Por Edsmar Resende*
O desempenho da safra 2023/24 de soja tem movimentado o agronegócio e gerado discussões acaloradas. Movimentam-se os ânimos, os agentes e as manchetes. Mesclam-se razão e emoção.
O centro dos debates leva a duas possibilidades: haverá uma super safra, com números volumosos (considerada como uma hipótese remota)? Ou uma quebra recorde e catastrófica?
Entre esses dois cenários extremos, quero compartilhar o olhar de quem começou 2024 percorrendo os estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Rondônia, onde as impressões colhidas podem ser somadas àquelas vivenciadas nos últimos 4 anos na agricultura brasileira.
Haverá sim um impacto na safra 2023/24, porém o efeito está longe de ser uma catástrofe no quantitativo final da produção. Diante de repercussões tão discrepantes, o caminho mais sensato é estar próximo do campo e observar seus sinais.
Fica evidente que, enquanto estados como o Mato Grosso enfrentam um período de maior criticidade e impacto, projetando o recorde histórico de quebra. Outros estão retomando a patamares normais, pois viveram resultados abaixo da média nos últimos ciclos, como o Rio Grande do Sul.
Contudo, existe um segundo cenário que impressiona e não está sendo considerado: a oscilação de produtividade e resultados em uma mesma microrregião.
Enquanto alguns produtores colhem 72 sacas por hectare, outros amargam uma produção de 35 a 40 sacas, produção que, muitas vezes, não cobre o investimento feito. Outro dilema está no pós colheita. Qual cultura rotacionar na área milho, sorgo, milheto ou capim? Como proteger o solo e fomentar a atividade biológica? Quantas incertezas enfrentam os agricultores.
Fica evidente que nesse cenário é urgente o avanço de práticas e tecnologias que minimizem os impactos causados pelas mudanças climáticas e preservem o maior patrimônio agrícola: o solo.
A mudança climática é realidade e já impacta o agro, mas as projeções são ainda mais desafiadoras. O caminho, então, é nos adaptarmos e definir maneiras que nos permitam suportar as adversidades. Como?
Desenvolvendo a “Resiliência Climática”, como um driver do micro universo de uma fazenda é um passo. Isso gera oportunidades e riscos para toda a cadeia agrícola desde os agentes financeiros, a indústria de insumos e os centros de pesquisa.
Combinando ações do Plano de Neoindustrialização, Plano Nacional de Bioinsumos e Plano de Economia de Baixo Carbono que trará benefícios ao fomentar a energia verde e sustentável que passa pelo agro: biomassa, biocombustíveis e hidrogênio verde (fonte para geração de amônia que é importante para o agro e importada).
Assim, pode-se reduzir significativamente a demanda por importação de insumos agrícolas. Ter uma matriz energética mais verde. Proporcionar diferencial competitivo para indústrias tradicionais. Atitudes capazes de deixar agro ainda mais sustentável com práticas modernas e de vanguarda global.
No centro desse cenário está o agricultor com os pés sobre o solo, seu maior patrimônio, que clama por um novo olhar e tratamento.
*Advogado e sócio da gestora Tarpon 10b.
Fonte: Globo Rural