As razões para a queda do petróleo durante o conflito Irã-Israel

Foto: Adobe Stock

Por Karina Merli

Desde o dia 13 de junho, com o início do conflito entre Irã e Israel, um dos principais temores do mercado financeiro é o futuro do preço do barril de petróleo. Afinal, conflitos no Oriente Médio costumam ser sinônimo de pressão no valor da commodity — e tem sido assim em diversos momentos de maior tensão da guerra em Gaza.

Com a entrada do Irã no conflito, as preocupações cresceram de forma exponencial. O país é um dos responsáveis pelo Estreito de Ormuz, rota de um terço do petróleo produzido na Ásia Ocidental rumo à Ásia-Pacífico, Europa e América do Norte. A nação também faz parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), sendo o terceiro maior produtor da matéria-prima entre os membros e cujo principal comprador é a China. 

Entre indícios de escalada e de desescalada, os ataques dos Estados Unidos a instalações nucleares no Irã e a resposta do país atacando uma base americana no Catar, levaram o mercado a crer que o conflito se encaminhava para um fim. O resultado foi uma queda severa no preço do barril, antes mesmo do cessar-fogo anunciado na noite de segunda-feira (23). 

Mesmo diante das acusações de que tanto Irã quanto Israel violaram o acordo, na terça (24) à tarde, a commodity recuava cerca de 6%, cotada a US$ 66,42 (R$ 365,31). No dia anterior, o barril já havia recuado cerca de 7%, apagando completamente os ganhos do início da guerra. 

 O movimento intriga, já que a expectativa era de disparada, algo em linha com outros conflitos em regiões de alta produção petrolífera, como o que ocorreu no início da Guerra da Ucrânia. Na época, os primeiros 14 dias registraram uma alta de 20% no preço da commodity. 

Uma das razões cogitadas para o recuo dos últimos dias está atrelada à produção. Além de outros países da Ásia Ocidental – como Arábia Saudita, Kuwait, Iraque e Emirados Árabes Unidos – o Irã também tem produzido petróleo acima do normal, inclusive durante a guerra. Se antes já havia uma ampla oferta, diante do cessar-fogo, a tendência é que haja uma “inundação” da commodity pelo mundo. Sendo assim, o conflito basicamente desequilibrou a oferta e a demanda.

Vitor Sousa, analista do setor de petróleo da Genial Investimentos, considera que o mercado também colocou um prêmio de risco no preço da commodity. “Essa premiação tem a ver com a possibilidade de disrupção da oferta, destruição de infraestrutura ou, como neste caso, o fechamento do Estreito de Ormuz, mas nada disso aconteceu e os agentes estão começando a entregar seus ganhos” explica. 

Conflitos diferentes?

Sousa considera que, diferente do que ocorreu na Guerra da Ucrânia, o mercado não tinha a expectativa de que a guerra entre Irã e Israel fosse durar muito tempo. “O conflito, aparentemente, está se aproximando do fim e sem maiores controvérsias em relação a problemas de oferta do petróleo”, destaca o analista da Genial. Ele também pondera que mesmo em cenários mais negativos, o fechamento do Estreito de Ormuz não beneficiaria exportadores e importadores de petróleo da região.

“É algo praticamente inviável”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. Ele aponta que, caso isso ocorresse, possivelmente o barril do petróleo ultrapassaria os US$ 100,00 (R$ 550,00) – cenário semelhante ao da Guerra da Ucrânia – e o Irã estaria comprando uma briga não apenas com Estados Unidos e Israel, mas com muitos outros países. “Isso derrubaria o regime do Irã, algo que o líder supremo, Ali Khamenei, não quer”, afirma. 

No entanto, a possibilidade, por mais remota que seja, de isso acontecer oferece prêmios de risco. Como exemplo, o analista da Empiricus cita o início do conflito, quando Israel atacou o programa nuclear iraniano. “Os cenários eram: uma resposta do Irã ou um ataque americano que poderia escalar a guerra, no entanto, foi algo muito parecido com o que ocorreu em abril e outubro de 2024, quando os ataques foram ‘coreografados’”, explica Spiess.

O Citi Bank vê “suspiros de alívio nos mercados” diante do cenário. Em comunicado na terça, o banco avaliou que embora o acordo de cessar-fogo seja frágil, o conflito caminha para ser mais contido, dando suporte ao risco e impulsionando o enfraquecimento do dólar.

‘Sofrimento’ do barril não é de hoje

Spiess lembra que o petróleo vive uma montanha-russa desde o anúncio das tarifas americanas, em meados de abril. “O preço do barril caiu porque houve uma precificação dos agentes de menor demanda por conta de um impacto na atividade global, fruto justamente dessa guerra comercial”, lembra.

Ele explica que o baque foi menos drástico na época, mas ao ter como acréscimo o conflito na Ásia Ocidental, houve “uma escalada muito robusta, forte e rápida dos preços do barril”. Spiess também aponta que, embora historicamente outras guerras na região sejam lembradas pelo forte impacto na economia global, como as que ocorreram nos anos de 1970 e 1990, elas não foram a maioria. “Na verdade, é muito mais comum que esses conflitos fiquem restritos aos países da Ásia Ocidental”, explica. 

Fonte: Forbes