BNDES aprova R$ 1 bilhão para Raízen investir em etanol de segunda geração

Foto: Divulgação/Raízen

Por Vinicius Neder

O BNDES aprovou um empréstimo de R$ 1 bilhão com juros mais baixos para o programa de construção de usinas de etanol de segunda geração (E2G) da Raízen, maior produtora de açúcar e etanol do país, controlada em sociedade pelo grupo Cosan e pela petroleira anglo-holandesa Shell.

O E2G é fabricado a partir de celulose encontrada na palha da cana, na madeira ou em outras plantas. Associado ao etanol de primeira geração, permitiria ampliar a produção do biocombustível, ao aproveitar partes da cana que seriam descartadas.

Para o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, a construção das unidades de E2G “vai contribuir para a expansão da fronteira tecnológica brasileira, além de atrair mais investimentos para a cadeia de fornecedores de insumos, máquinas e equipamentos”.

De acordo com o BNDES, do total de R$ 1 bilhão, metade virá do BNDES Mais Inovação e metade virá do Fundo Clima.

“O banco dispõe dos instrumentos fundamentais, como o Fundo Clima, que apoia projetos que visam a descarbonização, com apoio à produção de biocombustíveis, e o Mais Inovação, que impulsiona o desenvolvimento de tecnologias disruptivas e que agreguem valor à produção nacional”, disse Mercadante, em nota.

As duas linhas possuem juros abaixo das taxas de mercado e foram criadas desde 2023. Elas fazem parte de um conjunto de medidas da gestão de Mercadante que procura oferecer juros menores para investimentos mais específicos, já que, desde 2018, a TLP, taxa que baliza a maior parte dos financiamentos do BNDES, segue as cotações de mercado, reduzindo o excesso de subsídios que foi alvo de críticas nos governos anteriores do PT.

Tecnologia cara demais

Em 2020, o Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), estimou que a incorporação generalizada do etanol de segunda geração poderia ampliar a produção total em mais 50%.

O E2G também promete usar biomassas que são pouco aproveitadas, como sobras de madeira, para fabricar biocombustíveis – em um cenário de demanda crescente dada a necessidade de reduzir as emissões de gases do efeito estufa nos transportes em geral, para conter as mudanças climáticas.

Só que a tecnologia do E2G, que vem sendo desenvolvida há cerca de 20 anos, ainda é incipiente do ponto de vista comercial. Isso porque o custo de produção, que depende do desenvolvimento tecnológico de enzimas para “quebrar” a celulose, é muito elevado. Em geral, a conta não fecha.

Cada usina de E2G da Raízen requer investimento de mais de R$ 1 bilhão. Segundo o BNDES, o novo empréstimo custeará os aportes na construção de uma unidade em Andradina (SP), que custará R$ 1,4 bilhão.

A Raízen é a principal empresa a seguir apostando na nova rota tecnológica. Quem é cético em relação à viabilidade comercial do E2G costuma ponderar que a aposta só para de pé porque a demanda é garantida pela Shell, uma das acionistas da companhia – e a petroleira está diretamente exposta às regulações mais duras em relação à descarbonização da União Europeia (UE), ou seja, teria interesse em comprar o E2G.

Pisada no freio

Mesmo assim, a gigante do açúcar e etanol pisou no freio em seu programa de desenvolvimento do E2G. Um ano atrás, a companhia falava em construir oito usinas até 2027, de um total de possíveis 20 até 2030.

Agora, serão cinco até 2027 e nove, até 2030, segundo novo cronograma apresentado pela Raízen em novembro passado, refletindo uma “moderação” nos investimentos, “considerando o ambiente macroeconômico”, em uma referência à elevação dos juros e da taxa de câmbio.

Das nove unidades previstas, duas estão em operação, em Piracicaba (SP) e em Guariba (SP), e mais duas estão prestes a começar a produzir. No terceiro trimestre de 2024, a Raízen produziu 15 milhões de litros de E2G, um salto de 74% ante igual período de 2023. Segundo a apresentação dos resultados financeiros, toda a produção foi “exportada para atender à crescente demanda de clientes globais pelo biocombustível”.

A usina a ser custeada pelo empréstimo de R$ 1 bilhão do BNDES começou a ser construída em 2023, está com 25% das obras concluídas e deverá ficar pronta em 2028, conforme o cronograma atualizado da Raízen. Assim como oito das nove usinas previstas, terá capacidade de produzir 82 milhões de litros de etanol por ano.

Fonte: NovaCana (O Globo)