Indústria de etanol de milho destaca diversidade de caminhos para futuro do setor

Imagem: RPA News

Com previsão de conclusão em junho de 2027, o mais novo empreendimento da FS – em Querência (MT) – deverá produzir 940 milhões de litros de etanol por ano na segunda fase de operação. Já a usina em Campo Novo dos Parecis (MT) tem previsão de ficar pronta em dezembro de 2026, com fabricação de 540 milhões de litros de etanol.

“Estamos superanimados em fincar a bandeira em Campo Novo. Em Querência, estamos na fase zero, de terraplanagem; essa planta ainda não está em construção, mas também estamos animados com os prognósticos de seguir evoluindo com essa edificação”, relata o vice-presidente de sustentabilidade e desenvolvimento de mercado da FS, Daniel Lopes.

Ele falou com o NovaCana, em entrevista exclusiva, durante a 11ª edição do Teco Latin America, evento voltado para a cadeia produtiva de etanol de grãos e realizado pela Novonesis. Lopes destacou os investimentos no projeto de Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono (BEECS) e revelou que a FS já firmou três contratos: “Estamos sempre abertos, olhando todas as opções”.

“Vemos a ótica de monetização. No mercado regulado, vendemos esse etanol com prêmio para algumas jurisdições, como na navegação, com as metas da IMO [Organização Marítima Internacional], e na aviação, com o Corsia [Esquema de Compensação e Redução de Carbono para Aviação Internacional]”, aponta.

Mas o vice-presidente de bioenergia também enxerga que há mais liquidez no mercado voluntário, afinal, o etanol para aviação e para navegação ainda não possui mandatos obrigatórios.

“Fizemos três transações e estamos ativamente olhando uma série de outras discussões do mercado voluntário, principalmente. A ideia é injetarmos esse carbono até junho de 2026 e, depois, faremos a certificação com base na metodologia do Extender. A expectativa de monetizar esses contratos é em junho de 2027”, detalha.

Os mercados externos também estão no radar da FS. “Estamos bastante animados com a possibilidade de inserir o nosso etanol em outros mercados”, afirma, mas ressalva: “Os Estados Unidos fecharam as portas para etanol brasileiro, principalmente pela tarifa, mas também pelo Big Beautiful Bill [projeto orçamentário que prevê diversos investimentos e mudanças fiscais], então, o nosso foco está mais para capitalizar em mercados rodoviários na Ásia”.

Outra frente que a FS pretende desenvolver é o de etanol para navegação. “Cremos que essa metodologia da IMO, que esperamos que seja regulamentada e aprovada em outubro, será bastante positiva para o etanol pelo nível de precificação. Temos visto muito interesse pelo etanol no mercado das empresas marítimas”, detalha Lopes.

Na visão dele, as companhias do setor de navegação estão vendo que o renovável é um produto que tem “muito potencial” pelo poder calorífico, pelo preço e pela pegada de carbono, sendo “muito competitivo” na descarbonização e transição energética.

Abertura de mercados

O presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco, também enxerga a importância de olhar para outros mercados internacionais. Para isso, ele cita a estratégia adotada com os grãos secos de destilaria (DDGs): “Abrimos 18 mercados em dois anos”.

Ele defende que o etanol, principalmente de milho de segunda safra, seja apresentado como um combustível avançado e com uma pegada de carbono baixa em função do seu ciclo de vida.

“O etanol também passa por um novo ciclo de inteligência para entender o mercado internacional, mapeando quais são os pilares em que podemos atuar, sejam eles nas áreas de regulação, de certificação, sejam eles sob influência de organismos internacionais, como IMO e Corsia”, aponta.

Nolasco ainda detalha que, além de políticas públicas que podem ser desenvolvidas no Mercosul, há a possibilidade de atingir mercados como México, Japão e Índia. “O setor como um todo, de etanol de milho e cana, precisa entender que teremos excedentes de produção daqui para frente. É o momento de compreendermos o que pode ser feito para abertura de novos mercados, fomento, reconhecimento e certificação”, acredita.

Mesmo assim, ele reitera que o mercado interno segue sendo o principal para as usinas e que as duas agendas precisam caminhar juntas. “Temos uma lacuna nos estados do Norte e Nordeste do país, com crescimento baixíssimo de consumo de etanol hidratado e para onde o biocombustível de milho está migrando”, observa.

“Há condições de chegar com um produto mais competitivo à bomba. É lógico que o trabalho de promoção e de conscientização precisa ser feito, mas existe uma possibilidade de um crescimento da demanda doméstica muito grande”, afirma Guilherme Nolasco (Unem).

Vai faltar biomassa

Lopes, da FS, também aponta que, até recentemente, a biomassa não era um dos fatores priorizados por uma série de entrantes no mercado de etanol de milho. “A FS detém hoje 55% das florestas plantadas do estado do Mato Grosso. Nós nos preocupamos muito com isso e viemos plantando biomassa consistentemente desde 2018. Esse ano, vamos plantar 20 mil hectares”, relata.

Mas ele enxerga que, para suprir todas as plantas de etanol do Mato Grosso, seria necessário ter três ou quatro vezes mais base florestal do que existe hoje no estado. “Não adianta pensar quando a planta entra em operação porque leva seis anos entre plantar e colher”, complementa.

O chefe de bioenergia da Novonesis, Fabrício Leal Rocha, corrobora com a visão de preocupação com a biomassa, em relação a disponibilidade, custo, acesso e necessidade de planejamento, também devido ao período longo entre plantio e colheita.

Nolasco reitera o desafio de equalizar o crescimento do etanol de milho com a oferta de biomassa de uma forma equilibrada. “É um ponto de atenção, que pode ser também uma oportunidade de investimento”, enxerga.

DDG e DDGS mais qualificado

Principais coprodutos da produção de etanol de milho, o DDG e o DDGS (DDG com solúveis) já possuem compradores no mercado externo, mas ainda há lacunas a se preencher. Conforme Rocha, há uma grande a preocupação com a possível sobreoferta de DDG ou DDGS. “Para endereçar essa questão, nós temos que trabalhar a reputação, a padronização e a qualidade do produto”, argumenta.

Ele ainda acrescenta que os Estados Unidos destinam grande parte do produto para ruminantes ou gado de leite e corte. No Brasil, entretanto, não há gado confinado na mesma proporção, de modo que seria preciso trabalhar a entrada do DDG em animais monogástricos, como suínos e aves, que representam 80% da demanda de ração.

“O Brasil talvez seja o país mais eficiente do mundo em conversão de ração em proteína e somos também um dos maiores exportadores do mundo de proteína animal”, afirma o chefe de bioenergia da Novonesis, que acrescenta: “É um setor muito exigente e precisamos qualificar o DDG para penetrar para essas espécies e, eventualmente, utilizar a biotecnologia para cobrir potenciais deficiências que o produto tenha para ser consumido por suínos e aves”.

Nolasco enxerga que o DDGS foi algo “bastante emblemático” para a Unem porque, em 2021, a entidade estimava que o país produziria 8 bilhões de litros de etanol de milho e 5 milhões de toneladas de DDG em 2030. Na ocasião, pensava-se que o problema seria colocar este produto no mercado interno.

“Esse volume chegou mais cedo, em 2025. Como a pauta de DDG era exclusivamente da Unem, nos adiantamos e começamos um projeto imaginando que precisaríamos realmente diversificar através do mercado internacional, justamente para precificar o mercado interno”, relembra.

Apesar disso, o executivo reitera que o mercado interno é e “sempre será” o principal para o DDG. “O mercado internacional serve para elevar o padrão de qualidade e para regular o mercado interno; até porque, se tiver um colapso na cadeia de proteína por um problema sanitário, podemos ter dificuldade de escoamento do coproduto no mercado de proteína animal”, considera.

Outras matérias-primas

Além de abordar a questão da biomassa, o evento também debateu o uso de novas matérias-primas para produção de etanol e os desafios inerentes a elas.

Rocha, da Novonesis, aponta que existe uma necessidade de flexibilização das fontes de amido, seja com o uso de trigo, triticale ou sorgo, observada a experiência dos Estados Unidos. “Como o Rafael [Piacenza, gerente de desenvolvimento de negócios da Novonesis] demonstrou, o sorgo tem potencial, tem amido, tem viabilidade econômica”, afirma.

Neste sentido, a biotecnologia é usada para lidar com a mudança de viscosidade no processo de cozimento, liquefação e envio desse líquido para a fermentação. Segundo ele, isso ocorre quando há, por exemplo, uma mistura de grãos.

“A biotecnologia entra para reduzir essa viscosidade e facilitar o bombeamento e o processamento do líquido durante o processo de produção de etanol. Esse é o grande problema. Pode se ter outros problemas também, como a formação de espuma, que a biotecnologia, principalmente enzimas e leveduras, pode resolver”, explica.

Além disso, as leveduras avançadas geram mais etanol pelo mesmo volume de milho. Assim, Rocha acrescenta que a usina investe mais, mas a produção de etanol também aumenta. Considerando o mesmo volume de matéria-prima, no final, o produtor investe menos por litro de etanol.

Teco

Conforme Rocha, o evento Teco Latin America foi se moldando ao longo dos anos para se adaptar às necessidades da indústria. “No início, nós tínhamos um foco muito mais técnico, educacional, de qualificação, porque o etanol de grãos e milho era uma novidade. Depois nós direcionamos também um pouco em otimização, em mercados, mas vimos nesses dois dias que os grandes desafios de hoje não são os mesmos do início”, enxerga.

Nolasco reitera que o evento apresenta a visão da importância da tecnologia dentro do processo e é um ponto de encontro do setor. “Vemos toda a cadeia de fornecimento do setor, tudo o que tem de melhor e mais moderno de tecnologia disponível, o mercado financeiro, os financiadores, todas as pessoas que estão orbitando nesse ecossistema”, considera.

Por Gabrielle Rumor Koster

Conteúdo patrocinado pela Novonesis

Fonte: NovaCana