Número de pedidos de recuperação judicial no agro mais do que dobrou em 2024

Juros altos e custo de produção afetaram os agricultores
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Por Fernanda Pressinott

O número de pedidos de recuperação judicial no agronegócio mais do que dobrou em 2024, passando de 534 solicitações feitas no ano anterior para 1.272, segundo a Serasa Experian. O dado reúne pedidos feitos por produtores rurais que atuam como pessoa física, produtores que atuam como pessoa jurídica e empresas do setor.

De acordo com o head de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, diversos fatores afetaram a saúde financeira dos produtores e proprietários rurais no ano, principalmente os que estavam mais alavancados.

“A alta da taxa de juros, aliada ao aumento dos custos de produção com insumos agrícolas — que ficaram mais caros devido à inflação e à desvalorização cambial —, foram alguns dos desafios principais. E, para além disso, tivemos o agravante das adversidades climáticas”, afirmou.

O ritmo de pedidos acelerou-se no fim do ano. Apenas no quarto trimestre, a Serasa registrou 320 solicitações de recuperação judicial — no trimestre anterior haviam sido 254 .

“O aumento registrado nos últimos três meses do ano comprova a estimativa de represamento que aconteceu no terceiro trimestre, quando a quantidade de pedidos caiu. Ainda assim, apesar da alta, é preciso ponderar o número absoluto de solicitações, que é pequeno se considerarmos um universo com cerca de 1,4 milhão de produtores que tomaram crédito rural durante os últimos dois anos no país”, disse o head de agronegócio da Serasa Experian.

Pedidos como pessoa física

Houve 566 pedidos de recuperação judicial apresentados por produtores rurais que atuam como pessoa física no ano passado, na comparação com 127 em 2023. Somente entre o terceiro e quarto trimestres, os pedidos subiram 32,1%, para 140.

Desses pedidos feitos na pessoa física, 39,6% (ou 224) foram feitos por produtores que não possuem propriedades, ou seja, são possíveis arrendatários de terras. Os grandes proprietários foram responsáveis por 32% dos pedidos (132 solicitações), os pequenos por 20% (113 pedidos) e os médios, 17% (97 pedidos).

Dentre as solicitações apresentadas na pessoa física, a maior parte foi de produtores rurais de Mato Grosso, de onde partiram 173 pedidos em 2024, seguido por Goiás (122), Minas Gerais (57); Mato Grosso do Sul (45); e Paraná (45); Santa Catarina (20); Rio Grande do Sul (15); Roraima (13) e Tocantins (11).

Pedidos como pessoa jurídica

Dentre os produtores rurais que atuam como pessoa jurídica, o número de pedidos saltou de 162 em 2023 para 409 no ano passado. Apenas no quarto trimestre foram 110 solicitações, alta de 19,6%.

Nos casos destes produtores, que o cultivo de soja concentrou o maior número de recuperações judiciais (222), seguido pela criação de bovinos (75), o cultivo de cereais (49), o cultivo de café (16) e o cultivo de algodão e de outras fibras de lavoura temporária (10).

Dentre os produtores que atuam como pesos jurídica, a maior parte é de Mato Grosso (92 pedidos), seguido por Goiás (62); Minas Gerais (53); Mato Grosso do Sul (47); Paraná (30) e São Paulo (30); Rio Grande do Sul (29); Santa Catarina (27); Tocantins (13) e Bahia (13).

Empresas

Também conforme a Serasa, as empresas que atuam de forma relacionada ao agronegócio apresentaram 297 pedidos de recuperação judicial em 2024, ante 245 um ano antes. No quarto trimestre, o número de pedidos foi 25% maior do que no terceiro trimestre e somou 70.

No ranking dos setores de atuação das empresas analisadas, 73 pedidos foram de companhias como agroindústrias de transformação primária. Em seguida aparecem os serviços de apoio à agropecuária, que apresentaram 64 pedidos; as indústrias de processamento de agroderivados, que realizaram 58 requisições; o comércio atacadista de produtos agropecuários primários, com 33 pedidos; e os revendedores de insumos (exceto máquinas), com 32 solicitações.

O principal Estado de procedência das empresas do agro que pediram recuperação judicial no ano passado foi São Paulo, de onde partiram 14 pedidos; seguido por Paraná (9); Goiás (6), Rio Grande do Sul (6); Santa Catarina (6); Amazonas (5); Tocantins (5); Minas Gerais (4); Mato Grosso (4); Rio de Janeiro (2).

O levantamento feito pela Serasa Experian foi construído a partir de documentos registrados mensalmente na base de dados da companhia e dos tribunais de Justiça de todos os Estados.

Fonte: Globo Rural