O tamanho do fundo diz tudo

Falta recente de recursos para a subvenção ao crédito rural gerou suspensão de linhas equalizadas — Foto: Sistema Famasul

Arnaldo Luiz Corrêa

No mercado de commodities, cada player puxa a sardinha para a sua brasa — e os fundos não fogem à regra. Em uma semana de volume notoriamente fraco, o contrato de açúcar em NY com vencimento para março/26 encerrou a sexta-feira cotado a 14.82 centavos de dólar por libra-peso, queda de 39 pontos em relação à semana anterior, equivalente a pouco mais de US$ 8 por tonelada. A curva toda, que se estende até julho de 2028, caminhou no mesmo sentido, acumulando perdas entre US$ 5 e US$ 7 por tonelada.

Os preços mais baixos, porém, dizem menos sobre os fundamentos e mais sobre o comportamento de posicionamento. Os fundos continuam aparentemente confortáveis com o risco que carregam — e semanas de liquidez reduzida costumam ser terreno fértil para ajustes táticos. É bem possível que tenham acrescentado volume às posições vendidas, aproveitando a apatia do mercado. Mas, até termos a posição consolidada, não há como saber.

O que podemos — e devemos — observar é um padrão histórico que merece atenção. O último relatório disponível, de 28 de outubro, mostrou os fundos vendidos em 196,117 contratos (quase 10 milhões de toneladas de açúcar equivalentes), correspondendo a 22% da posição em aberto total. Trata-se de um patamar elevado, raro, e que historicamente tem funcionado como uma espécie de limite natural de saturação.

E aqui está o ponto: toda vez que os fundos chegam perto desse nível de 20-22% da posição em aberto total, o mercado assiste a um processo de reversão. Essa reversão pode ocorrer via redução da posição (seja comprada, seja vendida) ou por uma virada completa de mão. Mas o denominador comum é sempre o mesmo: uma inflexão importante nos preços.

Em novembro de 2023 tivemos o caso mais emblemático: naquele momento, os fundos estavam comprados em cerca de 190 mil contratos, também representando aproximadamente 22% da posição em aberto. O desfecho é conhecido: em 9 semanas, liquidaram praticamente tudo. A consequência foi brutal: o mercado saiu de 27,59 centavos de dólar por libra peso e mergulhou para abaixo de 21 centavos de dólar por libra peso, um colapso de mais de 650 pontos, ou 143 dólares por tonelada, para espanto das usinas otimistas e felicidade dos consumidores industriais.

Antes, em abril de 2022, a mesma história, com outra intensidade. Os fundos novamente carregavam uma posição comprada próxima de 187 mil lotes, equivalendo a pouco mais de 20% da posição total. Em apenas quatro semanas, liquidaram pouco mais da metade da posição. O impacto: uma queda de quase 200 pontos. Algumas semanas mais e eles liquidaram a posição elevando a queda em 250 pontos.

Esses dois episódios não são coincidência, mas reflexos de um padrão estrutural: quando os fundos ocupam espaço demais dentro do mercado, o risco agregado sobe, e a dinâmica de gestão de portfólio exige redução da exposição. O resultado é uma mudança abrupta no fluxo de ordens — e, portanto, nos preços.

Agora, estamos novamente diante de um cenário em que os fundos detêm cerca de 22% da posição total, só que desta vez vendidos. E isso abre uma janela interessante. Se o comportamento passado servir de guia, a probabilidade maior é que vejamos algum grau de desmonte dessa venda, seja parcial ou completo.

E, como o mercado já está trabalhando em níveis deprimidos, qualquer repique de recompra tende a ter efeito relativamente maior sobre os preços, sobretudo em semanas em que a liquidez não impressiona. Em resumo: quando a participação dos fundos chega a 20% da posição total, a história nos diz que algo muda — e geralmente muda rápido.

Pode ser uma reversão de tendência, pode ser apenas um ajuste significativo. Mas dificilmente permanece tudo como está. E, para quem opera açúcar, ignorar esse tipo de sinal é o equivalente a dirigir à noite com os faróis apagados.

O cenário político brasileiro caminha para mais uma eleição presidencial marcada por escolhas que, à primeira vista, parecem repetir movimentos já testados. A insistência de um setor da direita em considerar novamente um candidato da família Bolsonaro revela menos uma estratégia renovada e mais uma dificuldade em formular alternativas competitivas para um ambiente eleitoral complexo.

Do outro lado, a possível vantagem de Lula diante desse quadro não decorre necessariamente de força própria, mas da fragilidade dos adversários, que não conseguem ampliar o debate ou apresentar projetos capazes de conquistar o eleitorado mais amplo. O resultado é um ambiente político previsível, em que a disputa corre o risco de se resolver antes mesmo de começar, não por méritos extraordinários de um lado ou de outro, mas pela incapacidade sistêmica de construir caminhos novos. O mercado apreçou o lançamento da candidatura do filho de Bolsonaro e o dólar saiu de R$ 5.2967 para R$ 5.4848, encerrando enquanto a Bolsa caiu 4.31%.

A direita brasileira mostra que o fundo do poço vem acompanhado de subsolos sucessivos, ao apostar novamente no sobrenome Bolsonaro. É comovente observar esse processo de deterioração cognitiva coletiva em que a memória recente da catástrofe simplesmente… evapora. Ninguém merece Lula pela quarta vez.

Nosso colaborador, Marcelo Moreira, aponta que o março-26 continua preservando uma resistência firme na faixa dos 15.00 centavos de dólar por libra peso. Após o fechamento de sexta-feira, o real se desvalorizou 3%, terminando o dia a 5,46 R$/US$. Esse movimento cambial pode pressionar Nova York na abertura de segunda-feira, com potencial correção entre 30 e 40 pontos. Vale atenção às oportunidades ao longo da curva do real para os próximos 12 a 18 meses. No curto prazo, o março-26 conta agora apenas com suporte mais consistente na região dos 14.00 centavos, enquanto as resistências permanecem em 14.86, 14.94, 15.18 e, por fim, 15.99 centavos de dólar por libra-peso.

Fonte: Archer Consulting