‘A gente errou muito’, diz CEO da GranBio sobre etanol de segunda geração

Bernardo Gradin, CEO da GranBio, no lançamento da planta da Exygen em
São Miguel dos Campos (AL) — Foto: Philipe Medeiros

Por Camila Souza Ramos

Bernardo Gradin, sócio e CEO da GranBio, reconheceu que errou no investimento em etanol de segunda geração (E2G), em conversa com a imprensa à margem do lançamento de seu novo projeto Exygen. “A gente errou muito”, afirmou.

“A principal lição nossa foi errar por acreditarmos que as tecnologias estavam prontas”, pontuou. Como primeiro empreendimento de E2G nos trópicos, a GranBio apostou em tecnologias que outras indústrias utilizavam em outras biomassas, como na indústria de madeira. Na época, outras multinacionais como DuPont e DSM também estavam apostando no E2G.

Porém, a companhia enfrentou dificuldades com a limpeza da biomassa da cana-de-açúcar trazida do campo e com o processo de quebra da lignocelulose.

Outro erro, segundo ele, foi confiar que os mandatos públicos de uso de biocombustível avançado eram o suficiente para garantir mercado. “A Europa e a Califórnia prometia m pagar um prêmio de carbono. A gente dizia que eles iam pagar prêmio, a gente pode produzir em um custo maior porque vai ter preço do prêmio de carbono”, citou.

Porém, dois anos após a construção da Bioflex, em 2015, o preço do petróleo despencou para US$ 42 o barril. Quando isso ocorreu, “o que falou mais alto na Califórnia foi a segurança energética”, disse. O prêmio sobre o carbono, que era de 20%, passou a ser 100%, tornando o biocombustível avançado não competitivo. “Essa foi outra lição: não confiar mais em mandato” afirmou. A saída, disse, é garantir um cliente que se comprometa a comprar o produto renovável antes de construir a fábrica.

A terceira lição é sobre equilíbrio financeiro. Ele reconhece que no início alavancou muito a GranBio, contratando linhas de financiamento com prazos que ele acreditava que seriam suficientes para que a operação estivesse equacionada e gerando recursos. Porém, as taxas de juros saíram de 4% da época das contratações para 15%. Para evitar que a pressão financeira volte a ser um problema no projeto da Exygen, os recursos dos investimentos virão basicamente de capital dos acionistas.

A última lição tem a ver com “a vaidade do empresário, que acha que vai dar certo mais cedo”, afirmou. Em sua visão, faltou à GranBio começar a produção de E2G em escala piloto, para testar a tecnologia, antes de partir para um investimento bilionário – na época, a companhia investiu R$ 1 bilhão. ” Tem o risco de engenharia para que aquela tecnologia funcione em escala. A gente menosprezou esse risco”, afirmou.

Segundo ele, agora a GranBio está fazendo diferente. A empresa reformou as peneiras na destilaria, investiu para aumentar um pouco a capacidade de destilação e vai continuar investindo na ampliação da planta. “Uma lição fundamental hoje na GranBio é não pular etapa na escala.”

A companhia já começou a aplicar essa lógica na planta que está construindo nos EUA de combustível sustentável de aviação (SAF) a partir de biomassa. Ainda segundo Gradin, o ambiente regulatório no Brasil também é muito mais favorável agora, com a aprovação da lei do Combustível do Futuro e de mudanças no mercado de gás natural.

Ainda assim, a GranBio continuará com a possibilidade de produção do E2G na planta de Alagoas. Segundo ele, o produto só compensa financeiramente quando seu preço está acima de US$ 1.400 a tonelada – atualmente, está abaixo de US$ 1.000 a tonelada.

Fonte: Globo Rural