Por Ana Ritti e Audryn Karolyne
A crise de excesso de estoques na indústria global de agroquímicos, iniciada nos primeiros dias da pandemia de covid-19, deve persistir ao longo deste ano, com mercados da América do Norte, América do Sul e Ásia resolvendo os problemas em ritmos distintos, destacou o Rabobank, em relatório. No Brasil, entre 2009 e 2021, o fornecimento de ingredientes ativos no País acompanhou o crescimento da área plantada, com aumento médio anual de 7%. Mas, a partir do segundo semestre de 2022, os estoques globais começaram a se tornar “excessivamente grandes”, com a inflação e a reversão do ciclo de demanda da soja e do milho, segundo o banco.
Em 2020 e 2021, a indústria viu um crescimento anual da demanda global em volume de cerca de 9%, impulsionado principalmente pelo aumento dos preços das commodities agrícolas e pela recuperação da área plantada, segundo a instituição. “Essa forte demanda e o medo de escassez de oferta aceleraram as exportações dos principais mercados produtores de agroquímicos – principalmente da China – até 2022”, disse em relatório. No entanto, a cadeia de suprimentos ficou “congestionada” na segunda metade de 2022 e em 2023, com a inflação dos preços dos produtos e um ciclo de demanda “em deterioração”.
O analista de insumos do Rabobank, Bruno Fonseca, ressaltou ainda que, no caso do potássio, o mercado internacional vive um período de sobreoferta do adubo, que se reflete nos preços “em níveis baixos se comparados com seus pares”. “Apesar de sanções econômicas, Belarus (parceira da Rússia) conseguiu se reorganizar para continuar a exportar potássio por meio de outros países como, por exemplo, o Usbequistão”, disse o analista, completando que a Rússia continuou exportando o produto para o Brasil, inclusive com incremento nas exportações, apesar do protesto internacional contra a invasão da Ucrânia.
Além do Brasil, outros mercados experimentaram as pressões de fatores divergentes de oferta e demanda que levaram ao aumento dos estoques. O clima contribuiu para a diminuição da demanda em partes da Ásia, Europa e EUA, com extremos de clima seco e úmido nos últimos anos, disse o Rabobank. “Os EUA viram compras antecipadas exuberantes que possivelmente não correspondem à demanda necessária no nível agrícola”, segundo o relatório.
O cenário é o oposto para o fósforo, que apesar da retomada nas exportações chinesas, restritas no 3º trimestre de 2023, continua com um balanço apertado entre oferta e demanda, completou Fonseca. “Com isso, os preços do MAP (Fosfato Monoamônico) continuam bastante sustentados no mundo inteiro e devem seguir assim pelo restante do ano”. Para ele, a alta dos preços também deve influenciar na demanda de MAP no Brasil. “Nós, inclusive, estamos reduzindo a nossa estimativa de entregas por conta disso, além da menor demanda por fertilizantes para o trigo no Rio Grande do Sul”, acrescentou.
Fonte: Broadcast Agro