Por Eliane Oliveira
Mesmo com a perspectiva de perdas de alguns setores da indústria, num cenário em que o grande beneficiado seria o agronegócio, o Brasil teria ganhos de 1,43% no Produto Interno Bruto (PIB), investimentos, aumento real de salários, de exportações e de importações, se o Mercosul fizesse um acordo de livre comércio com a China. Em números absolutos, o país teria cerca de US$ 30 bilhões em divisas de 2024 a 2035.
As previsões fazem parte de um estudo do Centro Empresarial Brasil-China (CEBC), com o apoio da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), incluindo nesse cenário cláusulas relacionadas à facilitação de investimentos, mudanças regulatórias e mecanismos de cooperação tecnológica e produtiva.
A estimativa é que o agronegócio teria um ganho total de produção de US$ 14,6 bilhões. Mais de um terço seria nos segmentos de carnes suína e de aves, o equivalente a US$ 5 bilhões (ou uma expansão de 15,7%), seguido por sementes oleaginosas, pecuária, óleos e gorduras vegetais e açúcar.
Já a indústria de transformação teria perdas de US$ 6,7 bilhões na produção. Os setores mais afetados seriam têxteis, artigos de vestuário e acessórios, produtos eletrônicos, equipamentos elétricos, calçados e artefatos de couro, máquinas e equipamentos e outras manufaturas. “Ou seja, setores intensivos em trabalho ou intensivos em capital e tecnologia nos quais a China desenvolveu nítidos padrões de eficiência e competitividade internacional”, diz o estudo.
O presidente Lula já defendeu um acordo entre o bloco e a China, e o Uruguai pressiona os demais países por um entendimento — que não tem prazo para ser fechado. Um eventual acordo também traria aumento generalizado das importações. A expansão estaria fortemente concentrada nos setores da indústria de transformação. Os setores com aumento mais expressivo seriam máquinas e equipamentos, produtos eletrônicos, equipamentos elétricos, veículos e peças, artigos do vestuário e acessórios e têxteis.
Um dos autores do estudo, Renato Baumann, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, afirma que uma linha de argumentação para diminuir a resistência do setor industrial é uma tendência de que os produtos brasileiros ganhem competitividade e haja expansão das vendas para mercados como os Estados Unidos e a União Europeia.
— O importante é haver vontade política. Além disso, o acordo não deve envolver apenas o comércio, mas investimentos, por exemplo, para melhorar a infraestrutura nos países do Mercosul — ressaltou Baumann.
Fonte: O Globo