Etanol ainda é mercado de nicho, mas com grande potencial, dizem executivos

FPBio diz que algumas vias de escoamento do produto dentro do Rio Grande do Sul já estão desobstruídas — Foto: Canva/ Creative Commoms

Por Gabriella Weiss

A principal dificuldade para a expansão do biocombustível está em aumentar a escala de produção, já que a demanda existe tanto como combustível quanto na indústria, afirmou Ricardo Mussa, CEO da Raízen. “Hoje não há disponibilidade suficiente para fazer grandes mudanças” e para uma ampla adoção do etanol, disse em evento promovido pelo BTG Pactual nesta segunda-feira (4/11).

Para Tomás Manzano, CEO da Copersucar, os desafios vão além da questão da escala. Ele mencionou uma “cesta de riscos” envolvendo aspectos regulatórios, tecnológicos e o montante de investimentos necessário, destacando a importância de incentivos para reduzir esses riscos e ampliar a produção.

Mussa destacou que o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) pode se tornar um dos mandatos mais efetivos a curto prazo, com grande potencial para exportação brasileira. Ele afirmou que o Brasil precisa se posicionar como produtor de SAF.

“O Brasil tem que olhar para sua matriz – e o Combustível do Futuro ajuda a equacionar isso e tornar a discussão mais palpável – para se posicionar como grande hub de exportação de energia, como SAF e energia”, afirmou.

O executivo defendeu a eletrificação dos processos para gerar um excedente de biomassa voltado à produção e exportação de biocombustíveis, incluindo o SAF. Segundo ele, enviar etanol para produção de combustível de aviação no exterior é uma “idiotice logística”.

Rafael Abud, CEO da FS Fueling Sustainability, apontou que, apesar do crescimento, o mercado de etanol ainda é especializado. “O etanol ainda é uma gota no oceano frente ao petróleo, então é difícil que se torne uma commodity global, mas será um agente importante de descarbonização.” Abud acrescentou que cada mercado exige especificidades técnicas, metodológicas e de certificação que podem complicar a comoditização do etanol.

“É difícil tornar o etanol uma commodity global e nem sei se é necessário”, comentou Mussa. “O tamanho do mercado é muito maior do que imaginamos e, às vezes, esse nicho é bom: você vende mais caro e tem prêmio do produto.” Ele mencionou que, atualmente, o etanol exportado é vendido entre 27% e 30% acima do preço cotado no mercado interno pelo Cepea-Esalq.

Para Abud, ainda há o desafio de “equacionar um gap [diferença] importante de preço”. No caso do combustível de aviação, “há um grande gap entre o fóssil e o renovável, e o desafio é como monetizar a descarbonização deste produto”.

Manzano acrescentou que, segundo levantamento da Copersucar, produzir a mesma quantidade de emissões no Japão, por exemplo, exigiria de 30% a 40% mais matéria-prima, o que representaria um custo adicional de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões por ano para uma planta média. “É um momento muito estratégico para o Brasil”, concluiu.

Fonte: Globo Rural