Cana-de-açúcar é a nova “mina de ouro” e pode transformar o Brasil em referência mundial na produção de bioplásticos

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Por Ruth Rodrigues

O Brasil tem o potencial de se tornar um líder global na produção de bioplásticos, de acordo com um estudo recente realizado pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). A produção de bioplásticos a partir da cana-de-açúcar pode colocar o Brasil em uma posição de destaque no mercado mundial de plásticos sustentáveis, aproveitando áreas degradadas para o cultivo da cana-de-açúcar e promovendo a redução das emissões de carbono.

O papel da cana-de-açúcar na produção de bioplásticos

O estudo aponta que o polietileno de base biológica (bioPE), fabricado a partir da cana-de-açúcar, pode ser um material essencial para a transição do mundo para uma economia de baixo carbono.

Thayse Hernandes, engenheira agrícola e pesquisadora do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), ressalta que a produção de bioplásticos com cana-de-açúcar pode substituir o plástico tradicional, mantendo as mesmas propriedades, o que permitirá ao Brasil expandir significativamente sua produção de plásticos sustentáveis. De acordo com o estudo, o Brasil possui uma vasta área disponível para o cultivo de cana-de-açúcar.

Dos 35,6 milhões de hectares de terras que poderiam ser usados para o plantio de cana, cerca de 3,55 milhões de hectares seriam suficientes para a produção de bioplásticos, sem prejudicar a biodiversidade. Essa área seria capaz de produzir aproximadamente 38 milhões de toneladas de bioplástico anualmente, o que atenderia a 35% da demanda global atual por polietileno.

A produção de bioplásticos a partir de cana-de-açúcar no Brasil tem o potencial de ser um marco importante para a indústria de plásticos, com impactos positivos na economia e no meio ambiente. Embora o Brasil tenha todas as condições para se tornar um líder na produção de bioplásticos, existem desafios significativos.

A produção de etanol, principal matéria-prima para a fabricação de bioplásticos a partir da cana-de-açúcar, precisa ser feita de maneira sustentável. A produção de bioplásticos no Brasil deve ser realizada sem comprometer os recursos naturais e sem aumentar as emissões de gases de efeito estufa.

A produção de etanol a partir de cana-de-açúcar já é uma importante fonte de energia renovável no Brasil, mas deve ser aprimorada para garantir que os bioplásticos resultantes sejam verdadeiramente sustentáveis.

Thayse Hernandes alerta para a importância de manter o equilíbrio entre a produção de bioplásticos e a preservação ambiental. “O desafio é produzir bioplásticos de forma que a produção de cana-de-açúcar para esse fim não cause impactos negativos, como o aumento das emissões de carbono”, afirma a pesquisadora.

Potencial de mitigação de carbono e a importância da reciclagem

Outro benefício da produção de bioplásticos a partir da cana-de-açúcar no Brasil é o potencial de mitigação de carbono.

A pesquisa mostra que, se a produção de bioplásticos for expandida para 22,2 milhões de hectares de cana-de-açúcar, o Brasil poderia estocar cerca de 52 milhões de toneladas de CO2 por ano.

Esse número representa 12% das emissões de carbono do setor energético brasileiro, o que demonstra o grande potencial de contribuição dos bioplásticos na redução das emissões globais de carbono.

No entanto, como o bioPE não é biodegradável, a reciclagem eficiente é essencial. A pesquisadora ressalta a necessidade de se desenvolver cadeias de reciclagem mais eficientes para que os bioplásticos possam ser reutilizados de maneira eficaz.

O Brasil terá de investir em novos processos de reciclagem, como a reciclagem química e biológica, que são capazes de preservar a qualidade do material e reduzir a necessidade de novos insumos para a produção de bioplásticos.

O futuro dos bioplásticos no Brasil

Com a combinação de recursos naturais abundantes e uma crescente demanda por alternativas sustentáveis, o Brasil tem a oportunidade de liderar o mercado global de bioplásticos.

A produção de bioplásticos a partir de cana-de-açúcar pode ser um marco importante para a indústria de plásticos, ajudando o Brasil a se tornar um líder na produção de plásticos sustentáveis e a contribuir para a redução das emissões de carbono no mundo.

Fonte: Portal CPG