O contrato futuro de açúcar com vencimento em março de 2024, negociado em Nova York, fechou a semana com uma variação mínima, sendo cotado a 23.99 centavos de dólar por libra-peso, mantendo-se praticamente estável em comparação ao fechamento da semana anterior. Observou-se um leve aumento nos demais vencimentos, com uma média de elevação de 24 pontos, o que representa um acréscimo de pouco mais de 5 dólares por tonelada.
O mercado de açúcar continua a demonstrar uma volatilidade característica, com movimentos oscilatórios que parecem sinalizar uma direção baseada em fundamentos econômicos, porém frequentemente desvia-se de seu curso previsto. Dessa forma, várias incertezas se apresentam para os participantes do mercado e para os tomadores de decisão.
À medida que os primeiros relatórios de safra começam a ser divulgados, observamos estimativas preliminares que sugerem uma produção total entre 590 e 600 milhões de toneladas. É importante considerar esses números com cautela, como a experiência reiteradamente nos ensina, especialmente porque ainda estamos nos estágios iniciais de avaliação.
Para contextualizar, no início da safra 2023/2024 do Centro-Sul, as estimativas iniciais de fevereiro de 2023 indicavam uma produção de 575 milhões de toneladas. Este exemplo serve como um lembrete de que as previsões podem sofrer ajustes significativos à medida que mais dados se tornam disponíveis.
Atualmente, indica-se que a safra 2024/2025 do Centro-Sul pode apresentar uma redução em relação à produção anterior, que registrou um volume impressionante entre 645 e 650 milhões de toneladas, beneficiada por um ano de condições quase perfeitas, incluindo um aumento significativo de 8,5 milhões de toneladas na produção de açúcar somente naquela região. Este cenário de alta produção serve como referência para as expectativas futuras.
Quanto aos preços, é nossa análise que o mercado necessitaria de notícias extremamente negativas para que os preços do açúcar caíssem abaixo dos 22 centavos de dólar por libra-peso. Vale recordar que, quando os preços atingiram a marca de 20 centavos de dólar por libra-peso no final do último ano, tal movimento foi influenciado por operações desfavoráveis em derivativos considerados tóxicos, que resultaram na perda de estruturas de mercado essenciais e deixaram os gestores de risco, ou hedgers, sem a devida proteção de preço.
Atualmente, observamos uma estabilidade no mercado, sem as interferências externas previamente mencionadas. Analisamos que preços abaixo de 22 centavos de dólar por libra-peso podem afetar significativamente a dinâmica do mercado de açúcar, especialmente em países como a Tailândia. Nesse contexto, produtores tailandeses podem considerar a transição para culturas mais lucrativas diante de preços menos atrativos para o açúcar. Da mesma forma, na Índia, uma redução nos preços pode incentivar uma maior orientação para a produção de etanol, em detrimento da produção de açúcar.
Referente à Índia, um dos nossos contatos mais valiosos na região prevê que a volatilidade do mercado em 2024 superará a de 2023, que teve uma volatilidade anualizada média de 29.54%. Adicionalmente, há uma expectativa de que a Índia não participará significativamente no comércio internacional de açúcar, tanto na importação quanto na exportação, no futuro próximo.
Assim, os ingredientes que temos para o bolo são: a) a safra do Centro-Sul entre 590-600 milhões de toneladas; b) a Índia fora do mercado; c) o Brasil produzindo mais açúcar; d) o hidratado sem forças para recuperar; e) o mercado de milho fraco (mais hidratado a caminho); f) o mercado de energia anêmico de dar dó. No contraponto, temos os fundos (sempre eles) que caso resolvem reconstruir uma posição comprada no mercado futuro, poderão elevar os preços rapidamente, em especial se considerarmos que as usinas já devem ter fixado próximo de 70% (estamos trabalhando nos números) da safra 24/25. Não esqueça de dar atenção à gestão de risco.
E, por falar nisso, veja que coisa interessante: desconfiado de que o mercado estava realmente exagerando no último bimestre de 2023, imagine que no dia 7 de novembro você tivesse aproveitado a alta do açúcar em NY, quando o preço bateu 28.14 centavos de dólar por libra-peso, e consultasse seu comitê de risco na empresa para comprar US$ 100,000 equivalentes em puts (opções de venda) ao preço de exercício de 24 centavos de dólar por libra-peso, com vencimento para março/24.
Certamente você iria encontrar resistências dentro do comitê porque, afinal de contas, com o mercado negociando a 28 centavos de dólar por libra-peso “é óbvio que estamos caminhando para acima dos 30 centavos de dólar por libra-peso, só não vê quem não quer”, seria um dos prováveis argumentos contra sua estratégia.
Se você tivesse sucesso em convencer seus pares no comitê, teria comprado 692 lotes da tal put protegendo pouco mais de 35 mil de toneladas de açúcar. Sete semanas depois, como todo mundo sabe, NY derreteu até beijar os 20.03 centavos de dólar por libra-peso. Naquele momento, os US$ 100,000 gastos valiam pouco mais de US$ 3.2 milhões. Se convertêssemos tudo em dólares por tonelada, podemos dizer que para cada US$ 1 gasto na proteção contra a queda de preços, teria retornado US$ 32 para os seus cofres.
Fonte: Archer Consulting