Por Pasquale Augusto
Em novo relatório para o setor de açúcar, a Hedgepoint Global Markets aponta para uma tendência de baixa no mercado internacional da commodity. De forma geral, o clima favorável e um La Niña mais fraco estão entre os motivos.
De acordo com Lívea Coda, analista de açúcar e etanol da Hedgepoint, apesar do foco do mercado nos problemas climáticos do Centro-Sul do Brasil, alguns fatores pesam negativamente para os preços.
“As chuvas de monções estão progredindo bem e a intensidade do La Niña foi revisada para baixo, espera-se que as condições climáticas na Tailândia melhorem. A agência Mars continua otimista em relação a produtividade da UE e esperam que a China tenha maior disponibilidade. Além desses pontos, na semana passada, o mercado finalmente percebeu que a Índia pode ser um pouco mais baixista do que a maioria dos analistas previam”, explica.
De acordo com a CNBC Newswire, a Associação das Usinas de Açúcar da Índia (Isma) propôs cotas de exportação para equilibrar o excesso de estoques. Entretanto, é improvável que o governo permita qualquer exportação na temporada 2023/24.
“Isso sugere que a Índia poderá retornar aos fluxos comerciais na temporada 24/25, conforme discutido anteriormente. Uma vez confirmado que há oferta suficiente para o desvio de etanol e a demanda doméstica, o governo poderia permitir exportações de 1,5 a 2 milhões de toneladas, o que se alinha com nossas estimativas anteriores. Essa entrevista e o otimismo com relação à disponibilidade de açúcar indiano foram os principais motivos da correção de preços na última terça, juntamente com algumas chuvas na região Centro-Sul do Brasil”, explica a analista.
Dessa maneira, o otimismo recém-descoberto para Índia é impulsionado, em grande parte, pelas condições climáticas favoráveis, com as monções chegando na hora certa, ou até mesmo um pouco antes do previsto. “Essas chuvas oportunas forneceram água suficiente para o desenvolvimento da cana, pelo menos por enquanto”, completa Coda.
Aumento de área na Índia e piso para o açúcar
Fora essas questões, o Departamento de Agricultura e Bem-Estar dos Agricultores da Índia divulgou um aumento na área semeada de cana, de 5,5 milhões de hectares para 5,7 milhões de hectares, o que também é positivo para as expectativas de 25/26.
“É claro que, embora muitos argumentem que esses números podem não refletir a realidade, parece estranho apostar em um declínio acentuado da área quando a cana continua sendo uma das culturas mais bem remuneradas para o agricultor médio”, vê a analista.
Além disso, a maioria dos estados produtores de cana tem umidade do solo próxima ou acima da média. Em Uttar Pradesh, a menor precipitação em junho pode ter sido benéfica para reduzir a ocorrência da doença “hed-hot”. Portanto, tudo atualmente apoia a visão de exportações em 24/25. Entretanto, os preços precisam ser suficientes para cobrir a paridade das exportações.
Segundo a Hedgepoint, há duas medidas diferentes a considerar: o custo das exportações, definido pelo nível do Preço Mínimo de Venda (MSP em inglês) em 17,13 c/lb, e o Preço Doméstico Atual (PDA) em Mumbai, que está em 21,01 c/lb. Este último representa o nível de preço no qual as usinas indianas ficariam indiferentes entre vender no mercado interno ou internacional. Com uma forte demanda, um prêmio poderia ser adicionado a esses dois preços.
“À medida que o país acumula estoques e a nova temporada começa, podemos ver uma correção do preço doméstico, ajustando o nível de indiferença”, pondera. Tirando a média entre o MSP e do PDA, pode-se esperar que o nível de indiferença fique em torno de 19 c/lb sem um prêmio. Se a demanda continuar forte e um prêmio for adicionado, o nível seria de 20,15 c/lb. O que isso significa? Em nossa opinião, esse pode ser piso para o preço do açúcar durante o período mais altista, durante a temporada de entressafra brasileira quando os fluxos comerciais dependem mais do Hemisfério Norte”.
Fonte: Money Times