Por José Luiz Tejon*
Temos visto e revisto ao longo dos últimos 40 anos a reincidência de velhos temas serem trazidos à mesa dos debates e discussões, muitos até inflamados e com cores ideológicas e políticas, outros com ciência e ótimas intenções, mas que teimam em não serem resolvidos. Nesta semana tivemos uma excelente apresentação no Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da FIESP sobre o déficit de armazenagem no Brasil. Praticamente meia safra brasileira fica ao relento, ou passeia nas carrocerias dos caminhões.
Outro tema essencial que a cada crise climática surge como uma tempestade é o seguro rural. Junto com esses dois sempre na ponta das atrações o velho assunto da logística brasileira, da burocracia, irrigação, comercialização, dos portos não modernizados, etc, etc.
Os temas vão sendo jogados numa mesa cada qual como se fosse uma peça de um Lego, porém desordenados, cada qual importante, mas não encaixa, não vai formando um jogo, não fecha o quebra-cabeça, não joga junto. Na verdade o conceito do “agribusiness”, obra dos professores de Harvard John Davis e Ray Goldberg, foi escrito em 1957 na última página do seu livro e de forma literal é a seguinte conclusão: “…a abordagem do agronegócio é um meio para a solução dos problemas dos alimentos e fibras, e a combinação de muitas respostas parciais no seu contexto combinado dentro e fora da exploração agrícola numa Política Nacional do Agronegócio, uma política que, por sua vez, se harmonize e reforce os nossos objetivos econômicos nacionais. Caso contrário, as medidas provisórias de emergência podem tornar-se políticas permanentes devido à falta de melhores respostas”.
Assim o livro Conceito do Agronegócio, palavra que está na boca de todos hoje, encerra suas 218 páginas em 1957 e pede uma Política Nacional do Agronegócio.
Esta visão, que passa a ser uma missão, significa reunir a sociedade civil organizada com a ciência, com setores do governo, educação, e busca um compromisso com a evolução econômica, social e ambiental do país, com impactos no PIB nacional, e na dignidade de vida reunindo os elos dos produtores rurais com os consumidores finais.
Temos exemplos bem-sucedidos para nos inspirar. A IBA – Indústria Brasileira da Árvore, com Paulo Hartung na presidência. O setor do algodão, o cooperativismo, o Renovabio, o suco de laranja, o Cecafe, são alguns bons destaques. Podemos dobrar o PIB brasileiro, e uma Política Nacional do Agronegócio será vital.
Entrevistei Paulo Hartung, hoje presidente da IBA, um setor que tem uma das mais avançadas equações sistêmicas num modelo que integra o campo, com uma agroindústria evoluída e logística moderna. O programa Renovabio do setor de combustíveis também é um exemplo a ser imitado. O setor do algodão, de quase extinto, foi restaurado e do segundo maior importador do mundo viramos o 2º maior exportador. O modelo cooperativista brasileiro é da mesma forma muito estimulante para ser reunido com as demais peças na montagem desse “Lego” e uma Política Nacional do Agronegócio. O setor industrial brasileiro terá nesta quarta-feira, em Brasília, no Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio a instalação do Grupo de Trabalho do Plano Setorial de Adaptação a Mudança do Clima – setor indústria. Por que não reunirmos todo agroindustrial?
Temos no Brasil excelentes exemplos e ótimas oportunidades, a reunião de todas essas peças com certeza nos permitiriam enxergar um objetivo claro de dobrar o PIB brasileiro de tamanho nos próximos 12 anos.
Precisamos de uma Política Nacional do Agronegócio. Será essencial para a agricultura familiar e para tirar da pobreza e da fome, da mesma forma, todos os brasileiros. E com certeza as avenidas Paulista e a Faria Lima também irão adorar, e o mundo todo vai gostar.
*Colunista da Eldorado/Estadão.
Fonte: Blog do Tejon