Etanol muda a dinâmica do mercado de milho — o produtor agradece

Usina de etanol de milho em Maracaju (MS) – Foto: Cerradinho / divulgação

Por Karina Souza

A indústria de etanol de milho não está nem perto do auge e já transformou a dinâmica de comercialização do milho no País. Boa notícia para o agricultor, que tem encontrado preços mais atrativos ao vender a sua produção graças ao novo consumidor de peso.

Há apenas três anos, as usinas de etanol de milho absorviam 9% da produção nacional do cereal. Na safra 2024/25, esse percentual deve chegar a 19%, segundo estimativa da S&P Global. Em contrapartida, as exportações, que eram o destino de 40% da safra há três anos, verão a sua participação cair para 29%.

Para suportar o crescimento de capacidade de etanol de milho, que pode chegar a cerca de 14 bilhões de litros nos próximos cinco anos, a indústria construiu uma relação de ganha-ganha com produtores brasileiros. Ao estabelecer fábricas no Mato Grosso e em Goiás para aproveitar o milho safrinha (abundante e barato), empresas passaram a assegurar a produção com o pagamento de prêmios ao produtor.

A maior demanda pelo milho brasileiro tem se refletido nos preços internos da commodity, que tem andado mais descolados do movimento dos contratos futuros na Bolsa de Chicago. Enquanto o preço do milho no Brasil acumula uma alta de 18% nos últimos 12 meses, segundo o indicador Esalq, em Chicago o contrato de segunda posição subiu 6%.

“Em 2024, os altos preços do milho brasileiro foram atendidos com demanda externa moderada e um ritmo lento de exportação. Esperamos que essa tendência continue e seja amplificada em 2025”, escreveram os analistas Anamaria Martins e Gabriel Faleiros, da S&P Global, em relatório com perspectivas para o agro em 2025.

Vale lembrar que outros fatores internos também têm contribuído para a trajetória dos preços domésticos do milho, como a preocupação com os estoques após a queda na produção da safra passada e a demanda aquecida da indústria de proteína animal.

Todos esses fatores abrem espaço para os Estados Unidos recuperarem parte do espaço ocupado pelo Brasil nos últimos anos — mas nem de longe isso significa uma crise nacional.

“Acho que vamos continuar em segundo lugar na exportação de milho nos próximos dois anos porque o mercado [interno] está muito pujante. O mercado de etanol de milho… A produção de frango está num cenário fantástico”, disse o CEO da Cargill no Brasil, Paulo Sousa, durante o podcast Futurum Talks, na semana passada.

Fonte: The AgriBiz