A Petrobras pretende ser um dos últimos produtores de petróleo do planeta após anunciar um plano de investimento de mais de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 496 bi) voltado à exploração e à produção de petróleo offshore. Segundo informações da Folha de S. Paulo desta quinta-feira (08/02), Jean Paul Prates, presidente da companhia, disse ao Financial Times que a maior empresa de petróleo e gás da América Latina está considerando uma nova onda de expansão internacional na Europa, África Ocidental e Américas.
A estratégia da Petrobras também inclui o estabelecimento do Brasil como líder em energia eólica offshore. De acordo com Prates, este projeto está alinhado com diversificação da produção e transição energética nacional. “Queremos ter condições de estar lá no final do declínio do petróleo. E, para isso, precisamos ter novas fronteiras abertas ou pelo menos acessíveis”, disse o executivo durante reunião como investidores em Nova York. “Precisamos manter o núcleo [do negócio] muito seguro. Não estamos fazendo uma transição louca”, complementou.
Depois de vários anos concentrando atividades na produção de gás e de petróleo em águas profundas, a Petrobras pretende novamente ser um grupo energético diversificado. Desde 2023, a empresa aumentou seu orçamento de capital de cinco anos em 31%. Em síntese, a companhia deseja retornar investimentos em energia renovável e fertilizantes.
Como uma capitalização de mercado de cerca de US$ 110 bilhões (cerca de R$ 546 bilhões), a Petrobras busca no exterior oportunidades ligadas a petróleo, gás natural e energias renováveis em conjunto com alguns de seus parceiros internacionais no Brasil, incluindo Shell e Equinor. Os locais para potenciais novos investimentos incluem Noruega, Reino Unido, Holanda, África Ocidental e Guiana.
Em janeiro deste ano, a Petrobras começou adquiriu direitos de exploração em três blocos de petróleo operados pela Shell em São Tomé e Príncipe, na costa oeste da África. No mês anterior também se associou à Shell e à China National Offshore Oil Corporation para garantir blocos de exploração no Brasil. No geral, serão gastos US$ 7,5 bilhões (mais de R$ 37 bilhões) em exploração nos próximos cinco anos perfurando 50 poços, principalmente em águas brasileiras.
“Queremos usar essas [parcerias] como um amortecedor para trocas estratégicas e trocas de experiências, mas também como investimento conjunto”, disse Prates, que criticou a administração anterior da Petrobras sob o governo de Jair Bolsonaro por “sair de tudo”. Segundo o executivo, com a mudança de liderança, que seguiu o retorno do esquerdista Lula ao poder no ano passado, a empresa voltaria a substituir reservas de petróleo e aumentar a produção.
No entanto, opositores do Partido dos Trabalhadores de Lula soaram o alarme: a Petrobras foi o epicentro de um escândalo de corrupção durante o mandato anterior. Má gestão e interferência política custaram bilhões de dólares ao negócio, seja por meio de subsídios a combustíveis ou projetos de construção de refinarias que estouraram o orçamento.
Para combater o problema, Prates afirmou que foram estabelecidos padrões mais elevados de governança corporativa. “Eu sempre tenho bons argumentos do outro lado para dizer [aos políticos], ‘olha, isso não é uma entidade de administração direta’ – você tem que fazer isso através do conselho de administração”, observou. “Eu não preciso dizer isso nunca ao presidente Lula, por exemplo, porque ele sabe que ele nunca, nunca me disse nada sobre fazer isso, fazer aquilo”, concluiu.
Nos últimos 12 meses as ações da Petrobras subiram 60%, uma alta histórica. Segundo analistas, o aumento da produção de vastas reservas offshore conhecidas como campos do pré-sal, na costa sudeste, está prestes a impulsionar o Brasil para as cinco maiores nações produtoras de petróleo até o final da década.
Mas a busca por novos poços viáveis para sustentar a produção no médio e longo prazo tem decepcionado ultimamente e a produção está prevista para atingir o pico em 2029, segundo Marcelo de Assis, da consultoria Wood Mackenzie.
“Eles têm um desafio na exploração para repor as reservas e manter o fluxo de dinheiro no futuro a partir do negócio mais lucrativo que eles têm”, disse ele.
Na busca por novos poços, a Petrobras identificou uma área marinha de 2.200 km ao longo da costa norte do Brasil chamada margem equatorial.
A empresa está recorrendo da decisão de órgãos ambientais, que negaram licença para explorar uma seção considerada a principal da região. Localizada a 500 km da foz do rio Amazonas, ativistas dizem que é uma área ecologicamente sensível.
Prates disse que a Petrobras tem o dever com o povo brasileiro de repor suas reservas de petróleo.
“Se não explorar lá, você vai perguntar se vai ficar sem petróleo? De repente, você vai importar da Nigéria, de Angola. É melhor pagar impostos em seu próprio país se você tiver o recurso lá”, disse.
Fonte: Folha de S.Paulo.