
Um estudo da Embrapa Meio Ambiente e da Unicamp aponta que tecnologias de emissão negativa — como BECCS e biochar — poderiam reduzir a intensidade de carbono do etanol brasileiro a zero ou até valores negativos. Os autores afirmam que o potencial é elevado, mas a adoção depende de novos incentivos econômicos.
O trabalho mostra que o etanol hidratado, hoje com 32,8 gCO₂e/MJ, poderia cair para 10,4 gCO₂e/MJ com BECCS aplicado à fermentação e para 15,9 gCO₂e/MJ com 1 t/ha de biochar. Em cenários que capturam CO₂ também na combustão do bagaço e da palha, as emissões chegam a –81,3 gCO₂e/MJ.
Nenhuma das mais de 300 usinas certificadas pelo RenovaBio utiliza essas tecnologias, sobretudo pelo custo: CBIOs valem cerca de US$ 20/tCO₂, enquanto o BECCS custa entre US$ 100 e US$ 200/tCO₂, e o biochar, em média, US$ 427/t. A captura na fermentação é apontada como a rota mais viável por exigir menos infraestrutura.
Mesmo sem BECCS ou biochar, o etanol já é mais competitivo em carbono do que gasolina e, em muitos cenários, que veículos elétricos carregados com a matriz média brasileira. Com tecnologias negativas, o desempenho se amplia.
O estudo indica que a falta de remuneração adequada no RenovaBio limita avanços e sugere políticas complementares, como crédito dedicado e integração ao mercado voluntário — referência usada é o crédito 45Q dos EUA, de até US$ 180/tCO₂.
O potencial de abatimento chega a 197 MtCO₂e se todas as usinas adotarem a captura completa, equivalente a 12% das emissões nacionais de 2022. O cenário mais viável — captura apenas na fermentação — permitiria cerca de 20 MtCO₂e por ano.
Os autores concluem que o Brasil tem condições de liderar combustíveis de “emissão negativa”, mas depende da criação de mecanismos que tornem essas tecnologias financeiramente competitivas.
Fonte: Compre Rural