‘Drill, baby, drill’: A balança financeira do petróleo e fósseis se equilibra com a transição energética?

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Por Pasquale Augusto

Chris Wright, secretário de Energia dos Estados Unidos, defendeu nesta semana, durante a CERAWeek, uma das principais conferência globais sobre energia, que a transição energética para renováveis como eólica e solar tem levado a custos mais elevados e a uma maior instabilidade na rede elétrica.

“A energia solar e eólica, queridinhas da administração anterior (de Joe Biden) e de grande parte do mundo atualmente, fornecem cerca de 3% da energia primária global. Sempre que a penetração da energia eólica e solar aumentou significativamente, os preços da eletricidade subiram e a estabilidade da rede diminuiu”, disse.

Ele também destacou que o gás natural fornece 25% da energia primária global e tem sido a fonte que mais cresce nos últimos 15 anos. Wright se referiu como um “realista climático”.

“Esse caminho (energias renováveis) realmente colocará o gás natural no passado? Os fertilizantes nitrogenados, sintetizados a partir do gás natural, são responsáveis por metade da produção global de alimentos. O gás natural é responsável por 43% da eletricidade dos EUA. Não há maneira física de que a energia eólica, solar e as baterias possam substituir os inúmeros usos do gás natural”.

Além disso, no fim do seu discurso, Wright ressaltou que a inteligência artificial (IA) será transformadora, mas afirma também que essa revolução tecnológica depende de um fator: energia.

“Gerar inteligência exige grandes quantidades de eletricidade. Quanto mais energia tivermos, mais poder de inteligência seremos capazes de produzir. Nos últimos quatro anos, os preços da eletricidade nos Estados Unidos subiram mais de 20%, apesar de um crescimento de apenas 2% na demanda. Se essa trajetória continuar, teremos um desastre iminente no fornecimento de eletricidade. O sucesso exigirá políticas energéticas racionais e uma avaliação verdadeiramente honesta sobre as mudanças climáticas”.

O mercado de petróleo e lado ambiental

Também nesta semana, durante a CERAWeek , Jeff Currie, do Carlyle Group, disse que o pico do comércio de petróleo se deu em 2017 e deve diminuir com avanço dos investimentos e da agenda da transição energética.

O secretário executivo do Consórcio Amazônia Legal e membro do Instituto de Pesquisa Ambiental (IPAM) da Amazônia, Marcello Brito, concorda com essa visão que o pico do petróleo já passou. 

“A China, maior consumidor de fósseis do mundo, quer atingir o net zero para 2060 e acreditava que o pico das emissões ocorreria em 2032, mas eles já anunciaram que ocorreu no ano passado. Essa é uma sinalização muito interessante. Apesar disso,  80% dos problemas das emissões do mundo vem dos combustíveis fósseis e essa transição é muito lenta. A posição atual dos EUA retarda ainda mais essa mudança”. 

Ele lembra que os renováveis respondem por 5% da demanda global. “Falar em acabar com o uso de fósseis hoje não é real. Não há substituto, seja no curto ou médio prazo. É um caminho que precisa ser construído, mas isso é difícil porque há um jogo de poder da turma que domina essa área no mundo, como os EUA, Rússia e países árabes. Existe condição de colocar isso em um projeto? Acho muito difícil acontecer na COP30, em Belém”.

As sinalizações de Donald Trump

Brito cita que é um “azar do Brasil ter a COP no país com a guinada do governo norte-americano”. Na sua volta a Casa Branca, o presidente Donald Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo de Paris, algo que já havia acontecido em seu primeiro mandato.

“Na época do Trump I, lá em Madri (COP25), tinha um pavilhão das empresas e estados norte-americanos que tinha um ditado: ‘We are still in‘ (Ainda estamos dentro). Com essa pressão do Trump, eu não sei se um grupo significativo de grandes empresas e estados americanos, salvo os democratas, vão se opor a isso. Ter os EUA, a maior potencial mundial fora do jogo é muito ruim”.

O secretário executivo do Consórcio Amazônia Legal ainda menciona o lema da campanha da Donald Trump: “Drill, baby, drill” (algo como “perfure, baby, perfure”, em referência à exploração de poços de petróleo).

Com isso em mente, Brito aproveita para citar a quantidade de licenças que o Ibama emitiu com a perfuração de poços de petróleo no Nordeste e na Margem Equatorial. 

“As empresas vão querer perfurar mesmo? Qual a equação econômica? Se estamos olhando para um processo de desaceleração, ninguém faz investimento num poço novo para 10 anos. Você faz um investimento para 30, 40, 50 anos. A equação financeira para novos poços se equilibra? Se sim, até quando? Noruega continua perfurando, Estados Unidos está perfurando, todo mundo continua perfurando. O Brasil continua perfurando”.

E a China?

Brito lembra que quando os Estados Unidos saíram do Acordo de Paris no primeiro governo Trump, a China abraçou fortemente a agenda climática.

“A China hoje é o maior produtor de máquinas e equipamentos e insumos relacionados à economia verde no mundo. Eles são maiores em eólica, solar e baterias. Quando Trump anunciou novamente a saída do acordo, Xi Jinping disse que o Acordo de Paris é sine qua non (indispensável) para o desenvolvimento da China”. 

O secretário executivo do Consórcio Amazônia Legal diz que a agenda é uma grande oportunidade para China porque eles tem feito sua lição de casa de maneira intensa.

“A China hoje é o país que mais planta floresta no mundo. É o país que mais recupera pastagens do mundo. Por que eles são ambientalistas? Não, porque eles viram que isso é uma maneira de você recuperar a qualidade dos solos, de você recuperar nascentes de água. Se você pegar todo o processo de degradação que foi causado nessa aceleração impressionante econômica que eles tiveram, dá para dizer que eles estão num processo de um desenvolvimento regenerativo que seja sustentável. Não tem nada de ser ambientalista, é um negócio verde”. 

Fonte: Money Times