Por Lívea Coda*
Os preços do açúcar bruto na semana passada foram influenciados pela especulação e pela expectativa altista quanto ao relatório da Unica. A maior surpresa foi o nível de mix de açúcar.
Apesar da possível variação do mix entre 52,7% e 51%, a produção total de açúcar é pouco afetada (42 a 41,5 milhões de toneladas), mantendo o status do Brasil como um fornecedor-chave.
Os preços permaneceram dentro da faixa estabelecida no início de maio, com um piso de preço percebido em torno de 18 centavos de dólar por libra-peso. A especulação de compras chinesas surge quando os preços se aproximam desse nível, mas a menor necessidade de importações da China sugere um alinhamento mais próximo dos níveis da ZCE (17-17,5 c/lb).
O principal tema discutido é o clima, sendo este crucial durante o inverno do Brasil, os desenvolvimentos do ENSO e as condições das colheitas no Hemisfério Norte.
Na semana passada, os preços do açúcar bruto foram influenciados pela especulação, especialmente em reação ao relatório da Unica de sexta-feira. O mercado antecipou uma perspectiva mais altista antes da divulgação do relatório, com os preços subindo de terça a quinta-feira (19,59 c/lb), mas caindo ligeiramente na sexta-feira (19,46 c/lb).
A maior surpresa foi o nível do mix de açúcar, abaixo do ano passado, apesar dos investimentos em cristalização sugerirem que deveria ter sido maior. Além disso, o ATR (rendimento agrícola) foi pior do que o esperado, devido à moagem de cana bisada (sobra) e imatura.
Considerando os fundamentos, não houve muita mudança. Independentemente de mix de açúcar ser de 52,7% ou 51%, a produção total do adoçante no Centro-Sul variaria apenas ligeiramente entre 42 e 41,5 milhões de toneladas. Isso significa que o Brasil ainda teria seu segundo melhor ano e continuaria sendo um fornecedor importante no curto médio prazo, apoiando a recente faixa de preço apertada.
Além dessa perspectiva, o mês de maio registrou fortes resultados de exportação, e a região Centro-Sul tem robustas nomeações para junho. A desvalorização do real brasileiro também impulsiona a participação da região nos fluxos de comércio internacional.
Apesar de algumas flutuações, os preços permaneceram dentro da faixa estabelecida no início de maio. Conforme mencionado anteriormente, o piso de preço atual é percebido como sendo em torno de 18 c/lb. Esse nível representa um ponto de resistência significativo, pois algumas regiões da China, principalmente as não produtoras, ainda podem estar inclinadas a importar, mesmo com um prêmio. Sempre que o mercado se aproxima desse nível, surgem rumores de compras chinesas.
No entanto, fundamentalmente, a redução da necessidade de importações pelo país, tende a empurrar a arbitragem de importação para mais perto do nível do ZCE sem prêmio, atualmente em 17 e17,5 c/lb. Isso também é visto como o ponto máximo de alta para os preços do etanol no Brasil.
À medida que o período de entressafra do Brasil se aproxima, aumenta a dependência do mercado internacional em relação à oferta do Hemisfério Norte. Consequentemente, o mercado deve incentivar as exportações de açúcar dessa região.
Com os preços atuais, isso significaria um aumento para cerca de 21 c/lb para estimular as exportações indianas e tornar realidade nossa expectativa de 1,5 milhão de toneladas exportadas em 2024/25. No entanto, esses preços podem diminuir um pouco à medida que a Índia aumenta seus estoques e os preços domésticos começam a se ajustar. Se o clima for mediano, provavelmente estaríamos falando de um aumento para 20 c/lb durante a entressafra do Centro-Sul.
Para que os preços permaneçam dentro dessas faixas, o clima precisa ser “médio”. Poderemos ver uma alteração dessa faixa, caso à medida que as tendências futuras de precipitação se tornarem mais claras. Os principais pontos a serem monitorados incluem:
1 – Clima de curto prazo no Brasil: Condições mais secas podem aumentar o teor de sacarose, mas danificar a cana no final da temporada, dificultando a obtenção deu mix de açúcar mais elevada
2 – Evolução do ENSO: Um La Niña ativo durante o verão do Centro Sul pode afetar a temporada 2025/26, especialmente se for muito forte, embora esse evento climático geralmente tenha pouca correlação com a precipitação na região. Para obter mais detalhes, consulte nosso relatório sobre La Niña
3 – Desenvolvimento da safra do Hemisfério Norte: O clima também influencia significativamente esse aspecto, com a atual temporada de monções afetando a produção potencial da Índia
É importante observar que a maioria dos principais impulsionadores do mercado está relacionada ao clima, o que sugere que, embora bastante monótono no momento, esse é um mercado que carrega grandes incertezas.
Portanto, notícias como uma monção pior do que o esperado no centro-norte da Índia tendem a ter um impacto de alta nos preços do açúcar. Entretanto, a menos que haja um efeito tangível ou, pelo menos, uma forte confirmação, esses impactos podem se dissipar no curto prazo, uma vez que não alteram os fundamentos atuais. É provável que uma real tendência mais altista seja observada nos contratos de 2025, já que se espera que o Brasil tenha outro excelente resultado em 2024.
Em resumo
Na semana passada, os preços do açúcar bruto foram impulsionados pela especulação, especialmente com relação ao relatório da Unica de sexta-feira. Apesar dos investimentos, o nível do mix de açúcar foi surpreendentemente mais baixo do que no ano passado, e o ATR foi pior do que o esperado devido à moagem de cana imatura e bisada.
No entanto, os fundamentos permanecem praticamente inalterados, com o Brasil ainda no caminho certo para seu segundo melhor ano, mantendo uma faixa de preço apertada. No entanto, o clima continua sendo a maior fonte de volatilidade; qualquer desvio significativo em relação a uma previsão de precipitação média pode atrapalhar o desenvolvimento das safras futuras e alterar a faixa de preço atual.
*Coordenadora de inteligência de mercado na hEDGEpoint Global Markets.
Fonte: NovaCana