no mercado mundial continuarem baixos ou caírem mais, pode afetar diretamente as usinas e principalmente os produtores de cana-de-açúcar, especialmente em estados como Alagoas, cujo modelo de remuneração dá peso elevado ao açúcar de exportação.

Fonte: Gazeta Web