
DE OLHO NO BIODIESEL BOLETIM SEMANAL DE MERCADO DA SCA BRASIL 25 a 29/08/202
A Operação Carbono Oculto, deflagrada em 28 de agosto, representou a maior ofensiva já realizada no Brasil contra o crime organizado no setor de combustíveis. Com 1.400 agentes cumprindo 200 mandados de busca e apreensão contra 350 alvos em 10 estados, a operação atingiu toda a cadeia produtiva do setor, incluindo 42 alvos concentrados na Avenida Faria Lima, principal centro financeiro do país. As investigações revelaram um esquema bilionário que envolveu desde a importação irregular de produtos como metanol, adulteração de combustíveis, sonegação de impostos e lavagem de dinheiro para o crime organizado.
O esquema criminoso movimentou aproximadamente R$ 17,7 bilhões em transações suspeitas e sonegou R$ 1,4 bilhão em tributos federais, além de R$ 7,6 bilhões em tributos estaduais. A organização conseguiu dominar parte significativa da cadeia produtiva de etanol, gasolina e diesel, operando por meio de uma complexa rede que incluía usinas de etanol, distribuidoras, postos de combustíveis e fundos de investimento. A Justiça decretou a indisponibilidade de bens que abrangem quatro usinas de etanol, cinco administradoras de fundos, cinco redes de postos com mais de 300 endereços e diversas outras empresas do setor, demonstrando a amplitude e sofisticação do esquema investigado.
Após alta expressiva no final da semana anterior, a cotação do óleo de soja iniciou uma sequência de correções negativas, com o mercado passando por volatilidade enquanto aguarda definições da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) sobre as isenções a pequenas refinarias (SREs, na sigla em inglês) e as metas dos Renewable Volume Obligations (RVOs, na sigla em inglês) para os próximos anos.
A EPA precisa esclarecer como tratará a transferência dos SREs de 2023 e 2024, além de divulgar um documento suplementar sobre a proposta dos RVOs para 2026 e 2027, incluindo possíveis ajustes na regra que prevê a geração de 50% de RINs para combustíveis importados. As incertezas regulamentares têm gerado realizações de lucro pelos investidores, com o contrato de outubro oscilando entre US¢ 51,5/lb e US¢ 54,0/lb ao longo da semana.
O mercado também permanece atento às negociações comerciais entre China e Estados Unidos, que podem impactar significativamente todo o complexo da soja. As preocupações com a demanda chinesa pela soja americana, que caiu 51% no primeiro semestre em relação ao ano anterior, continuam sustentando um viés baixista, especialmente em razão da indefinição sobre compromissos chineses de compra para o quarto trimestre.
Essa movimentação representa um alerta significativo para o Brasil, que atualmente é o maior fornecedor de soja para a China e detém cerca de 70% das importações chinesas do grão. A eventual normalização das relações comerciais sino-americanas e a redução das tarifas que atualmente tornam a soja americana 20% mais cara que a sul-americana, podem impactar negativamente a posição dominante do Brasil no mercado chinês.
O óleo de palma acompanhou a tendência de correção do óleo de soja, registrando quedas consecutivas e fechando a semana com retração de 3,2%, cotado em torno de US$ 1.037/t. Apesar da queda, o mercado recebeu alguns sinais positivos, como as notícias do avanço das negociações para que os EUA retirem as tarifas de 19% sobre as importações do produto com origem na Indonésia. Além disso, a Indonésia solicitou à União Europeia a eliminação das tarifas compensatórias de 8% a 19% sobre importações de biodiesel, argumentando desconformidade com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O contrato de outubro/2025 de óleo de soja negociado na Bolsa de Chicago (CBOT, na sigla em inglês) encerrou em 51,70 cents/libra na sexta-feira (29/08), apresentando desvalorização de 5,90% na semana. Já o prêmio de outubro/2025 do óleo de soja em FOB Paranaguá valorizou 270 pontos, fechando a semana em zero cents/libra. O flat price do óleo de soja FOB Paranaguá fechou em US$ 1.139,79/ton, uma desvalorização de 1,03% em relação à semana anterior.

No levantamento da SCA Brasil, o mercado spot de biodiesel registrou um volume de venda de 3.240 m³, redução de 52% em relação à semana anterior, com destaques para o volume de 1.480 m³ em Goiás. O preço médio apurado na semana foi de R$ 5.900/m³, com PIS/COFINS e sem ICMS, com desvalorização de 0,1% em relação à semana anterior.

Na semana tivemos também a divulgação do Relatório Anual de Controle Volumétrico da Mistura de Diesel B pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). No documento, o Brasil teve um saldo positivo de aproximadamente 68,5 mil m³ de biodiesel, com oferta de 8,96 milhões de m³ contra uma demanda de 8,89 milhões de m³, indicando que não houve déficit no setor. No entanto, das 178 distribuidoras mapeadas, 83 (46,6%) encerraram o ano com balanço negativo, deixando de comprovar acesso a 126,3 mil m³ de biodiesel, déficit compensado por outras 79 distribuidoras que apresentaram superávit de 194,8 mil m³.
A ANP notificou 22 distribuidoras para prestar esclarecimentos sobre irregularidades, das quais apenas sete foram efetivamente autuadas por descumprimento da mistura obrigatória, estando sujeitas a multas que variam de R$ 20 mil a R$ 5 milhões.
Segundo o levantamento realizado entre 18 e 24/08 pela ANP, o preço médio do biodiesel negociado entre usinas e distribuidores ficou em R$ 5.607,72, desvalorização de 1,1% em relação ao valor médio da semana anterior. Todas as regiões apresentaram redução – o Norte registrou a menor variação, de -0,2%, e o Nordeste a maior, com -1,5%. O mercado acumula uma redução de 11,4% no ano.