Petrobras negocia biometano com 19 fornecedores e avalia entrar no mercado de gás renovável para cumprir mandato do Combustível do Futuro

Foto: Petrobras/Divulgação

Em 9 de dezembro de 2025, a diretora de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Angélica Laureano, anunciou que a estatal mantém negociações com 19 fornecedores de biometano e avalia ingressar diretamente na produção do gás renovável. Segundo matéria publicada pela Agência Infra, a estratégia busca atender às exigências da Lei do Combustível do Futuro, que define metas de descarbonização no setor de gás natural.

Negociações da Petrobras com fornecedores de biometano

A executiva explicou que a Petrobras recebeu 90 propostas de biometano ou CGob (certificados de garantia de origem). Dessas, apenas 19 seguem em tratativas após análise técnica e comercial. A estatal aguarda a definição oficial de quando o novo mandato começará a valer, já que o percentual inicial foi revisado de 1% para 0,25% em 2026 após avaliação do Ministério de Minas e Energia (MME).

A etapa atual de negociações demonstra o cuidado da estatal em selecionar produtores capazes de garantir estabilidade de oferta. Mesmo com o volume expressivo de propostas, boa parte dos interessados ainda não possui infraestrutura suficiente para atender aos requisitos operacionais da Petrobras.

Assim, a filtragem das 90 empresas para 19 indica que a estatal prioriza qualidade, continuidade e segurança energética. Houve grande procura porque o mercado de biometano se expande rapidamente no Brasil, impulsionado por resíduos agrícolas, urbanos e industriais que podem ser convertidos em energia limpa.

No entanto, a capacidade de suprimento ainda é limitada. Para muitos especialistas, o número elevado de propostas mostra que há interesse, mas o setor ainda precisa crescer para atender volumes maiores, especialmente se o percentual de inserção aumentar nos próximos anos. A Petrobras busca garantir contratos sólidos e fornecedores com capacidade comprovada de produção de biometano.

A revisão da meta e seus impactos no mercado de gás renovável

A Lei do Combustível do Futuro determinou a obrigatoriedade de mistura de biometano no gás natural comercializado no país. O texto original previa o início com 1% já em 2026, podendo alcançar até 10% posteriormente, conforme avaliações do CNPE. Porém, após forte debate no setor, o percentual inicial foi reduzido para 0,25%, devido ao receio de impactos no preço final ao consumidor.

Mesmo assim, a Petrobras defendeu um período de transição de até três anos para que o mercado pudesse se adaptar. Segundo a estatal, seria necessário tempo para ampliar a oferta de produtores e garantir que a capacidade técnica atendesse à demanda.

Essa revisão também influencia diretamente os contratos em negociação. Alterações nas metas regulatórias afetam, por exemplo, projeções de volume, valores de investimento e garantias de suprimento. Além disso, muitos produtores ainda estudam como expandir suas plantas para atender novos requisitos de purificação e compressão, essenciais para a injeção do biometano na rede.

Petrobras avalia entrar na produção de gás renovável

Além das negociações com fornecedores, Angélica Laureano afirmou que a Petrobras avalia participar diretamente da produção de biometano. A estratégia incluiria parcerias minoritárias com empresas já atuantes no setor, replicando um modelo semelhante ao adotado pela companhia no mercado de etanol.

Segundo a diretora, esse movimento permitiria à empresa diversificar seu portfólio energético e ampliar a capacidade de atender às metas ambientais. Além disso, tornar-se produtora dá à estatal maior controle sobre custos, prazos e qualidade do gás renovável adquirido. Essa participação minoritária também reduz riscos e permite que a companhia entre no mercado sem assumir sozinha grandes investimentos iniciais.

A entrada no setor fortalece a presença da Petrobras no mercado de energia limpa e amplia sua competitividade.

A estatal estuda modelos de parceria que possam envolver:

  • Participação em unidades de produção já existentes;
  • Investimentos para expansão de novas plantas;
  • Cooperação tecnológica para melhoria de processos;
  • Sinergias logísticas entre gasodutos e polos produtores.

Esse movimento acompanha tendências globais. Grandes empresas de energia estão ampliando sua atuação em combustíveis de baixo carbono para atender a compromissos internacionais de redução de emissões.

Crescimento do mercado brasileiro de biometano

Embora promissor, o mercado nacional de biometano enfrenta desafios importantes. A produção atual ainda não supre grandes volumes, e muitos produtores operam em escala limitada. Além disso, o custo para purificar o biogás e transformá-lo em biometano ainda é elevado. Esse processo exige equipamentos específicos, monitoramento constante e infraestrutura de compressão e injeção.

A logística também representa uma barreira relevante. Muitas usinas de biometano ficam distantes das redes de gasodutos, o que aumenta custos e reduz a competitividade do produto. Por isso, a expansão desse mercado depende tanto de investimentos privados quanto de políticas públicas de incentivo.

Apesar disso, há avanços. Estados como Paraná, São Paulo e Pernambuco já ampliam incentivos para energia renovável. Além disso, grandes empresas do setor agrícola investem em unidades de produção para aproveitar resíduos de usinas sucroalcooleiras, cooperativas de agricultura e operações de grandes confinamentos.

Por que o biometano ganha força na transição energética

A adoção do biometano é considerada estratégica porque oferece múltiplos benefícios ambientais e econômicos. Ele reduz drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, aproveita resíduos que seriam descartados e contribui para a economia circular. Além disso, substitui parcialmente o gás natural de origem fóssil, diminuindo a dependência de combustíveis que geram maior impacto ambiental.

Esse combustível renovável também tem potencial para impulsionar empregos em regiões rurais e incentivar cadeias produtivas relacionadas ao agronegócio. Com o avanço da tecnologia, há expectativa de que os custos de produção diminuam nos próximos anos, tornando o biometano ainda mais competitivo.

Relevância do movimento da Petrobras para o futuro do setor

O movimento anunciado pela Petrobras em 9 de dezembro de 2025 representa muito mais do que um ajuste operacional. Ele indica uma mudança estrutural na forma como a empresa atua no mercado de gás natural e nos caminhos adotados para reduzir emissões.

A negociação com 19 fornecedores e a possibilidade de entrada direta na produção de biometano mostram que a estatal reconhece o potencial desse mercado e se prepara para liderar sua expansão.

Além disso, a postura da companhia influencia diretamente toda a cadeia produtiva. Quando a maior empresa de energia do país sinaliza interesse em uma nova tecnologia, investidores, produtores e governos tendem a seguir na mesma direção. Assim, o avanço da estatal pode acelerar a ampliação de plantas, incentivar novos projetos e estimular o surgimento de novos players.

Fonte: CPG