Datagro descarta morte súbita em 2024-2025, enquanto fundos mudam aposta; ‘fundamentos passam do açúcar por Brasil e Índia’

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Por Pasquale Augusto

O presidente da Datagro, Plínio Nastari, destrinchou o cenário e desafios do mercado durante a 24ª Conferência Internacional Datagro sobre Açúcar e Etanol, no painel “Brasil: Safra 2024-2025 e perspectivas para 2025-2026”.

Entre as principais conclusões feitas, estão questões como:

  • impactos dos incêndios na safra 24-25, que deve encerrar mais cedo;
  • seca impactou o desenvolvimento da cana do Centro-Sul (CS) para 25-26, indicando menor disponibilidade no 1º terço da safra;
  • baixa qualidade deve afetar produção de açúcar no CS em 24-25, que pode ficar abaixo de 39 milhões de toneladas
  • produção de etanol em 24/25 deve ficar em linha com 23-24, com mix decepcionante do açúcar e maior produção de etanol de milho
  • balanço global e trade flow de açúcar bruto indicam mercado apertado, com isso, os fundos de hedge finalmente se voltaram ao lado comprado
  • fundamentos globais se sustentam pelas condições climáticas do Brasil e pela decisão do governo da Índia de permitir que os produtores determinem a mistura de açúcar e etanol sem abrir a perspectiva de autorização de exportação de açúcar pelo país
  • Tailândia pode expandir o plantio de cana devido aos preços favoráveis em comparação a mandioca
  • consumo mundial de açúcar cresce 1,8 a 2 milhões de toneladas métricas (mmt) por ano. O preço precisa ser suficiente para estimular a expansão da produção
  • perspectivas de novos mercados para etanol depende da materialização de investimentos em novas rotas
  • vantagem forte do Brasil permanece a de produzir etanol com baixa intensidade de carbono, certificado individualmente por produtor

Projeções para 24-25

Apesar da forte seca e dos incêndios, 46,5% das usinas do Centro-Sul planejam encerrar as operações de moagem da safra 24-25 durante a 2ª quinzena de novembro, totalizando quase 75%, o que é considerado dentro dos padrões da indústria, embora mais cedo do que a safra 23-24, considerada espetacular.

Com isso, a Datagro descarta a possibilidade de morte súbita da safra. Para 24-25 no Centro-Sul, a consultoria agrícola projeta 593 milhões de toneladas de cana, uma queda de 9,4% ante o último ciclo.

Quanto ao etanol feito a partir do milho, a produção deve crescer 27,4%, para 7,98 milhões de toneladas. Já a perspectiva para o hidratado e anidro é de 21,27 (+3,8%) e 11,91 (-9,1%) milhões de toneladas, respectivamente.

Novo cenário de preços para o açúcar?

O presidente da Datagro ressaltou a elevação dos preços do açúcar em NY, que registrou a maior alta semanal desde outubro de 2010 há uma semana, com o sentimento de alta construído pela deterioração das perspectivas sobre a safra de cana do Brasil e o mix de açúcar baixo. A formação passa a ser influenciada pelo preço de paridade do etanol na Índia, de US$ 22,20.

Segundo a Datagro, pela sétima semana seguida, os fundos de hedge comparam em todo complexo agrícola, com o aumento dos preços do dólar, os estímulos econômicos da China, o clima no Brasil e os riscos geopolíticos no Oriente Médio, os fundos atingiram a menor posição de venda líquida em 11 meses.

O mercado de etanol da Índia e menos açúcar para exportação

A Índia elevou sua taxa de mistura de etanol na gasolina de 12,7% para 15,8%, um recorde histórico. No país, o consumo de gasolina segue aquecido, e deve atingir cerca de 54 bilhões de litros em 2025, requerendo 10,8 bilhões de litros de etanol para mistura.

O país passou a oferecer mais etanol para empresas de petróleo (OMCs), com as companhias requisitando uma oferta de 9,16 bilhões de litros, que foi superada pela oferta de 9,7 bilhões de litros pelas usinas produtoras.

Sendo assim, caso as ofertas sejam aceitas pelas OMCs, a taxa de mistura de etanol pode superar 18,1% em 24/25, muito próximo à meta de 20% em 2025.

Mais etanol na gasolina resultará em menos açúcar para exportação pelo país, reduzindo a produção da Índia na safra 24/25 para 29,42 milhões de toneladas, considerando que o país exporte cerca de 1 milhão de toneladas de açúcar.

O mercado brasileiro de açúcar e etanol

De acordo com a consultoria agrícola, as vendas pelas usinas do CS seguem elevadas, enquanto os estoques permanecem estáveis em relação ao ano anterior, mas em menos dias de consumo. Enquanto isso, os preços do etanol ao produtor apresentaram uma ligeira melhora.

Já os preços do etanol hidratado ao consumidor estão mais altos frente ao ano passado, tendo subido 4,1% na comparação mensal e 17,7% em relação ao mesmo período do ano passado. O anidro, por sua vez, caiu 5,2% no mês, apesar de 12,8% mais alto em relação a 2023. Para a Datagro, a oferta de CBios será suficiente para atender às metas de 2024 e 2025.

Outro ponto destacado pela Datagro ficou para o aumento de custos na safra 24/25, com o custo de produção agroindustrial 9,1% maior que 23/24, impactado principalmente pela perda de produtividade agrícola e aumento de fatores de custo como diesel e irrigação. Apesar desse aumento, o Brasil segue competitivo no mercado mundial. A consultoria projeta o 3º ano seguido de déficit no balanço mundial de açúcar, com déficit de 3,08 milhões de toneladas em 24/25.

Fonte: Money Times