Por Isadora Camargo
Com o Brasil distante de resolver sua dependência das importações de fertilizantes, o governo federal busca atrair investimentos para a produção de adubo no país. Mirando essa meta ambiciosa, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil) fará, pela primeira vez, uma rodada de negócios com fabricantes globais de macronutrientes entre os dias 29 de julho e 2 de agosto, no Rio de Janeiro, durante a Rio + Agro, fórum internacional do agronegócio.
A rodada é uma iniciativa atrelada ao Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), atualizado em 2023 pelo Confert, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que prevê reativação de fábricas, incentivos a novas plantas industriais e investimento na produção de nutrientes sustentáveis.
De acordo com Carlos Padilla, coordenador de investimentos da Apex/Brasil, a rodada de negócios é uma “incumbência” dada pela Pasta coordenada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que liderou em 2023 as tratativas do PNF.
“Temos como meta reduzir a grande dependência desse insumo que vem de fora”, disse Padilla à reportagem. Ele reafirmou que a meta do PNF é chegar até 2050 com uma produção nacional capaz de atender entre 45% e 50% da demanda interna. Hoje, o Brasil importa 86% de seu consumo de fertilizantes.
O Ministério da Agricultura e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços do Estado do Rio de Janeiro participam da ação, que foca empresas de fertilizantes e projetos de energia verde.
“Estamos identificando lacunas nos setores produtivos, e não é diferente no agro. O objetivo é termos precisão do que é necessidade de adensamento dos [segmentos] das cadeias, e uma delas é diminuir a dependência do Brasil de importar adubo”, disse. Entre 11 companhias que vão participar da rodada, segundo ele, estão algumas que já estão instaladas no Brasil, como as multinacionais Eurochem e Casale e Yara.
Em junho deste ano, por meio da ApexBrasil, a Casale abriu um escritório em São Paulo com o interesse de fortalecer as parcerias com o país na área de fertilizantes nitrogenados, amônia verde e outros insumos. O próximo passo, informou a empresa em nota, é implementar plantas industriais. Embora as conversas envolvam companhias que já têm operações no Brasil, Padilla disse que o objetivo é conquistar mais investimentos e mostrar a capacidade de pesquisa e logística do país.
Para isso, a Apex levará os representantes das empresas ao Porto do Açu, no norte fluminense, onde recentemente a Minasport inaugurou galpões com capacidade de estocar 70 mil toneladas de grãos. Também haverá visita ao Centro de Excelência de Fertilizantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que deve começar a funcionar em 2025, e a parques tecnológicos da capital.
Segundo Padilla, a ideia não é só incluir o Estado no mapa do agro, mas comprovar que as companhias podem injetar recursos em pesquisa e desenvolvimento ou em unidades para escoamento ou estocagem da produção.
A Atlas Agro, empresa suíça, que acaba de iniciar a construção da primeira planta de nitrogenados verdes no Brasil, em Uberaba (MG), também deve participar das rodadas, conforme a Apex. Participará ainda o grupo espanhol Solatio, que tem projeto no Piauí para produção de hidrogênio verde (H2V), que pode viabilizar a produção de fertilizantes verdes.
Entre as convidadas, duas ainda não atuam no país: as estatais bolivianas YPFB — Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos e a EBIH — Empresa Boliviana de Industrialização de Hidrocarbonetos. Carlos Padilla afirmou que o objetivo das conversas com essas empresas é firmar acordo bilateral para fornecimento de gás natural boliviano ao Brasil, um processo de cooperação que já está em tratativa no MDIC.
“A atração de investimentos internacionais para construir fábricas de fertilizantes no país é uma estratégia fundamental. Precisamos ampliar a nossa produção e, para isso, precisamos de investimentos”, disse a gerente de Investimentos da ApexBrasil, Helena Brandão.
Fonte: Globo Rural