Por Carlos Catelan, Guilherme Resck, Leonardo Cavalcanti e Lis Cappi
Como uma rodovia esburacada, sem acostamentos ou sinalizações, o Brasil tem dificuldades de chegar a um destino importante para o meio ambiente e para a própria eficiência do transporte. A transição das fontes fósseis para ecológicas tem uma longa estrada pela frente, o combustível do futuro ainda está distante.
Nos últimos 20 anos, houve uma evolução da lógica empresarial e governamental sobre os ganhos do desenvolvimento sustentável para o meio ambiente e para a própria economia. De alguma maneira se sabe o que fazer. A dificuldade é como fazer. Assim, sabemos onde precisamos chegar, mas é como se não soubéssemos avançar em políticas públicas permanentes e transparentes.
Nessa rodovia tortuosa um dos consensos é ampliar o número de fontes, das fósseis – que ainda devem predominar por um longo tempo – ao biometano, à eletromobilidade, ao hidrogênio renovável e ao diesel verde.
“As queixas dos setores dentro desse ciclo, entretanto, não têm sido atendidas, o país está colocando todas as fichas em uma única alternativa de transição, que é o biodiesel, se fala muito pouco das outras rotas”, diz Bruno Batista, diretor-executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT).
Os olhos do setor empresarial e governamental se voltam para o projeto de lei 528/2000, conhecido como “combustível do futuro”, aprovado na Câmara dos Deputados e em tramitação atualmente no Senado.
Apostar apenas no biodiesel atrasa a produção tecnológica de outras fontes, e freia o compromisso ambiental no Brasil com a comunidade internacional, de redução das emissões de carbono. O que se percebe é que o consumo não cai e as emissões têm se agravado.
No projeto em discussão, existe um trecho que prevê um percentual de mistura de biocombustível à fonte fóssil. Mas não há uma determinação de qual momento deve se dar o acréscimo. Diz apenas que, entre 2027 e 2037, o percentual deve ficar entre 1% e 3% do volume total de diesel fóssil, o que é considerado insuficiente para uma política efetiva de mudança ambiental.
O principal entrave para o desenvolvimento tecnológico é o custo. A partir desse obstáculo, há outros ainda maiores. Cada uma das fontes tem particularidades, desafios, por mais que apresentem vantagens do ponto de vista ambiental.
No caso da eletromobilidade, por exemplo, o número de postos é ínfimo. Uma conta simples mostra o tamanho da encrenca. Enquanto existem hoje no Brasil cerca de 40.000 postos de abastecimento de combustíveis fósseis, o número de eletropostos chega a 4.600 (11% do total).
No caso do biometano, é necessário um investimento ainda incalculável para instalações e condicionamento.
Para o hidrogênio renovável, é preciso um elevado nível de segurança por ser muito inflamável.
O diesel verde tem preços elevados em relação ao combustível tradicional.
É toda uma engenharia de investimentos que precisa ser definida, inclusive para saber quem vai pagar tal conta – que não seja o consumidor, por óbvio.
Entre os problemas operacionais, há panes de veículos, estradas ruins, o que impacta no rendimento de ônibus e caminhões, aumentando o consumo e, por tabela, as emissões. Além disso, há um aumento na troca de filtros de combustíveis, substituídos cada vez mais com um menor número de quilômetros rodados. Todas a vezes que se troca um filtro, gera-se um elemento contaminante. A solução distante é a multiplicidade de rotas de desenvolvimento.
Fonte: SBT News