Clima adverso e queda das commodities reduziram lucro da BrasilAgro em 2024

André Guillaumon, CEO da BrasilAgro diz que a empresa é resiliente
Foto: Divulgação/BrasilAgro

Por Fernanda Pressinott

Os problemas climáticos da temporada 2023/24 e a queda dos preços das commodities afetaram o lucro da BrasilAgro no ano fiscal 2024. O lucro líquido da empresa foi de R$ 226,9 milhões no exercício, um resultado 16% inferior ao de 2023 (referente à safra 2022/23) e recuou 4% no quarto trimestre, para R$ 232,8 milhões.

A margem líquida total, por sua vez, subiu dois pontos percentuais em 2024, para 21%, e quatro pontos percentuais no quarto trimestre, para 42%. “As novas operações em Mato Grosso enfrentaram escassez de chuvas e, na soja, tiveram produtividade abaixo do esperado. No caso do milho, a queda dos preços nos fez reduzir a área de plantio. Ao mesmo tempo, vendemos parte da fazenda Chaparral, na Bahia, por R$ 243,6 milhões e tivermos ótimos resultados com o algodão”, disse ao Valor o CEO da empresa, André Guillaumon.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado da empresa caiu 48% em 2024, para R$ 279,8 milhões, quando a margem Ebitda foi de 25%, ou 14 pontos percentuais menor do que a de 2023. No quarto trimestre, o Ebitda ajustado recuou 30%, para R$ 263,4 milhões, e a margem Ebitda, 12 pontos percentuais, para 45%.

A receita líquida total da BrasilAgro foi de R$ 1,1 bilhão no ano, o que representou uma queda de 20% em comparação com 2023, e recuou 13% no quarto trimestre, para R$ 551,7 milhões. A negociação da fazenda Chaparral respondeu por R$ 243,6 milhões da receita. Outros R$ 4,7 milhões foram uma diferença de hectares na Jatobá (BA), propriedade que a empresa negociou em 2023. A atualização das dimensões ocorreu no momento da entrega da fazenda.

Operações agropecuárias

As operações agropecuárias responderam pelo restante da receita. A área de plantio da BrasilAgro em 2023/24 foi 8% menor que a estimativa inicial devido à queda dos preços do milho. A receita líquida com o grão caiu 40% de um ano a outro, para R$ 88,3 milhões.

O feijão ocupou parte da área que seria do milho safrinha, o que fez sua área de plantio crescer 61% entre 2022/23 e 2023/24. “Buscamos um cultivo que fosse menos exigente com água”, afirmou Guillaumon. A despeito do aumento de área, a receita com feijão recuou 9%, para R$ 11,3 milhões, em virtude, também, da queda do preço do produto.

Sobre a soja, o executivo explica que a empresa abriu áreas novas na região de Primavera do Leste (MT), mas que, como elas são imaturas, o rendimento médio da empresa com a commodity diminuiu. Entretanto, Guillaumon que essas áreas são promissoras.

“Fizemos um arrendamento a preços muito competitivos para a região e de longo prazo, até 2040. Essa área promete bom rendimento tanto para a soja quanto para o algodão porque já tem 18% de área irrigada”, contou. A receita líquida com soja da BrasilAgro caiu 26% em 2024, para R$ 311,2 milhões.

Além de ter sentido os impactos do declínio da produtividade do grão, a companhia decidiu segurar as vendas de soja ao longo do ano para esperar a melhora dos preços, o que só aconteceu no quarto trimestre. Em 2024, a empresa negociou 166,13 milhões de toneladas da oleaginosa, um volume 8% menor do que o do ano anterior.

O algodão teve os resultados mais positivos do ano — as vendas da pluma dobraram. “Fomos resilientes aos problemas de safra que todos enfrentaram. É por isso que faz sentido ser acionista da BrasilAgro, em vez de comprar derivativos de grãos no mercado futuro”, afirmou o executivo.

Perspectivas

Para 2024/25, as perspectivas são de melhora das margens, mas a safra deve ser “dura”, sem ganhos expressivos. “Com uma safra cheia nos Estados Unidos e no Brasil, a relação está mais favorável para oferta do que para a demanda. Além disso, a China está crescendo menos e deve comprar menos grãos. A diferença é que estamos mais preparados”, disse ele.

A BrasilAgro já fixou a venda de 18% da safra de soja 2024/25 ao preço de US$ 12,40 o bushel e travou 30% do câmbio dos embarques de soja em R$ 5,47. No caso do algodão, a empresa já fixou o preço de 19% da produção, a 82,22 centavos de dólar por libra-peso.

“O algodão está remunerando melhor, e também estamos investindo mais em irrigação na Bahia, o que deve aumentar nossa margem. Mas sabemos que todos os produtores vão também ampliar o cultivo de algodão. É por isso que estamos nos adiantando e vendendo a safra futura”, disse o executivo. Em 2024/25, a empresa pretende fazer um aumento de 10% na área de plantio de soja e de 88% na de algodão.

Gustavo Lopez, diretor de relações com investidores da BrasilAgro, lembra que a empresa também comprou uma área de cana de 7 mil hectares em São Paulo para entrar no mercado de açúcar. Até fechar o negócio, a BrasilAgro só comercializava cana para a produção de etanol.

Como parte de seu planejamento para 2024/25, a BrasilAgro já comprou 65% do volume de fertilizantes nitrogenados que prevê utilizar, 83% do cloreto de potássio, 80% dos fosfatados, 95% do NPK e 70% dos defensivos.

Fonte: Globo Rural