Mistura de 15% de biodiesel a partir de agosto: Mais de 5 bi em investimentos e 4.000 novos empregos

A nova mistura de 15% de biodiesel no diesel convencional (B15) que entra em vigor a partir de 01 de agosto deve atrair R$ 5,2 bilhões em investimentos, gerar mais de 4.000 empregos diretos e indiretos, diminuir a dependência de importação do combustível fóssil e cortar a emissão de 1,2 milhão de toneladas de CO2eq/ano. São benefícios socioeconômicos e ambientais apontados pelo Ministério de Minas e Energia (MME), que podem ser significativamente ampliados com a implementação do B20 até 2030.

Essas e outras considerações foram apresentadas pela professora titular da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), Suzana Borschiver e pelo professor titular de engenharia química da UFRJ e consultor técnico da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donato Aranda, durante a 14ª edição da série de lives ‘Conexão SCA Brasil’, apresentada ao vivo nesta quinta-feira (03/07) pelos canais da SCA Brasil no YouTube e no LinkedIn.

“Nossas análises mostram que se o mercado do biodiesel continuar crescendo em média 3% nos próximos 12 meses, a partir de agosto o B15 deverá acrescentar um volume de 1 bilhão de litros aos 9,3 bilhões de litros comercializados em 2024”, afirmou o head de biodiesel da SCA Brasil, Filipe Cunha, em sua participação abrindo o programa.  Ele destacou a disponibilidade de soja para atender a nova especificação, lembrando que a soja responde por 74% das matérias-primas utilizadas na produção brasileira de biodiesel.

Além de dados de mercado, Donato Aranda, da UFRJ, ressaltou as externalidades positivas do uso do B10 e agora do B15 para a qualidade do ar nos grandes centros urbanos, citando estudos da Universidade de São Paulo (USP) que revelam queda significativa no número de internações e óbitos por doenças respiratórias e cardiovasculares. “Eram 240 mortes evitadas por ano graças ao B10. Com o B15, serão salvas 348”, observou Aranda.

Segundo Suzana Borschiver, que também é coordenadora do Núcleo de Estudos Industriais e Tecnológicos (NEITEC) da UFRJ, o B14, disponível nos postos de abastecimento até o final de julho, já mitigou a emissão de 5 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, além de reduzir a importação de 2,4 bilhões de litros de diesel fóssil por ano.

Impactos externos

Com relação à guerra comercial entre Estados Unidos e China, Cunha comentou que no caso de um acirramento da crise entre os dois países, a China poderá direcionar uma parte adicional da sua compra da soja para o Brasil, maior produtor mundial, o que poderia diminuir a quantidade do grão disponível para as plantas de esmagamento no mercado interno.

Outro ponto de atenção destacado pelo especialista da SCA Brasil foram as baixas margens no processamento da soja, o que poderia levar a uma antecipação da manutenção da indústria, que geralmente acontece entre os meses de novembro e dezembro. Outro impacto das baixas margens seria a redução no ritmo de esmagamento, levando a uma produção menor de óleo de soja do que o estimado pela Abiove.

“Mesmo diante destes fatores, não vemos riscos para o abastecimento do B15, se considerarmos a estimativa de produção de 170 milhões de toneladas de soja para a safra 2024-2025”, avaliou.

B20

Os participantes da 14ª edição da Live “Conexão SCA Brasil” são uníssonos na crença de que com a implementação do B15 a partir de agosto, o Brasil abre um leque de oportunidades para elevar ainda mais o teor de biodiesel no diesel fóssil. Donato Aranda apontou a expectativa em relação aos próximos passos da Lei do Combustível de Futuro, que determina um “percentual obrigatório de adição de biodiesel superior a 15% desde que constatada a viabilidade técnica de 20% até março de 2030, aumentando 1% a cada ano.”

Ele citou exemplos de outros países onde a mistura de biodiesel vigora há mais tempo, inclusive com especificações técnicas menos rigorosas do que as brasileiras. “Nos Estados Unidos, o B20 é utilizado há dez anos e nunca houve qualquer problema nos motores de veículos pesados. E, ao contrário do que se pode imaginar, o biodiesel brasileiro apresenta parâmetros superiores de qualidade, como a presença de menor umidade no produto e a exigência de uma estabilidade oxidativa maior”, explicou.

Outro exemplo bem sucedido que vem da Ásia. “A Indonésia usa o B35 há muito tempo e pretende avançar para o B40. Trata-se de uma política fundamental para a busca por maior sustentabilidade nos transportes em um país onde, por ano, são vendidos aproximadamente 300 mil caminhões, mais do que o dobro registrado no Brasil”, pontuou Aranda.

Do ponto de vista da oferta de matéria-prima para a produção de mais biodiesel, Suzana Borschiver ressalta que o Brasil reúne expertise técnica e outras fontes complementares à soja, entre elas a canola, o girassol, o dendê, a macaúba e o algodão. “Nós temos competência e matéria-prima para isso, embora ainda sejam necessários estudos mais aprofundados que comprovem a viabilidade do B20, assim como foi feito recentemente com o B15”, afirmou.

Borschiver lembrou que o biodiesel, juntamente com outros biocombustíveis como o etanol, o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), o biogás e o biometano, desempenha um papel crucial na transição energética nacional. “O Brasil, onde 48,4% da energia produzida vêm de fontes renováveis, enquanto a média global é de 15%, já é o sexto país que mais recebe investimentos voltados à bioeconomia. Em 2023, de acordo com levantamento da Bloomberg, foram aportados US$ 34,8 bilhões em projetos sustentáveis, ficando atrás somente de China, com US$ 675,9 bi, os Estados Unidos com US$ 303,1 bi, a Alemanha com US$ 95,4 bi, Reino Unido com US$ 73,9 bi e a França, que recebeu US$ 55,5 bi”, revelou.

Ela também citou outra vantagem a ser observada com o aumento da fabricação de biodiesel: a glicerina, subproduto que pode ser mais bem aproveitado pela indústria química. “É um insumo que pode ajudar o setor industrial a reduzir o déficit anual de US$ 48 bilhões, mitigando custos de produção relacionados a aditivos oxigenados para o setor de combustíveis ou ácido acrílico destinado aos plásticos, por exemplo”, afirmou.

Fiscalização

A não conformidade acentuada na adição de biodiesel ao diesel permanece um tema preocupante para o setor de biocombustíveis e foi lembrada durante o programa. A nova legislação referente ao B15 tem gerado o temor de que ocorram mais casos de adulteração.

“O B15 exigirá uma fiscalização cada vez mais atuante e célere na identificação e punição para empresas que aplicam misturas fora dos padrões estabelecidos por lei, praticando uma concorrência desleal no mercado Neste sentido, a tecnologia terá um papel preponderante, como é o caso do espectrofotômetro, que permite avaliar rapidamente em campo se o percentual de biodiesel está correto”, frisou Borschiver.

Segundo Cunha, o equipamento dará agilidade na punição de agentes desonestos. “Antes da introdução destes modelos, as análises demoravam até sete dias para serem concluídas. Ou seja, quando a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) voltava ao estabelecimento para emitir o ato de infração, muitas vezes o produto irregular já havia sido comercializado”, complementou o executivo da SCA Brasil.

Na tarde desta quarta-feira (02/07), entidades do segmento de biodiesel doaram cinco espectrofotômetros para auxiliar a ANP na fiscalização de combustíveis, incluindo o etanol acrescido à gasolina. A ação, idealizada pela Ubrabio e o Instituto Combustível Legal (ICL), associação sem fins lucrativos que tem por objetivo fomentar boas práticas no setor de combustíveis, teve como parceiros o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio).

A 14ª. edição da série ‘Conexão SCA Brasil’ foi apresentada pelo jornalista Adhemar Altieri, da MediaLink Comunicação Corporativa, com produção técnica da Propano Filmes.

SOBRE A SÉRIE “CONEXÃO SCA BRASIL”

Transmitidas ao vivo pelos canais da SCA Brasil no YouTube e no LinkedIn, as lives da série ‘Conexão SCA Brasil’ foram criadas para examinar assuntos de destaque no contexto do agronegócio nacional, com prioridade para temas próximos dos combustíveis renováveis e das compras corporativas em grupo, principais áreas de atuação da SCA Brasil. Agendas transversais e de ampla relevância para o agro também são abordadas, sempre com convidados especiais de reconhecida competência e qualidade. Além do YouTube e do LinkedIn, todas as edições também estão disponíveis em formato de podcast na página da série na plataforma Spotify.

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