Brasil não precisa de independência em adubo, diz Eurochem

Gustavo Horbach, da Eurochem — Foto: Nilani Goettems/Valor

Por Kariny Leal

O Brasil não precisa ser totalmente independente do exterior em termos de fertilizantes para garantir a soberania nacional, na visão de Gustavo Horbach, presidente da Eurochem na América do Sul. Em conversa com o Valor ontem, durante o Rio+Agro, fórum para o desenvolvimento agroambiental sustentável, o executivo afirmou que é importante que o país aprofunde os estudos do subsolo para garantir o desenvolvimento do setor.

“Nenhum país é 100% independente [de importação de fertilizantes]. Não é necessária total independência para garantir soberania. É necessária produção local que garanta continuidade. A porcentagem dessa produção local é uma discussão que não cabe neste momento, precisamos de investimentos”, afirmou o executivo, que participou de painel sobre o mercado de fertilizantes no evento.

Para Horbach, o governo tem viabilizado esse avanço com o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), mas a iniciativa privada precisa garantir os investimentos. “O programa do governo é ambicioso para reduzir a dependência nacional do produto estrangeiro e foi estrategicamente colocado sob o ministério que é comandado pelo vice-presidente [Geraldo Alckmin]”.

O PNF foi aprovado pelo governo federal em novembro de 2023 e prevê a reativação de fábricas, incentivos a novas plantas e investimento na produção de nutrientes sustentáveis. Cerca de 87% dos fertilizantes usados pela agricultura brasileira são importados. A meta do plano de fertilizantes é chegar até 2050 com uma produção nacional capaz de atender entre 45% e 50% da demanda interna.

A Eurochem, empresa de capital suíço, está no Brasil desde 2016 e já investiu US$ 2,5 bilhões no país. A companhia tem 22 fábricas misturadoras e um complexo mineroindustrial que, segundo Horbach, está alinhado às demandas do PNF: “O Brasil é o local para se estar enquanto empresa produtora de fertilizantes”.

A Atlas Agro também tem intensificado os investimentos no Brasil. O diretor de operações da companhia, Rodrigo Santana, esteve ao lado de Horbach no painel sobre fertilizantes. Segundo ele, a empresa irá construir a primeira fábrica de fertilizantes nitrogenados a partir de hidrogênio verde. Com investimento de R$ 4,3 bilhões, a unidade será construída em Uberaba (MG) e utilizará uma matriz 100% limpa, a partir de fontes renováveis como solar e eólica, para produção do hidrogênio verde, amônia verde e os fertilizantes nitrogenados com zero carbono.

A unidade terá capacidade de produção de 500 mil toneladas por ano de fertilizantes para atender os clientes da região. “A Atlas foi fundada há três anos para tratar o problema da descarbonização da indústria de fertilizantes”, disse Santana.

Também há indústrias brasileiras apostando no setor. No início de julho, a mineira Minas Port anunciou o investimento de R$ 200 milhões, com recursos próprios, em uma misturadora dentro do Porto do Açu, no norte fluminense. “A misturadora de fertilizantes que será implantada representa um passo significativo para o crescimento sustentável da cadeia do agronegócio”, disse Marcelo Marra, presidente da Minas Port, em resposta ao Valor.

Segundo ele, “a misturadora está projetada com uma capacidade nominal para movimentar 850 mil toneladas por ano. O volume inclui todas as etapas do processo: armazenagem, mistura e envase dos fertilizantes. Com essa capacidade, estaremos bem posicionados para atender à demanda do mercado de forma diferenciada.”

Questionado sobre eventuais apoios ao projeto, Marra disse que está explorando os potenciais incentivos fiscais que a atividade pode ter. A operação da misturadora será focada no mercado interno. “Em um primeiro momento, nosso projeto visa atender nossos clientes com custo mais competitivo, trazendo redução para toda cadeia”, disse.

Fonte: Globo Rural