Nos últimos dois anos, oscilações globais no mercado internacional de fertilizantes e defensivos agrícolas têm impactado de forma sucessiva os custos de produção no agronegócio brasileiro. Alguns dos fatores que contribuem para este cenário estão no acirramento de conflitos geopolíticos na Europa e Oriente Médio, fretes internacionais em alta, Real em baixa frente ao Dólar americano, problemas logísticos no abastecimento doméstico de insumos e volatilidade na demanda e oferta de produtos. Buscar soluções para resolver um intricado quebra-cabeça de complexidades econômicas e sociais representa, hoje, um dos maiores desafios para o agronegócio brasileiro, principalmente no caso das empresas dedicadas a compras corporativas em grupo, como é o caso da SCA Brasil Aliança.
O atual momento e as perspectivas para o mercado de insumos agrícolas foram pautas na 8ª edição da série de Lives “Conexão SCA Brasil”, realizada nesta segunda-feira (21/10). O programa, que teve transmissão ao vivo no YouTube e Linkedln, contou com a participação dos responsáveis pela negociação e inteligência de suprimentos de fertilizantes e de defensivos da SCA Brasil Aliança, Marcelo Soto e Diego Lopes e, como convidado especial, do analista de inteligência de mercado da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza.
Na abertura da Live, os especialistas explicaram como as turbulências geopolíticas têm impactado diretamente o custo de importação de fertilizantes e defensivos adquiridos pelo Brasil e por que a dependência externa por alguns insumos alcança 85%. Diego Lopes abordou a questão dos fretes e do câmbio.
“Há impactos nos defensivos agrícolas que são importados da China e Índia cuja rota passava pelo Mar Vermelho. Com os recentes ataques marítimos naquela região, o prazo para a entrega final dos insumos, que em média era de 30 dias, hoje praticamente dobrou. Há outro ponto importante a ser considerado nos próximos meses: os efeitos das eleições nos Estados Unidos, o que deve fortalecer o Dólar, caso ocorra uma vitória do candidato republicano”, avaliou Lopes.
Segundo dados da Agrinvest Commodities, antes da pandemia da Covid, em 2020, o embarque de fertilizantes da Rússia para o Brasil custava, em média, 23 dólares por tonelada. Dois anos depois, com a invasão russa no território ucraniano, o preço do mesmo frete saltou para 100 dólares por tonelada. “Isso encareceu muito a nossa logística para fertilizantes, pois o Brasil depende em grande parte do fornecimento russo”, pontuou Jeferson Souza.
Para Marcelo Soto, apesar das guerras na Europa e Oriente Médio não arrefecerem, o mercado de nacional de insumos agrícolas tem apresentado certa estabilidade de preços. “Em contato com os fornecedores, nossa percepção é de que o mercado já precificou esses riscos. A preocupação agora são fatos novos que perturbem ainda mais este cenário já complexo, como o conflito entre Irã e Israel”, avaliou o executivo.
Para Jeferson Souza, as hostilidades no Oriente Médio não têm se refletido de maneira significativa no setor de fertilizantes e defensivos. Entretanto, o executivo ponderou que desde 2021, com o início das tensões entre Ucrânia e Rússia, há uma divisão no mercado internacional. “Globalmente, criou-se uma divisão entre países sancionados e não sancionados. Ou seja, existem empresas que não negociam a aquisição de fertilizantes com países envolvidos em conflitos, como a Rússia, o Irã e a Bielorrússia”, explica Souza.
EUA vs China
As consequências da guerra comercial entre Estados Unidos e China para o mercado de insumos agrícolas no Brasil também foi objeto de análise. Para o analista de inteligência de mercado da Agrinvest Commodities o maior ponto desta discussão não envolve fertilizante ou defensivos, mas principalmente a soja.
Aproximadamente 43% dos fertilizantes consumidos no Brasil são destinados à cultura da soja. “Tensões entre os americanos e chineses têm desdobramentos no mercado deste produto, que é o maior consumidor de fertilizantes. Não chegam, porém, a impactar diretamente os preços do nitrogênio, fósforo e potássio no País”, avaliou o especialista.
Plano Nacional de Fertilizantes
O Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), implementado no Brasil em 2022 como forma de reduzir a dependência externa de insumos dos atuais 85% para 50% em 2050, também mereceu destaque na 8ª edição da Live “Conexão SCA Brasil”. O executivo da Agrinvest Commodities ressaltou a importância do programa no médio e longo prazo, lembrando que a consolidação da indústria nacional de fertilizantes ainda exigirá tempo.
“Observando os números absolutos, a produção nacional caiu em 2023 e continuará em queda este ano. Ou seja, não há um crescimento interno na oferta. Ademais, em 2024 o Brasil não terá produção significativa de ureia, um importante nutriente para a agricultura, devido a uma questão envolvendo preço e custo de produção”, explicou Souza.
Sobre projetos em andamento para fortalecer a fabricação de insumos no País, o executivo mencionou a exploração de fosfato na Serra do Salitre (MG) e a de minério de potássio no município de Autazes (AM). “Não precisamos ver o Brasil totalmente independente do mercado externo, mas de parte dele”, observou.
Em termos de produção nacional, Marcelo Soto sublinhou que os fornecedores de insumos têm investido na fabricação de fertilizantes fosfatados de baixa concentração. “O insumo nitrogenado apresenta um custo muito alto para se produzir”, pontuou. De modo geral, na opinião dos especialistas, a competitividade da indústria brasileira de fertilizantes e defensivos ainda é baixa, mas deve melhorar nos próximos anos.
Decisões de compra
Diante das incertezas, o head de estratégia e inteligência de suprimentos para defensivos da SCA Brasil Aliança avalia o ‘timing’ certo para o produtor adquirir insumos agrícolas. “Apesar de ouvir grande parte da indústria sinalizando alta nos preços, entre 5 a 10% em Dólar, não acredito em impactos de custos na aquisição de defensivos para a próxima safra, uma vez que os custos das moléculas nas principais origens não refletem tal cenário. Além disso, a demanda global permanece desaquecida, com recessão econômica, problemas climáticos, preços baixos das commodities e baixa demanda das culturas de cereais”, afirmou Lopes.
Para o executico, clientes que planejarem bem seus processos de compra e usarem a forte concorrência do mercado a seu favor, poderão extrair resultados positivos nas negociações. “Novas empresas entrantes, queda de patentes de produtos exclusivos, novos registros e substituições de moléculas deverão contribuir para o atingimento de menores custos por hectare”.
Just in time
Com tantas complexidades e variáveis para o produtor tomar decisão de compra, Lopes não acredita que o mercado de insumos agrícolas evolua para uma situação de operações “just in time”, com entregas mais rápidas, assim como acontece em outros setores da indústria brasileira. Para o executivo, os elos da cadeia não são integrados como deveriam ser, com produtores se posicionando muito próximo às entregas, enquanto a indústria e os canais de distribuição atuam sob a estratégia de inventário mínimo.
“Acredito que o modelo de trabalho do nosso grupo de compras ajuda bastante nesse sentido, uma vez que trabalhamos fortemente no levantamento e consolidação da demanda por insumos de nossos clientes, bem como na negociação e fechamento em conjunto, resultando em melhor previsibilidade, tão desejada pela indústria. Isso acaba se refletindo em nosso índice de não conformidade nas entregas, praticamente próximo a zero”, concluiu Lopes.
Além do YouTube e Linkedln, acompanhe a séries de Lives “Conexão SCA Brasil” também no Spotify.