Por Karina Sousa
A deterioração das margens dos agricultores não é o único desafio para as fabricantes de máquinas agrícolas no Brasil. Gigantes como Deere, AGCO e CNH sofrem com a feroz competição da China, que vem ganhando participação na exportação das máquinas à América Latina.
Diante da ameaça chinesa, representantes da indústria de máquinas agrícolas no Brasil deflagaram uma campanha para convencer o governo a aumentar o imposto de importação das máquinas chinesas. A Anfavea, a associação que representa as indústrias automotiva e de máquinas, se ancora no ambiente de guerra comercial insuflado pelo presidente americano Donald Trump para justificar as medidas.
Os dirigentes se preocupam com um efeito rebote das medidas protecionistas de Trump. Se o presidente americano restringir o acesso de máquinas agrícolas chinesas no território dos EUA, a oferta adicional poderia inundar a América Latina, incluindo o mercado brasileiro.
Uma situação como essa pegaria a indústria em um momento ruim, com fraca demanda. No ano passado, por exemplo, as vendas de colheitadeiras de grãos no Brasil foram as menores em uma década. “Nós não queremos aumentar a alíquota, mas apenas fazer a recomposição da taxa”, justificou Márcio Leite, presidente da Anfavea, citando a redução de 14% para cerca de 12%.
Segundo ele, as fabricantes querem aplicar o princípio da reciprocidade para endurecer o jogo com os chineses. “A China aplica um imposto de importação sobre máquinas que pode chegar a 13%. Os EUA também devem elevar as tarifas de importação ao longo dos próximos meses, o que deve trazer ainda mais pressão para outros mercados internacionais, como o Brasil”, argumentou Leite.
Em tese, um reajuste da alíquota de importação dificultaria a entrada de máquinas agrícolas chinesas no Brasil, mas não seria suficiente para tornar a indústria brasileira mais competitiva para disputar o mercado latino-americano.
Nos últimos tempos, os chineses vêm crescendo aceleradamente no Mercosul. Na Argentina, um dos maiores exportadores de milho e soja, a participação da China nas importações de máquinas agrícolas chegou a 42,9% no ano passado, um salto de quase nove pontos percentuais em relação a 2023.
O Brasil não é irrelevante na Argentina e sua participação até cresceu razoavelmente — de 4,3% para 17,8% no mesmo período —, mas a grande preocupação da indústria de máquinas é perder até mesmo essa fatia se as máquinas chinesas ficarem restritas nos Estados Unidos.
Entre os países do Mercosul, o Brasil só não fica atrás da China no Paraguai. Lá, as fabricantes brasileiras detêm 66,9% de participação nas importações de máquinas.
Dados compilados pela Anfavea mostram que, em seis dos principais mercados da América (Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Colômbia e EUA), a participação chinesa nas importações de máquinas agrícolas atingiu 12,7% em 2024, ante 7,7% um ano antes. A fatia brasileira, no mesmo período, passou de 3,5% para 4,6%.
Fonte: The AgriBiz