A inadimplência de algumas distribuidoras de combustíveis, que não vem adquirindo CBios conforme as regras fixadas pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), vem causando perdas acentuadas para os produtores de etanol. É uma situação que pode piorar, pois até a última semana, da meta de 38,8 milhões de CBios fixada para 2024, apenas 27,2 milhões foram comprados e aposentados, deixando mais de 10 milhões de CBios que precisam ser adquiridos até dezembro.
Esse foi um dos destaques do café da manhã entre executivos da SCA Brasil e investidores do braço brasileiro do banco de investimentos J.P. Morgan, realizado na sexta-feira (20/09) em São Paulo. Do lado dos produtores, não há falta de comprometimento com o programa: a oferta de CBios até o final de 2024 deve superar o total programado para o ano.
“Expressamos nossa preocupação em relação a isso, pois aproximadamente oito milhões de CBios já deixaram de ser aposentados até o final de 2023, resultando em uma receita perdida de cerca de R$ 1 bilhão para os produtores”, destacou o CEO da SCA Brasil, Martinho Seiiti Ono.
No encontro, Ono e o head de Inteligência de Mercado da SCA Brasil, Renan Santos, pontuaram que algumas distribuidoras, mesmo obrigadas a cumprir metas estabelecidas pela ANP, seguem inadimplentes e sem realizar as compras e aposentadorias, seja por decisão própria ou amparadas por ações liminares.
O andamento da safra de cana-de-açúcar em São Paulo até o final de agosto também foi detalhado, com atenção especial para os impactos da seca e dos incêndios que vêm ocorrendo nas últimas semanas. “Cerca de 400 mil hectares de área foram afetados pelos incêndios, com aproximadamente 55% da área de cana ainda em pé e o restante, cerca de 180 mil hectares, em processo de brotação”, detalhou Ono. Segundo ele, devido às perdas na produção, será necessário um aumento no CAPEX para a recuperação das áreas afetadas.
Os executivos da SCA Brasil frisaram que a combinação da estiagem de mais de quatro meses e os incêndios está impactando diretamente a produtividade, reduzindo a moagem inicialmente prevista de 620 milhões de toneladas para uma nova estimativa entre 600 e 605 milhões de toneladas na atual safra. O calor e os incêndios também têm prejudicado a qualidade da cana, resultando em muitas impurezas, o que dificulta a produção de açúcar, que também será menor do que as previsões iniciais.
Questionados sobre as consequências para a safra 2025-2026, Ono e Santos concluíram que o calor e as queimadas estão afetando o desenvolvimento da cana, projetando uma produtividade inferior à desta safra. Essa consequência negativa poderá ser parcialmente amenizada se as chuvas na entressafra se intensificarem.