JP Morgan prevê petróleo a US$ 120 por barril com escalada de tensões entre Irã e Israel

Plataforma de petróleo (Foto: Envato Elements)

Por Tamires Vitorio

Os preços do petróleo dispararam após os ataques aéreos massivos de Israel contra o Irã, nesta sexta-feira, 13, acendendo um alerta global sobre a segurança do fornecimento de energia.

O JPMorgan, que já previa uma possível escalada em relatório divulgado na quinta-feira, 12, agora alerta que os preços podem atingir até US$ 120 por barril se o conflito se intensificar, colocando em risco a estabilidade dos mercados e do comércio global de petróleo. A alta súbita no preço do barril, que superou a marca de US$ 71,5 na sexta, reflete as crescentes preocupações com a interrupção das rotas de fornecimento no Oriente Médio, especialmente no Estreito de Ormuz, crucial para o transporte global de petróleo.

Antes do ataque, os preços do petróleo estavam em um ciclo de queda de 12,4% no ano, pressionados por expectativas de crescimento econômico mais lento e aumento dos estoques de petróleo. Mas a escalada das tensões no Oriente Médio muda rapidamente esse cenário. O JPMorgan destaca que, caso o conflito se estenda e afete outros grandes produtores, o impacto nos preços será imediato e exponencial, com uma alta de curto prazo que poderia superar os US$ 120 por barril.

Entre quedas e volatilidade

No início de 2025, os preços do petróleo estavam em uma trajetória de queda. Segundo dados do Trading Economics, o petróleo bruto havia caído cerca de 12,4% desde o começo do ano, com uma redução de US$ 8,89 por barril.

O declínio foi impulsionado por uma série de fatores, incluindo preocupações com o crescimento econômico global, aumento nos estoques de petróleo e expectativas de maior produção da Opep+, o que gerou um excesso de oferta. Essas condições pressionaram os preços para baixo, já que os mercados reagiam à diminuição da demanda devido a temores de desaceleração econômica e um aumento nas exportações de petróleo de países fora da Opep+.

Entretanto, a escalada das tensões no Oriente Médio, especialmente o conflito entre Israel e Irã, provocou uma mudança abrupta. No dia 13 de junho, pouco após os ataques, o preço do barril de petróleo atingiu US$ 71,52, representando um aumento de 5,11% em relação ao dia anterior e uma alta de 13,25% em comparação com o mês anterior.

Esse aumento foi um reflexo direto da incerteza gerada pela situação geopolítica. Com o temor de interrupções no fornecimento de petróleo e a crescente aversão ao risco nos mercados financeiros, os preços dispararam. O movimento foi amplificado pela reação dos mercados, que rapidamente ajustaram suas expectativas sobre os riscos de fornecimento de petróleo, especialmente com relação ao Estreito de Ormuz, onde cerca de 21% do petróleo mundial transita.

Estabilidade ou escalada? Embora os preços do petróleo tenham subido após o ataque israelense, as previsões para o restante de 2025 ainda são cautelosas. O JPMorgan e outros analistas sugerem que, se o conflito permanecer contido, os preços poderão se estabilizar em torno de US$ 60 a US$ 65 por barril, um intervalo mais próximo do cenário base do banco. Isso assumiria que o ataque israelense não resultaria em uma interrupção maior das rotas de fornecimento ou em um aumento significativo das hostilidades entre as duas potências. No entanto, uma escalada significativa no conflito poderia levar a uma alta mais expressiva, com os preços podendo ultrapassar os US$ 120 por barril, dependendo da gravidade das interrupções no fornecimento de petróleo.

O JPMorgan destacou que, em um cenário de risco, a resposta do mercado não seria linear, ou seja, os preços poderiam aumentar de forma exponencial, refletindo a agitação nos mercados e o pânico gerado pela possibilidade de uma guerra mais ampla no Oriente Médio. O banco também ressaltou a possibilidade de uma intensificação da volatilidade nos preços do petróleo, à medida que os mercados tentam avaliar o impacto do conflito e suas ramificações para o fornecimento global.

Como a alta no petróleo pode afetar o Brasil?

A recente alta nos preços do petróleo, impulsionada pela escalada do conflito entre Israel e Irã, pode trazer consequências significativas para a economia brasileira no longo e no médio prazo, afetando tanto os consumidores quanto os setores produtivos. O Brasil, como grande produtor e exportador de petróleo, enfrenta uma situação de dualidade: por um lado, a alta pode gerar benefícios econômicos, mas, por outro, pode acentuar desafios como a inflação e o aumento no custo de vida da população.

Inflação: a alta do petróleo tem um impacto direto nos preços dos combustíveis no Brasil. A Petrobras, que adota uma política de preços atrelada ao valor internacional do petróleo, repassa frequentemente as altas do barril para o consumidor. Com o aumento do preço do barril, o valor da gasolina e do diesel nas bombas tende a subir, impactando diretamente a inflação. O diesel, essencial para o transporte rodoviário de mercadorias, tem grande peso na formação de preços, já que cerca de 60% do frete no Brasil é realizado por caminhões, segundo dados do setor. Esse aumento nos custos de transporte acaba sendo repassado para produtos essenciais, como alimentos e remédios, exacerbando o aumento nos preços ao consumidor.

Balança comercial: como um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, o Brasil se beneficia diretamente com o aumento do preço do barril. A alta nos preços do petróleo resulta em um aumento nas receitas cambiais, o que melhora a balança comercial do país. No entanto, o Brasil também importa derivados de petróleo em alguns períodos do ano, o que pode pesar na conta de importações caso a alta seja muito acentuada, afetando negativamente o comércio exterior.

Setor produtivo e indústria: o aumento nos preços do petróleo afeta diversos setores da economia. O petróleo é matéria-prima para produtos industriais essenciais, como plásticos, fertilizantes e tecidos sintéticos. A alta no preço do petróleo encarece esses insumos, o que, por sua vez, aumenta os custos de produção e impacta os preços finais de diversos produtos. Além disso, o setor de transporte rodoviário, que depende do diesel, vê seus custos operacionais aumentarem drasticamente. O diesel representa entre 40% e 50% do custo operacional de uma viagem de caminhão, o que torna esse setor particularmente sensível às oscilações do preço do petróleo.

Política econômica e juros: a alta do petróleo, a longo prazo, é um fator inflacionário que pode obrigar o Banco Central (BC) a manter a taxa de juros elevada para controlar a inflação. A pressão sobre os preços, impulsionada pelo aumento no custo dos combustíveis e do transporte, pode afetar a política monetária, com o BC buscando restringir o crédito e controlar a demanda no mercado.

Fonte: Exame