‘Inimigo silencioso’ pode causar perdas de até 50% na cana-de-açúcar

Colheita mecanizada de cana – Crédito: Getty Image

Chamados de “inimigos silenciosos”, os nematoides estão presentes em 60% dos canaviais, segundo estudos do setor sucroalcooleiro, e podem causar perdas de 3% a 50% na produtividade da cana-de-açúcar se não forem controlados.

“É como se perdêssemos 1,7 safra de cana a cada dez anos pela ação dos nematoides”, diz a doutora paranaense em agronomia Angélica Miamoto, especialista no estudo dos vermes microscópicos.

Ela fez o alerta no segundo encontro da Plataforma Esfera, promovido no final de outubro pelo CTC (Centro de Tecnologia Canavieira) em Piracicaba (SP). O evento reuniu pesquisadores, produtores e empresas do setor para debater problemas técnicos e acelerar a busca por soluções que aumentem a produtividade da cana no Brasil.

Angélica diz que para um manejo eficiente é necessário primeiro identificar quantos e quais espécies de nematoides estão na terra por meio de análises de solo. Há dois tipos: o nematoide das galhas e o das lesões radiculares. No caso do primeiro, um único nematoide pode colocar 500 ovos e, considerando que apenas 5% sejam viáveis, serão gerados 400.000 juvenis em 120 dias.

“Como consequência, a gente tem plantas de menor porte e menor produtividade, porque esse nematoide vai se alimentar e essas galhas vão acabar obstruindo a passagem de água e de nutrientes. No momento que o nematoide entra na planta e começa a se alimentar de parte dela, ele injeta muitas toxinas nessa planta e essas toxinas modificam toda a fisiologia vegetal.”

O nematoide das lesões se reproduz numa taxa um pouco mais lenta, mas também consegue multiplicar a sua população rapidamente durante o tempo que a cana é cultivada. Ele causa lesão na raiz e abre muitas portas para entrada de outros fungos e bactérias. A consequência, diz, também é uma planta de menor porte, muitas vezes falha de estande e perda de produtividade.

Controle

Para controle dos nematoides, a especialista recomenda monitoramento constante ao longo dos anos de vida da planta e análises em laboratório de raízes jovens e vivas da cana para estimar a população e as espécies.

Quando a cana já está estabelecida, podem ser aplicados nematicidas biológicos, mas não há muitos estudos sobre a real eficácia. A melhor janela para a luta contra o nematoide, diz Angélica, é na renovação do canavial. É preciso antes diagnosticar quais nematoides estão na área, fazer a rotação com uma planta de cobertura como a crotalária que não multiplique nematoide e destruir as soqueiras, porque restos da cultura podem eventualmente abrigar alguns indivíduos.

Os biológicos são o carro-chefe no controle, mas devem ser usados integrados com os outros três pilares: químico, físico e genético. O químico atua como efeito de choque, entrando em contato com o nematoide e matando imediatamente, mas tem um efeito residual, que normalmente dura de 20 a 35 dias, ou seja, não protege a planta durante todo o ciclo da cultura. Já os biológicos atuam por mais tempo, mas demandam paciência porque é preciso construir o perfil microbiológico do solo.

Ela explica que não há materiais resistentes a nematoides. As cultivares com mais tolerância são as mais indicadas, mas o fundamental é cuidar antes da qualidade do solo.

“Um solo bem nutrido, bem manejado e principalmente com bastante teor de matéria orgânica é um solo que tem capacidade de proporcionar melhor desenvolvimento para a planta e planta bem nutrida é capaz de tolerar nematoides”, destaca.

Segundo Angélica, o produtor não deve se assustar caso o manejo na primeira safra não resulte em redução da população de nematoides.

“Isso é até normal. O que precisa ser avaliado mesmo e se aumentou a produtividade da cana. Se isso ocorreu, o manejo está correto e deve ser mantido.” (Globo Rural, 5/11/25)

Por Brasil Agro

Fonte: Portal GPN