Centro de inovação no Brasil deixa John Deere mais ‘tropical’

Foto: Divulgação/John Deere

Por Fernanda Pressinott

A americana John Deere vai inaugurar hoje seu primeiro centro de inovação e desenvolvimento de produtos fora do Hemisfério Norte. Localizada em Indaiatuba (SP), a unidade recebeu investimento de R$ 180 milhões.

Com o centro, em vez de “tropicalizar” tecnologias para adaptá-las às necessidades dos produtores da América Latina, a companhia poderá desenvolver esses produtos na nova estrutura. “É um lugar de primeira linha, que criará equipamentos já pensando na agricultura tropical”, disse ao Valor Antonio Carrere, vice-presidente de vendas e marketing da John Deere no Brasil.

A inauguração ocorre em um momento em que a empresa prepara uma ampla renovação nas opções de maquinário que oferece aos produtores brasileiros: em 2025, ela prevê fazer o maior número de lançamentos de produtos em sua história de atuação no país. A apresentação de colheitadeiras, pulverizadores, plantadeiras e tratores para diferentes culturas vai ocorrer na Agrishow, em Ribeirão Preto (SP) — a feira, a maior da indústria de máquinas agrícolas da América Latina, será no fim de abril.

Todas as máquinas terão soluções com inteligência artificial, visão computacional e tecnologia de aprendizagem de máquina. Os algoritmos são da própria John Deere. “Esses equipamentos têm custo inicial mais alto, mas o produtor já percebeu que eles entregam resultado melhor, e, portanto, mais lucratividade”, disse o executivo.

Depois de dois anos em queda, a receita das indústrias de máquinas e equipamentos agrícolas deverá crescer 8% em 2025, segundo projeção que a Associação Brasileia da Indústria de Máquinas (Abimaq) apresentou na semana passada. “As indústrias de máquinas embarcaram na euforia de 2022, e isso foi um erro. Por isso, desde então, amargamos margens ruins, e todas tivemos que fazer ajustes”, afirmou Carrere.

O faturamento global da companhia deverá cair cerca de 10% em 2024, para US$ 55 bilhões. No ano passado, a receita cresceu 16%, para US$ 61,25 bilhões, graças, principalmente, ao bom desempenho no primeiro semestre.

Com o desaquecimento das vendas, a empresa demitiu mais de 3 mil de seus 83 mil funcionários e paralisou operações por períodos determinados tanto em 2023 quanto em 2024. No Brasil, a John Deere tem 9 mil funcionários.

Agora, diz Carrere, a produção está ajustada à demanda atual, mas as unidades fabris continuarão com capacidade instalada ociosa. A companhia tem sete unidades no Brasil. Dessas, quatro são fábricas.

Com a queda dos preços de commodities como soja e milho, o produtor deverá continuar retraído em 2025, limitando seus investimentos em maquinário — as duas são responsáveis por 70% das vendas totais de máquinas. “Os preços não estão ruins, mas os agricultores estão com a cabeça em 2022, quando as cotações eram recorde”, afirmou o executivo.

A valorização do dólar em relação ao real também deverá mudar um pouco a dinâmica das vendas da John Deere e de toda a indústria — a alta da moeda americana encarece os insumos para indústrias e produtores, mas, por outro lado, melhora a rentabilidade dos produtores rurais na exportação das commodities. Um elemento que deve inibir as vendas de máquinas é a alta taxa de juros no país.

Uma estratégia da empresa com potencial de ter resultados já no curto prazo é um novo modelo de negócios: nele, o cliente paga por um kit de itens essenciais para agricultura de precisão. O custo, variável, depende do nível de uso. “Acreditamos que ele vai responder por 10% das vendas globais até 2030”, disse Carrere.

O modelo de “Solution as a Service” (SaaS) oferece a conexão de equipamentos agrícolas com satélites da SpaceX e dá ao fazendeiro uma opção de pagamento que reduz seus custos iniciais. Em um cenário de demanda por equipamentos agrícolas tradicionais em queda, a novidade pode gerar fluxos de receita mais recorrentes.

Fonte: Globo Rural