Incêndios alertam setor sucroenergético para novos desafios impostos pelas mudanças climáticas

Os incêndios que atingiram 400 mil hectares de cana-de-açúcar no Centro-Sul durante os últimos dois meses geraram prejuízos milionários para os produtores na safra 2024-2025.  Considerando que fatores climáticos têm um papel preponderante na produção agrícola, o cenário atual, marcado pelo maior déficit hídrico da história do setor sucroenergético brasileiro, provoca uma grande preocupação.

O CEO da SCA BrasilMartinho Seiiti Ono, é bastante enfático: “Diante da irregularidade no regime de chuvas e altas temperaturas mais constantes em razão das mudanças climáticas, o agricultor precisa investir urgentemente em técnicas mais avançadas de manejo e tecnologias voltadas à produtividade”. O especialista avaliou como graves as consequências dos incêndios e da seca para a safra 2024-2025 e para a próxima safra de cana-de-açúcar, durante a sétima edição da série de lives “Conexão SCA Brasil”.

Transmitido nesta terça-feira (17/09) simultaneamente no LinkedIn e no Youtube da SCA Brasil, o programa teve a participação de dois convidados especiais: o economista do Pecege Consultoria e Projetos, Haroldo Torres, também especializado em análises econômicas e projeções para a compreensão do mercado, e a especialista em Inteligência de Mercado do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Natália Calori.

Em julho, a quinta edição da série “Conexão SCA Brasil” abordou os efeitos iniciais das estiagens prolongadas e do aumento de temperatura para a redução de produtividade nos canaviais do Centro-Sul. “Depois de 60 dias, o clima seco se manteve e a situação agravou-se por causa dos incêndios. Projetando um índice médio de Tonelada de Cana por Hectare (TCH) variando de 65 a 69 de produtividade, para o restante da área disponível, resultará em uma moagem total para o Centro-Sul de 600 a 605 milhões de toneladas no ciclo 2024-2025.”

Segundo Natália Calori, a safra 2024-2025 apresenta cenário climático desafiador, com o pior déficit hídrico acumulado dos últimos 25 anos: “Apuramos que no período atual contabilizou-se a ausência de 1.072 milímetros (mm) nos canaviais, volume maior do que o déficit observado em 2020-2021, que foi de 1.026 mm”. 

A executiva também comentou a distribuição irregular de chuvas em estados do Centro-Sul, explicando que algumas regiões de São Paulo, Goiás e Minas Gerais ainda apresentam melhora em produtividade, mas o cenário geral, especialmente no Oeste de São Paulo, é bastante crítico. “Desde o início da safra, percebe-se uma quebra acumulada de 7,2% na produtividade agrícola do setor”, pontua.

Outro indicador bastante explorado pelos especialistas durante a série “Conexão SCA Brasil” foi a retração de 2% na pureza do caldo da cana, ou seja, o líquido que dá origem ao etanol, açúcar e outros produtos sucroenergéticos.

Mesmo admitindo uma redução na produtividade nos canaviais, o economista Haroldo Torres, do Pecege, lembrou o protagonismo do Brasil no mercado global de açúcar: “Em geral, no período de janeiro a agosto dos últimos anos, o Brasil tem exportado, em média, 16,6 milhões de toneladas de açúcar. Nos primeiros seis meses de 2024 o país já comercializou 23,35 milhões de toneladas no mercado exterior. Nosso último recorde foi em 2016, quando vendemos 18,27 de toneladas. Portanto, neste ano foram exportadas 6,7 milhões de toneladas de açúcar a mais do que a média histórica”, observou.

Impactos

Para a safra 2025-2026, projetamos em consequência do longo período de estiagem e dos incêndios, quebra de produtividade, que poderá ser atenuada se as condições climáticas forem favoráveis no verão. “Em algumas usinas será necessário refazer o trato cultural no solo, operação que pode custar R$ 4.000,00 por hectare. Considerando que os canaviais queimados já estavam indiretamente no estágio de corte mais elevado, ou seja, acima do quarto, esta manutenção pode ser de até R$ 15.000,00 por hectare”, conclui Torres.

Assista a sétima edição da série de lives “Conexão SCA Brasil”:

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