Combustível verde de aviação: entenda como o Brasil pode se tornar líder na produção do SAF

Palmeira de dendê, macaúba, cana, eucalipto, soja, milho e até agave (a suculenta usada na produção de tequila). Todas essas são plantas que o Brasil pode cultivar para fabricar SAF, o combustível sustentável de aviação feito a partir de óleos vegetais ou animais que tem enorme potencial de exploração no País e um mercado ávido para consumi-lo, mas que ainda não é fabricado no Brasil fora de laboratórios. Para especialistas, devido às condições climáticas e de solo, o País tem condições de liderar o setor de combustíveis limpos com uma enorme variedade de matérias-primas.

“O Brasil tem uma quantidade e sortimento de matérias-primas grande. E esse é o principal gargalo no mundo. Tem também muita área para expandir essas produções, áreas de pastagens degradadas. São poucos países que têm isso”, diz Marcelo Moreira, sócio da consultoria Agroicone.

Segundo Moreira, apesar do potencial agrícola, os EUA, por exemplo, não têm tanto solo degradado para ampliar seus cultivos como o Brasil, o que impõe um desafio adicional para os americanos. Isso porque o país teria de abrir novas áreas para plantar matéria-prima, mas o Corsia (programa de redução das emissões elaborado pela Organização da Aviação Civil Internacional) pune combustíveis feitos a partir de insumos ligados ao desmatamento.

O consultor aponta que os EUA não contam com a cana-de-açúcar nem com a safrinha de milho como o Brasil. Ainda assim, os EUA também estão entre os países com capacidade para se destacar nesse setor. Favorece o desenvolvimento dessa indústria por lá o fato de o governo de Joe Biden ter estabelecido uma política de subsídios.

Um dos grandes desafios para a consolidação do mercado global de SAF – cuja oferta hoje corresponde a apenas 0,2% do combustível de aviação consumido globalmente por ano – é a disponibilidade de matéria-prima. Óleo de cozinha usado, por exemplo, também poderia ser usado na fabricação do produto, mas demandaria um complexo sistema de logística.

O aumento da demanda pelo produto, entretanto, é tido como certo. Ele é a principal aposta para descarbonizar o setor aéreo, pois emite de 60% a 80% menos carbono do que o querosene de aviação. Daí a necessidade de ampliar sua produção.

O presidente da Boeing para América Latina e Caribe, Landon Loomis, afirma que a companhia acredita que o “Brasil está preparado para desempenhar um papel decisivo no escalonamento da produção de SAF em nível global”. “O País tem grande experiência em toda a cadeia de produção de biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel. (…) Temos trabalhado com nossos parceiros para entender o potencial das matérias primas tradicionais, assim como novas opções para a produção de SAF”, diz o executivo.

Uma pesquisa da Boeing em parceria com a Roundtable on Sustainable Materials (RSB) indicou que o País poderia produzir, apenas com bagaço de cana, resíduos de madeira, gases de combustão, sebo bovino e óleo residual de cozinha, 25% a mais de combustível verde de aviação do que o volume consumido atualmente de combustível fóssil no mercado doméstico.

A empresa americana tem financiado pesquisas no Brasil sobre o combustível sustentável e renovou uma parceria com a Unicamp para manter um banco de dados sobre a disponibilidade das matérias.

Fonte: UDOP